Sabe aquele ditado que diz que cachorro que tem dois donos morre de fome? Bem, com carro é a mesma coisa. Não conheço nenhum casal que cuide “demais” do carro. Nenhum veículo corre o risco de ter os pneus calibrados duas vezes na mesma semana porque a mulher o fez sem saber que o marido já havia realizado essa tarefa ou que os dois verifiquem o líquido do reservatório do limpador de pára-brisa no mesmo dia — até diria que nem no mesmo mês, ano quiçá. E atire a primeira vareta de medição de óleo quem já viu uma mulher checar o nível do dito-cujo num posto de gasolina — exceto a dona do 408 prata que vos escreve.
Tenho um casal amigo que já teve intermináveis momentos de discutir a relação (os temíveis “DR”) por causa disso. Ela alega que cuida das crianças e da casa durante a semana e que carro “é tarefa de homem”. Ele se defende dizendo que anda de fretado de segunda a sexta, que quem usa o carro é ela e, além do mais, no final de semana ela o enche de tarefas domésticas, tipo trocar o courinho da torneira, a lâmpada da sala…mas não adianta. Até hoje não chegaram a uma conclusão e todo final de semana é a mesma coisa. E quem paga o pato é o coitado do carro.
Tem também aqueles casais que dividem as tarefas. Os dois usam o(s) carro(s) e o homem cuida totalmente dele(s). Na boa. Em outros a mulher somente abastece o carro e o homem cuida da manutenção. Funciona meio aos trancos e barrancos, pois o homem reclama que a mulher não avisou que a luz do óleo estava acendendo há uma semana, por exemplo. Mas o fato é que não sei de ninguém que tenha chegado diante de um advogado e alegado falta de manutenção veicular como motivo de divórcio.
Perfume – Como os dois curtimos carro, em casa cada um cuida do seu, basicamente. Claro que há exceções. Na hora da revisão, um dá carona para o outro e trocamos de veículo, ou dependendo da disponibilidade meu marido leva meu carro ou vice-versa. Mas também sei que ele tem preguiça de calibrar o estepe então eu sempre mando fazer isso. Sem drama nem cobrança. E eu sou mais flexível (leia-se preguiçosa) nas revisões. Se ultrapassa alguns quilômetros, desde que não me faça perder a garantia, não me tira o sono — o dele sim e aí sai correndo e leva meu carro na concessionária. E se vocês acham que eu faço de propósito para que ele leve o carro… bem, ele também está começando a desconfiar disso.
Mas depois eu reclamo que a concessionária quer fazer uma lista gigantesca de coisas que eu não concordo. Corto pela metade — até porque tenho o controle implacável do quê e quando foi feito — e meu marido é mais caxias. E chiei prá caramba quando ele voltou com meu carro com um perfume medonho que o convenceram a colocar quando trocaram sei lá que filtro do ar-condicionado. Carro para mim tem de ter cheiro de carro – e pronto. Dois dias com os vidros abertos e um frasco inteiro de Breeze americano para tirar aquele, digamos, aroma. E ainda rolou uma DR…
Outro problema é que moramos em São Paulo e temos de conviver com o famigerado rodízio. Há anos, meu carro tem uma cadernetinha no porta-luvas (foto abaixo) no qual anoto praticamente tudo que acontece com ele. Ele não fazia isso com o carro dele, mas depois que começamos o troca-troca de veículos, teve de aderir à minha iniciativa. Ali constam desde o abastecimento até coisas como troca de bateria, troca de palheta do limpador do pára-brisa, ou mesmo um furo de pneu (assim lembro de voltar o estepe para seu lugar, mas quem me conhece jura que sou incapaz de esquecer disso). Sempre com a data e a quilometragem do evento. Só não anoto o que é feito nas revisões na concessionária que não sou tão neurótica — bem, neste aspecto há divergências, mas não vamos entrar nesta questão agora.
Cara ou coroa? – A cadernetinha é bem simples, custa R$ 2 reais no supermercado e na espiral já deixo uma caneta, assim não tem desculpa para não anotar na hora. Nada científico, mas ajuda nas ocasiões mais estranhas. Não faz muito tempo, com o outro carro, fiquei parada logo antes de um cruzamento ao trocar a chave da ignição — entre as minhas neuroses, está a de não deixar com o manobrista aquela que permite abrir o porta-malas. Carro automático, travou completamente. Totalmente imobilizado e nem tinha como empurrar para encostar. Coloquei rapidamente o triângulo e nem sinal do pisca-alerta. Não acendia nadica de nada. Palpite mais óbvio? Bateria, claro. Peguei a cadernetinha, vi quando tinha feito a troca pela última vez, fiz uma conta rápida de quantos quilômetros tinham se passado e quanto tempo e, pimba, resposta na hora. Ai liguei para o seguro e já avisei. Assim eles podiam trazer uma bateria substituta com uma moto e ficaria tudo mais fácil e rápido de resolver. Ou pelo menos conseguiriam dar uma carga na bateria para que chegasse até uma oficina sem necessidade de deslocar um guincho. Claro que podia não ser essa a causa da pane, mas era um bom indício. E não é que era isso mesmo? Não conseguiria ganhar a vida como mecânica de oficina, mas não faço feio, não.
Também colo na cadernetinha o adesivo de troca de óleo – não gosto de colocar coisas no pára-brisa. As rotinas, tipo calibragem, checagem de óleo e água, se está tudo OK não são anotadas. Só se colocar óleo no motor ou trocar o filtro, por exemplo. E sempre que faço alinhamento, balanceamento ou, mais raramente, cambagem. Assim, fica mais fácil para quem pegar o carro dar uma olhada e saber quando foi feito pelo menos, o básico e, especialmente, o que falta ser feito. Contudo, se vocês não têm um sistema como o nosso, fica faltando definir quem levará o carro para trocar o óleo, por exemplo. E aí jogar uma moeda pode ser uma opção. Sugiro cara ou coroa, o homem cuida do carro, se a moeda cair de pé, a tarefa fica com a mulher…;-)
Comecei a usar a tal caderneta quando tinha carro que não tinha computador de bordo. Inicialmente, isso me permitia acompanhar o consumo de combustível. Mais ou menos, claro, pois não faço diferenciação entre uso na estrada e uso na cidade pois como estou tentando convencer vocês, caros leitores, não sou tão neurótica. Depois que se começa, é tão automático preencher isso no posto que nem me lembro. E quando vendo o carro a caderneta acaba sendo um diferencial.
E vai aí um exemplo da minha mais recente anotação na famosa cadernetinha: “Diário de bordo, data estelar 1513. Nossa posição, órbita do posto Ipiranga, na zona Sul de São Paulo. O sr. Scotty acabou de colocar 34,5 litros de gasolina…”. E assim vou, onde certamente nenhuma mulher jamais esteve.
Mudando de assunto: Não sei como funciona nas outras cidades, mas em São Paulo basta cair meia dúzia de pingos de água, a umidade passar dos 20% ou ficar abaixo dos 19%, ser lua cheia ou algum outro fato tão raro quanto estes para que os semáforos parem de funcionar. Mas os radares continuam, firmes e fortes. Por que é que a Prefeitura não contrata a mesma empresa que faz a manutenção dos radares para cuidar dos semáforos? Não ia pifar nem unzinho!
NG
Fotos: wsmseguros.com.br; autora
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