O recém-lançado GLA — Salão de Genebra, em março — é o mais novo e último modelo da Mercedes-Benz a integrar a sua família de veículos compactos com tração dianteira composta também pelos Classe A, Classe B e Classe CLA. Esse modelo é muito importante porque será fabricado, juntamente com o Classe C, na nova unidade fabril da Mercedes em Iracemápolis, no interior de São Paulo, em 2016.
Mas mais importante que isso, ele faz parte da estratégia da Mercedes para atrair um público mais jovem e dinâmico e, juntamente com os outros modelos da mesma família, buscar novos consumidores para a marca que enfrenta uma concorrência acirradíssima da BMW e da Audi.
Já faz um tempo que a Mercedes perdeu a liderança do segmento premium para a a BMW, que está numa ofensiva enorme de novos lançamentos em vários segmentos, inclusive de tração dianteira, numa corrida insana para manter a liderança. A Audi também anda acertando a mão com sua linha Q e o sucesso do A3 sedã. E no caso do Brasil, onde os suves são muito bem vistos, o X1 e o Q3 também serão produzidos aqui.
A Mercedes espera que essa família de modelos com tração dianteira corresponda a 50% do total de suas vendas. Ou seja, o futuro da Mercedes está nesse modelos.
E falando em suves, a Mercedes assim se refere ao GLA, que é o quinto elemento da sua família de utilitários esporte (utilitário de lazer, não de trabalho), juntamente com GLK, ML, GL e G. No entanto, não acho que o GLA seja um suve na essência, vejo-o como um Classe A anabolizado.
Internamente no Ae nos referimos a carros com mais de 1.500 m de altura como “quase-morri”, termo criado pelo Bob quando fizemos um passeio off-road de picapes e SUVs em 2009. Foram tantos “quase-morri” reunidos nesse passeio que o termo pegou e acabamos usando ele ao nos referirmos a suves e outros carros mais altos como o CrossFox e o EcoSport, por se inclinarem mais nas curvas devido a elevada altura e não terem a agilidade de um sedã, hatchback ou perua — uma brincadeira entre autoentusiastas, claro.
No “critério” Ae o GLA, que tem 1.494 mm de altura não é um “quase-morri” e assim não é um suve. Visualmente é fácil de entendê-lo como um hatch. Com comprimento de 4.417 mm, largura de 1.804 mm sem contar os espelhos, altura de 1.494 mm e entreeixos de 2.699 mm, ele é pouca coisa maior que o irmão Classe A, mais 125 mm no comprimento, mais 24 mm na largura, mais 6,1 cm na altura e o mesmo entreeixos. Isso se reflete no espaço interno, que não é amplo como esperado em um suve. Mas mercadologicamente é mais interessante chamá-lo de suve, pois os clientes vêem mais valor nisso hoje.
O X1 é mais comprido, entreeixos maior e um pouco mais alto, tendo uma aspecto mais para o lado de uma perua, e o Q3 é pouca coisa mais curto, mais largo e o mais alto dos três, com um apelo mais de suve. O GLA também tem o estilo mais esportivo. E essa combinação de versatilidade com esportividade é muito bem vista. Se eu fosse comprar um carro para a família a escolha seria o X1, para me sentir superior seria um Q3, e se fosse para me agradar, seria um GLA. Isso do ponto de vista de estilo. E aí eu coloco o maior diferenciador do GLA.
Tentando achar um bom resultado para uma equação que contém variáveis como economia, desempenho e custo, a Mercedes optou por lançar no Brasil o GLA com o já conhecido motor 4-cilindros 1,6-litro turbo com bloco e cabeçote de alumínio, duplo comando de válvulas de acionamento por corrente, quatro válvulas por cilindro e injeção direta que gera de 156 cv a 5.300 rpm e 25,5 m·kgf de 1.250 a 4.000 rpm. A caixa de marchas é a também conhecida 7G-DCT, robotizada de 7 marchas e dupla embreagem. Esse conjunto é exatamente o mesmo dos Classe A, B e CLA, e apresenta um bom desempenho.
Não há alavanca seletora no console, e sim na coluna de direção e as trocas de marcha em modo manual só são feitas pelas borboletas. Há três modos de trocas de marcha, Manual, Sport e Eco. Normalmente, ou toda vez em que se liga o carro, o modo ativado é o Eco., que faz as trocas de marchas em rotações menores. O modo Sport continua com trocas automáticas porém em rotações mais altas, 6.100 rpm. E no manual as trocas pelas borboletas, porém em acelerações fortes caso a borboleta não seja acionada, as marchas são passadas automaticamente.
O botão para seleção do modo de condução fica muito escondido, como se não fosse feito para ser usado. E de fato realmente ele nem precisaria existir, pois a eletrônica do sistema entende a condução do motorista e se ajusta entre Sport e Eco. E quando quiser usar o modo manual basta usar as borboletas. A natureza mais esportiva tanto do GLA quanto do CLA mereceria algo mais empolgante com pelo menos 180 cv e o zero-a-100 km/h, que é de 8,8 s, poderia estar mais próximo do 7 s. Mas o funcionamento desse trem de força é suave e confortável. O sistema desliga-liga motor nas paraas, de série, também tem um funcionamento bem suave.
A suspensão, McPherson na dianteira e multibraço na traseira, de acordo com a Mercedes tem calibração mais voltada para o conforto. No entanto, as enormes rodas de 18 polegadas com pneus 235/50 comprometem o seu comportamento em piso irregular, principalmente pelos pneus serem runflat, do tipo que rodam vazios, de menos flexibilidade.
A estabilidade, apesar da suspensão elevada com altura do solo de 134 mm, é muito boa, assim como o ajuste da direção com assistência elétrica de assistência regressiva com o aumento da velocidade, e também sistema automático de contra-esterço em casos de emergência, parte do sistema de controle de estabilidade.
O interior do GLA é muito agradável. A posição de dirigir é quase normal, ou seja, não é muito alta. Tem um ambiente mais jovem com com bancos bem esportivos e revestimento mesclando tecido e couro e painel com apliques imitando alumínio. O conjunto de mostradores é menos formal que nos concorrentes, numa combinação de cinza e branco com aros cromados.
As saídas de ar imitando turbinas são muito funcionais. A tela do sistema de entretenimento e navegação é destacada com no Classe A e CLA. Muitos não gostam, mas eu acho uma solução diferente e elegante. O seletor de comando no console central não é nada ergonômico. De certa forma acredito que a Mercedes está num bom caminho, mas algumas coisas ainda são antiquadas, como, por exemplo as teclas de discagem de telefone no painel, o controle do limitador de velocidade por alavanca, a própria interface do sistema de entretenimento e uma certa falta de emoção. Se a função desses novos modelos é trazer novos clientes, a marca poderia inovar mais.
Se esportividade não é o destaque do GLA, a segurança é passiva. O GLA recebeu cinco estrelas no Euro NCAP. Todos os carros nesse segmento têm 5 estrelas, mas a Mercedes alega que as notas em cada quesito são melhores que nos concorrentes. Então é algo como se fosse 5 estrelas com louvor.
Além de 7 bolsas infláveis, incluindo a de joelhos para o motorista e toda a sopa de letrinhas nas assistências a frenagem e estabilidade, o GLA ainda trás o Attention Assist que monitora o nível de cansaço ou sonolência do motorista. O sistema monitora uma série de elementos, como, por exemplo a ocorrência de pequenos desvios na trajetória e as correções feitas pelo motorista, acionamento dos freios e acionamento de outros sistemas e, comparando-os com padrões pré-estabelecidos, determina o comportamento do motorista.
Caso sistema entenda que o padrão é de alguém sonolento ele emite sinal sonoro e luminoso no painel e vibrações no volante, além de sugerir que o motorista faça uma parada para descanso. Mas como isso não dá para mostrar para o vizinho fica difícil atribuir algum valor mesmo que o atributo segurança esteja começando a fazer mais sentido para os brasileiros.
O GLA 200 está disponível em três versões: Advance, Vision e Black Edition que trazem um excelente nível de equipamentos de série como volante multifuncional forrado em couro, controle de velocidade de cruzeiro, limitador de velocidade, sistema de estacionamento automático, rodas de 18 polegadas e faróis bi-xenônio, entre muitos outros.
As versões GLA 200 Vision e Vision Black Edition adicionam teto solar panorâmico, rodas de 18 polegadas com desenho exclusivo, banco do motorista oferece ajustes elétricos com memória, ar-condicionado com duas zonas e sistema de navegação (com português de Portugal, raios). O Vision Black Edition é uma edição especial, com rodas e espelhos retrovisores pretos e sapatas dos pedais de alumínio com cravos de borracha.
Os preços sugeridos são: GLA 200 Advance – R$ 132.900, GLA 200 Vision – R$ 149.900 e GLA 200 Vision Black Edition – R$ 152.900.
Como um dos entraves para a entrada de novos consumidores no mundo das marcas premium é o temor de um elevado custo de manutenção, a Mercedes também lançou recentemente o programa de revisão declarada para oferecer maior transparência e mudar a essa percepção. O programa estabelece preço fixo nas revisões, que no caso do GLA são: 1ª revisão (10 mil km ou 1 ano) – R$ 600,00, 2ª revisão (20 mil km ou 2 anos) – R$ 1.250,00, 3ª revisão (30 mil km ou 3 anos) – R$ 600,00.
Outra novidade interessante é o Mercedes-Benz Service Care, um contrato de manutenção com preço fixo para até cinco revisões preventivas em que se pode escolher quantas revisões incluir. Os preços dos contratos de manutenção para o GLA são: 1ª e 2ª revisões – R$ 1.722, 1ª a 3ª revisões – R$ 2.201, 1ª a 4ª revisões – R$ 3.383, 1ª a 5ª revisões – R$ 3.813. Quanto mais revisões incluídas, maior o desconto.
As versões do GLA vendidas no Brasil apresentam um bom nível de equipamentos, segurança e conforto. Mas no quesito desempenho e entusiasmo ainda falta uma pitada de esportividade. No entanto, o GLA deve agradar muito os mais jovens e famílias jovens, pois têm no estilo e versatilidade sua grande força. Além de, é claro, o magnetismo da estrela de três pontas.
Como aproveitei o test drive de lançamento do GLK, o vídeo acabou ficando muito longo. Por isso acabei fazendo uma versão bem resumida.
PK
Fotos: autor
FICHA TÉCNICA MERCEDES-BENZ GLA 200 | |
MOTOR | |
Tipo | 4 cilindros em linha, transversal, turbo de 1,2 bar com intercooler, injeção direta, duplo comando de válvulas no cabeçote, corrente, 16 válvulas, gasolina |
Cilindrada | 1.595 cm³ |
Diâmetro x curso | 83 x 73,7 mm |
Comprimento da biela | 145 mm |
Relação biela-raio da manivela (r/l) | 0,254 |
Potência | 156 cv a 5.300 rpm |
Torque | 25,5 m·kgf de 1.250 a 4.000 rpm |
Taxa de compressão | 10,3:1 |
TRANSMISSÃO | |
Câmbio/tração | Robotizado 2-embreagens de 7 marchas/dianteira |
Relação das marchas | 1ª 3,86:1; 2ª 2,43:1; 3ª 2,91:1; 4ª 1,19:1; 5ª 0,87:1; 6ª 1,16:1; 7ª 0,94:1 |
Relação de diferencial | I 4,60:1 II 2,65:1 |
SISTEMA ELÉTRICO | |
Tensão | 12 V |
Bateria | 70 A·h |
Alternador | 2.100 W/175 A |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | McPherson, braço inferior triangular, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora |
Traseira | Multibraço, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora |
DIREÇÀO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira, assistência elétrica indexada à velocidade |
Relação de direção | 14,4:1 |
Diâmetro mínimo de curva | 11,8 m |
FREIOS | |
Dianteiros | Disco ventilado Ø 295 mm |
Traseiros | Disco Ø 295 mm |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Alumínio 7J x 18 |
Pneus | 235/50 R18 |
CARROCERIA | |
Construção | Monobloco em aço, capô de alumínio, suve 5-portas, 5 lugares, subchassi dianteiro |
AERODINÂMICA | |
Coeficiente aerodinâmico | 0,31 |
Área frontal | 2,27 m² |
Área frontal corrigida | 0,703 m² |
DIMENSÕES | |
Comprimento | 4.417 mm |
Largura sem/com espelhos | 1.804 / 2.022 mm (rebatidos 1.848 mm) |
Altura | 1.494 mm |
Distância entre-eixos | 2.699 mm |
Bitola dianteira/traseira | 1.569/ 1.560mm |
Distância mínima do solo | 134 mm (em carga máxima permitida) |
PESOS E CAPACIDADES | |
Peso em ordem de marcha | 1.435 kg |
Carga útil | 485 kg |
Tanque de combustivel | 50 litros |
Porta-malas | 421 litros (836 litros com bancos rebatidos) |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h | 8,8 segundos |
Velocidade máxima | 215 km/h (limitada eletronicamente) |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em 7ª | 50,8 km/h |
Rotação do motor a 120 km/h em 7ª | 2.360 rpm |
Rotação do motor à veloc. máx. (6ª) | 5.200 rpm |
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