Vocês já devem ter percebido o quanto eu gosto da Fórmula 1. Se ainda não tinha deixado isso claro, aqui vai com todas as letras: amo a F-1! E, apesar de ser normalmente uma pessoa bastante discreta como uma autêntica autoentusiasta, tenho meus arroubos de, vá lá, adolescente. Quem tem filho nessa idade ou quem é louco por carro sabe do que estou falando e certamente será solidário comigo — espero.
Lá pelos idos de 1995 estava eu de férias na Itália com meu marido quando, saindo de visitar a Basílica de Santa Maria Novella de Florença, decidimos ir tomar um belo café espresso. A cerca de um quarteirão vimos uma placa que dizia “Coffee shop A. Nannini”. Para dois fãs de Fórmula 1, isso era como o canto de uma sereia nos atraindo para o fundo do mar. E lá fomos nós. Era um café simpático, como muitos outros na Itália. Mas imaginem se eu, curiosa (e tímida!) do jeito que sou, não ia querer saber a quê se referia o “A. Nannini” da placa? E, claro, comecei a puxar conversa com o barista do balcão enquanto pedíamos nosso café.
Perguntei se era uma franquia, se havia outros cafés, atropelando as perguntas. Papo vai, papo vem, o simpático italiano nos contou que o café pertencia ao próprio ex-piloto de Fórmula 1 Alessandro Nannini e, suprema sorte nossa, ele estava na loja naquele momento. Se quiséssemos, ele poderia chamá-lo para nós. Daí por diante, tudo se passou na minha mente como um filme preto e branco antigo e acelerado, com os quadros fora de sincronismo.
Meu coração disparou. Eu, diante do meu queridíssimo Nannini, que havia corrido na Benetton com meu ídolo Nélson Piquet? Não podia acreditar. Claro que aceitamos prontamente a oferta. Naquela época, Nannini já havia sofrido o acidente de helicóptero. Para quem não se lembra, em 1990, quando a aeronave em que estava caiu perto de Siena, sua cidade natal, uma das pás cortou o antebraço direito dele. O braço foi reimplantado, mas na época de câmbio manual ele não conseguiu voltar para a Fórmula 1. Nannini foi então para a Alfa Romeo correr no Turismo alemão (DTM), com um câmbio adaptado do lado esquerdo.
Nannini era muito bom piloto e como mulher não posso deixar de notar, muito, mas muito boa pinta, moreno de olhos verdes, mas também era conhecido como um sujeito simpaticíssimo. Nélson Piquet conta que quando sofreu o acidente que esmigalhou um pé dele nos treinos da 500 Milhas de Indianápolis de 1992, um dos primeiros telefonemas que recebeu foi do seu antigo companheiro de Benetton, Alessandro Nannini. O italiano disse, com seu peculiar sarrismo: “Nélson, não se preocupe, eu acelero e você troca as marchas”. Feitos um para o outro, não?
Mas voltemos à Florença. Dissemos ao barista que sim, gostaríamos de um autógrafo e um par de palavras com Nannini. Ele saiu por trás do balcão e foi na direção dos fundos da loja. Lá atrás, o vi conversando com aquele sujeito charmoso, de malha vermelha, lindo. E não é que o barista vai para o lado direito e Nannini se encaminha para mais ao fundo da loja, na direção de uma porta? Pronto, pensei, ele não quer falar com mais dois turistas chatos e está indo embora. Bateu um desespero! Não ia deixar ele ir embora. Larguei café, bolsa, marido, câmera fotográfica, tudo na mesa e corri. Passei por trás do balcão (talvez por cima, não lembro direito da cena e meu marido estava olhando para o outro lado, fingindo que não me conhecia) e sai correndo na direção do Nannini. Como fã de rugby que sou, estava disposta a fazer um tackle histórico e derrubá-lo, se fosse necessário. Mas minha velocidade era grande, a distância era pequena, a inércia é inclemente e a porta dava para… um armário. Imaginam a cena? Eu não consegui frear a tempo, me estatelei contra o Nannini e o empurrei e praticamente entramos os dois no armário. Algo deveras patético, uma autêntica cena de desenho animado.
Mas ele apenas sorriu com aquelas covinhas lindas e os olhos verdes contrastaram com meu rosto vermelhíssimo de vergonha. Eu nunca, juro, nunca havia pedido um autógrafo a ninguém em toda minha vida. E como jornalista tive oportunidade de entrevistar muitas pessoas importantes de várias áreas e países ao longo de muitos anos, mas sei lá, piloto de carro para mim é diferente. Me comportei como uma verdadeira adolescente. Mico total! Eu gaguejei e fiquei parecendo ainda mais idiota. E por que gastar meu parco italiano quando meu inglês é super fluente? Sei lá. Teria falado em código Morse se soubesse. Disse que éramos brasileiros, fãs de Fórmula 1, dele e não sei o que mais. E, claro, pedi o autógrafo. Ele já tinha na mão um cartão postal da Alfa Romeo, que estava justamente dentro de um armário. Aí eu percebi que era isso que ele tinha ido buscar e não fugir de mim. Mas certamente se houver uma próxima vez e ele me reconhecer é isso o que ele fará. Nannini segurou a caneta de uma forma estranha, com o braço reimplantado, e perguntou para quem era o autógrafo. E eu, para encerrar o show de micos disse: “Para mim”. E ele, sorrindo: “E como chama ‘mim’?”. Nora, como você é tonta!.
Mudando de assunto: Estive domingo em Interlagos. Assisti ao GP de Fórmula 1, à etapa Porsche Challenge e estive nos boxes. Não importa quantas vezes já tenha ido, é sempre muito legal. Adorei ver Nélson Piquet como repórter e sua originalíssima pergunta a um surpreso Lewis Hamilton no pódio (“Onde está sua namorada? Ela é lindíssima”) e a brincadeira entre ele e o normalmente sisudo Niki Lauda. Destaco também a excelente corrida de Jenson Button e de Nick Heidfeld — ambos ótimos pilotos com carros que não estão à altura do talento deles.
NG