Com inglês não se brinca. Napoleão e Hitler se estropiaram ao tentar lhes passar a perna. Com o autoentusiasta inglês não há brincadeira também. Carro esportivo é carro esportivo, tradição é tradição, e ai de quem tentar desvirtuar a coisa. Seguem algumas notícias vindas “da ilha”.
Aston Martin
Matt Becker, engenheiro-chefe de Testes e Desenvolvimento da Lotus, após 26 anos de casa está de mudança para a Aston Martin. A partir de janeiro ele será o responsável pelo comportamento dinâmico dos carros da marca, incluindo aí o novo DB9, que será lançado em 2016 e que terá o motor do Mercedes-AMG GT. Para o seu lugar irá Dave Marler, que já tem 17 anos de casa.
É natural que se especule sobre a possibilidade de a Aston Martin pretender lançar um modelo com motor central-traseiro, pois, afinal, há muitos anos que a Lotus só fabrica modelos com essa configuração.
Jaguar Land Rover
A Jaguar parece estar dando maior atenção à tradição da marca. Neste ano, por aproximadamente R$ 420 milhões ela comprou a coleção de 543 carros clássicos pertencentes a James Hull, um empresário inglês. Todos são de fabricação britânica e 130 deles são Jaguar ou Swallow Sidecars. A Swallow Sidecars é o embrião da marca Jaguar, já que Sir William Lyons ainda jovem começou a empresa fabricando sidecars para motocicletas.
Os carros não ficarão somente parados para serem idilicamente apreciados num museu. Esporadicamente, parte deles correrá o mundo participando de ralis de clássicos e outros eventos, como a Mille Miglia. Pois é, tradição é o tipo da coisa que quem tem deve valorizar, e quem não tem, que persevere para construir a sua.
Outra medida na mesma direção foi recriar as seis unidades do E-Type Lightweight que faltam para completar os dezoito que tencionavam fabricar entre 1963 e 1964. Esse modelo, por ter toda a carroceria e bloco do motor em alumínio, saía 114 kg mais leve. O cabeçote do célebre motor L-6 do XK sempre foi de alumínio. Tudo será fabricado nas instalações da Jaguar, inclusive o motor de 3,8 litros que primeiro equipou o E-Type. Esse projeto, que já está em execução, parece visar a divulgação das novas oficinas de clássicos da marca. Assim como a Mercedes, a Porsche e a Ferrari já possuem, a Jaguar passou a ter sua restauradora oficial, que estará apta a fornecer, restaurar ou fabricar qualquer peça dos seus clássicos. Sabe-se que carros restaurados por essas oficinas das referidas fabricantes, tendo as suas chancelas, valorizam barbaramente, pois os carros saem de lá exatamente como saíram quando novos. Esses seis novos Lightweight E-Type terão números de série dando seqüência ao número em que parou.
Um dia, sabe-se lá quando, poderemos recriar outras Marilyn Monroe, outras Brigitte Bardot, outras Claudia Cardinalle, outras Romy Schneider. Só espero que ao homem ainda reste gosto nisso, porque do jeito que a coisa ‘tá indo…
Mais um pouco sobre Jaguar em busca de suas raízes. Quando este ano fui convidado a dirigir os modelos da marca no autódromo José Carlos Pace, em Interlagos, fiquei muito bem impressionado com os F-Type, e, confesso, para que eu ficasse completamente satisfeito só me faltou um bom câmbio manual, apesar do automático de 8 marchas da ZF ser uma perfeição em termos de suavidade e desempenho.
E não é que a fabricante anunciou agora ter o opcional de câmbio manual para seus modelos esportivos F-Type? Primeiramente são só os equipados com motor V-6, porém, sobre os V-8 virem a ter a mesma opção, Russ Varney, Diretor de Programa do F-Type disse: “Nunca diga nunca”. Os F-Type só vinham com o câmbio automático de 8 marchas, da ZF. O câmbio manual tem 6 marchas e, interessante, para satisfazer os puristas ele não tem o equalizador de rotação para quando se faz reduções de marcha — um recurso que executa automaticamente o trabalho de uma aceleração interina simples ou de um punta-tacco, em que se freia e se toca o acelerador ao mesmo tempo —, primeiramente lançado no Nissan 370Z (2008) e que este ano passou a também equipar os Chevrolet Corvette. “Será um carro em que tudo poderá ficar por sua conta”, disse Varney, que seguiu dizendo, “Desenvolver transmissão não é uma coisa que seja barata, porém, se você pretende criar um carro com credibilidade há certas coisas que precisa ir e fazer. No mundo dos esportivos você precisa ter desempenho e, francamente, você precisa ter câmbio manual”. É bom ver o sujeito certo no lugar certo, dizendo e fazendo o que nós achamos certo, coisa não muito comum ultimamente.
Segundo a Jaguar, a versão de câmbio manual é menos rápida no 0 a 100 km/h que a de câmbio automático, com 5,3 segundos contra 4,8 segundos, mesmo sendo 10 kg mais leve. É o preço a se pagar pelo prazer de cambiar. Além do mais, e daí? Números são só números.
A propósito, os F-Type V-6 me agradaram mais, apesar de menos potentes que os V-8. Talvez tenha sido pelo ronco ou pela maior leveza (- 80 kg), mas os F-Type com motor V-6 me lembraram mais vividamente o E-Type, modelo que virou um ícone e pretendem enfatizar que o F-Type é sua versão moderna. O maior desempenho cabe aos F-Type V-8, mas o espírito do E-Type coube aos F-Type V-6. São só minhas impressões, só isso; mas talvez elas valham alguma coisa ao caro leitor.
Pois é, está mais que provado que os ingleses realmente amam e entendem de carro.
AK