Vocês, caros Autoentusiastas, já devem ter percebido que sou uma pessoa bastante curiosa. Como jornalista tenho o terrível vício do questionamento. Estou sempre atenta a tudo e quero saber sempre mais. Acho até que minha primeira frase quando comecei a falar – e foi meio tarde, diga-se de passagem, mas até hoje estou recuperando o tempo perdido – deve ter sido “por quê?”. E sou persistente até achar a resposta. No entanto, tem coisas que nem eu consigo entender. Uma delas é: o que leva os motoristas a mudarem de comportamento quando chove?
E não me refiro a aumentar a distância do carro da frente para evitar uma colisão em caso de uma escorregada ou mesmo uma aquaplanagem, pois isso seria bom senso e respeito às normas de trânsito. Não, refiro-me a coisas estapafúrdias, como ligar o pisca-alerta ao primeiro sinal de chuva. Suspeito até de uma ligação secreta entre o limpador de pára-brisa e o pisca-alerta. Procurei nos vários carros que tive e nunca achei nenhum cabo que ligasse um a outro. Mas devo estar procurando nos modelos errados, pois tenho certeza de que alguns veículos mantêm uma conexão entre os dois itens. Se não for isso, qual a explicação para que um carro em movimento ande com o dito-cujo ligado ao menor sinal de manifestação hídrica de São Pedro? Sim, porque há pouquíssimas exceções. No geral, quando me questionam digo que não se deve usar o pisca-alerta com o carro em movimento, só parado. É mais fácil do que dizer que em alguns casos ele pode ser usado, sim. Por exemplo, brevemente para sinalizar ao veículo que vem atrás que você vai parar. Mas ligar o pisca-alerta com chuva e andar quilômetros a fio? Acho, sim, que tem um cabinho misterioso. Eu é que não o achei ainda.
Também não entendo por que as pessoas deixam que todos os vidros do carro embacem quando chove. Logo eu que enxugo o espelho do banheiro depois do banho! Podem me chamar de enxerida, mas tenho horror de deixar de ver algo. Como as coisas podem acontecer sem que eu fique sabendo? Janela de carro embaçado me dá ataques de asma. E se o carro tiver Insulfilm, então, vade retro! Não enxergar o exterior do carro já é um absurdo, com chuva, então, é impensável. Neste caso, sim, deveria ter um cabinho secreto que acionasse o ar-condicionado quando se liga o limpador de pára-brisa. Pronto, problema resolvido. Não sei por que as fábricas não me contratam para dar palpite nos carros…
Focinho – Acho até que tem motorista que desconhece que tem desembaçador traseiro. Vá lá que é opcional, mas já é tão comum que é quase item de série mesmo nos modelos mais simples. E num país tropical como o Brasil deveria ser obrigatório. Melhor do que pedir para os passageiros se esticarem para passar um paninho, tipo anos 70. E por falar nessa época, para quem não quer ligar o ar-condicionado quando chove, ainda dá para encontrar aquelas calhas nas janelas que permitem a abertura dos vidros sem que entre água no carro.
E aqui vale um parágrafo à parte: “limpador de pára-brisa, esse desconhecido”. Sim, porque também não entendo por que acionar o item na velocidade máxima quando chove apenas um pouco, ou, ao contrário, limpa, e dois quilômetros e 18 litros de água depois, limpa de novo. Como disse um Autoentusiasta num post aqui mesmo, o limpador de pára-brisa deve ter o poder de hipnotizar as pessoas e deixá-las meio, digamos, bobinhas. Só pode ser isso. Está certo que os carros mais modernos têm várias velocidades, temporizador, acionamento automático, mas também não estamos falando do painel de controle de uma nave espacial ou de um Fórmula 1. Nada que uns cinco minutinhos de teste não resolvam. E, por favor, manutenção nas palhetas! Aquele “croinc, croinc” de borracha gasta, que marca o vidro e não escorre a água, não dá!
Ainda dentro do rol de esquisitices gostaria de saber também porque as motoristas (sim, porque essa é uma característica bem feminina) se inclinam para frente quando chove. Me divirto vendo os outros carros, com as pessoas perigosamente colando o nariz no pára-brisa, como se isso permitisse uma melhor visão do trânsito com chuva. E não, não funciona. O que melhora a visão é manter os vidros limpos e desembaçados, o limpador de pára-brisa acionado corretamente, e, claro, redobrar a atenção. Mas colocar o focinho no vidro? Isso só provoca dor ao ralar as costelas no volante. Se alguém souber as respostas para todas estas minhas dúvidas, e-mails para a redação, por favor.
Mudando de assunto: Ainda no ramo das esquisitices do trânsito brasileiro. Alguém poderia me explicar por que a sinalização das ruas é interrompida quando se chega numa praça? A gente vem pela Avenida X e ao chegar à Praça Y somem as placas com o nome das ruas em volta e aparecem as da Praça Y. Para depois serem retomadas mais à frente. Nada contra valorizar o nome das praças, mas não daria para manter a coerência? E ainda por cima tem praça, como a da República, em São Paulo, onde a numeração dá a volta em torno da praça. Deve ser como a jabuticaba — coisa que só tem no Brasil.
NG