Um carro muito pouco conhecido, e já começamos com as informações mais importantes sobre ele. Foi desenhado por Giugiaro aos vinte e cinco anos de idade, quando trabalhava no Studio Bertone. Para adicionar, tem mecânica Ferrari inédita, e para concluir a seqüência de coisas inusitadas, a marca é Innocenti.
A empresa fundada por Ferdinando Innocenti começou em 1920 com a fabricação de máquinas. Depois de crescer, adicionou-se a fabricação de scooters da marca Lambretta e carrocerias de automóveis em sua produção, passando a fazer carros inteiros na década de 1960, começando com modelos ingleses da BMC, a British Motor Corporation.
A marca foi comprada sucessivamente pela British Leyland, De Tomaso e depois pela Fiat, e foi fechada em 1996, mesmo destino de outras empresas ao longo da história que ousaram ousar. E o mundo automobilístico vai ficando cada vez mais sem graça e dentro da “caixinha”.
O cupê duas portas batizado de 186 GT foi o primeiro carro da Innocenti a ser feito partindo de um projeto totalmente italiano, já que até então só modelos da BMC haviam sido fabricados, a partir do acordo técnico-comercial celebrado em agosto de 1959.
A Innocenti foi a empresa que fabricou o Mini na Itália, na razoavelmente grande fábrica localizada em Milão, com capacidade de fabricação de 75 mil unidades por ano, mas o máximo que chegou a ser feito foram pouco mais de 62 mil.
Era uma fábrica de plenas capacidades, e os modelos lá feitos eram diferentes dos ingleses. Haviam toques italianos para melhorar as chances de sucesso na “terra da bota”, sendo o Innocenti Mini o mais famoso, um Mini totalmente reestilizado pelo Studio Bertone.
Em 1964 surgiu a idéia de fazer um carro esportivo e Alessandro Colombo, engenheiro da fábrica, foi o responsável pelo trabalho de fazer funcionar um desenho de Giorgetto Giugiaro,
Aquele que viria a se tornar um dos maiores gênios do desenho estilístico optou por alguns detalhes bastante importantes, como a boa visibilidade com colunas bem estreitas, a borda frontal do capô avançando à frente dos faróis, e estes inclinados para trás, em um contraste de ângulos.
O 186 GT é um cupê duas-portas, motor dianteiro e tração traseira tradicional, e com painéis de carroceria sem função estrutural, já que essa função era feita por um chassis de tubos de aço soldados, ao menos nos dois protótipos construídos. Se fosse para produção, deveria ser diferente, adotando-se a tradicional carroceria monobloco de chapas de aço estampadas e soldadas, de acordo com o processo quase que universal em grandes produções.
Havia dois bancos pequenos na traseira, mas quase inúteis no transporte de pessoas. Apenas crianças muito pequenas cabiam lá, ou bagagem que não coubesse no porta-malas. Um autêntico 2+2.
As suspensões eram independente de dois braços triangulares sobrepostos na frente e eixo rígido atrás marca Salisbury (a mesma de muitos modelos ingleses, incluindo Land Rover), com mola em lâmina e braços longitudinais de localização, além de barra Panhard para limitar movimentos transversais. No conjunto de rodagem , clássicas rodas raiadas Borrani de 14 polegadas de aro montadas com pneus Pirelli Cinturato de 175 mm de seção transversal.
Ao verificarmos a informação de que o motor é um V-6 de origem Ferrari, podia-se facilmente supor se tratar do Dino, um V-6. Mas este é de 2 litros e as bancadas estão inclinadas a 65° entre si, e nesse Innocenti não era assim. Um erro normal supor que o motor é o Dino, encontrado até mesmo em fontes de informação na própria Itália.
Para o 186 GT, foi tomado um V-12 da série 250, projeto da linha de Colombo (de Gioacchino Colombo) que tinha ângulo entre bancadas de 60°, com árvore de comando de válvulas no cabeçote e duas válvulas por cilindro. Com a metade do número de cilindros, desenvolvia 158 cv a 7.000 rpm de seus 1.788 cm³, com diâmetro de cilindro de 77 mm e curso do pistão de 64 mm (coincidência: exatamente as dimensões do VW 1200!). A taxa de compressão chegou a 9,2 para 1, com alimentação por três carburadores Weber 38 DCN.
A caixa de câmbio também é Ferrari, com sincronizadores de marchas alemães, de projeto e fabricação Porsche, muito usados por vários fabricantes na época.
Esse conjunto mecânico permitia chegar a mais ou menos 200 km/h, e outros dados de desempenho não são conhecidos.
O carro parece menor do que é. Tem comprimento de 4.200 mm, entreeixos de 2.320 mm, largura de 1.600 mm, altura de 1.250 mm e bitolas de 1.360 mm na frente e 1.300 mm atrás.
De dois protótipos, um sobrou, e o outro desaparecido era um pouco diferente apenas em alguns poucos detalhes. Um deles tem capô plano e rodas raiadas, e o outro um capô com saliência central e rodas de aço estampado com sobrearos. Como a diferença é pouca, há quem diga que é o mesmo carro modificado, já que não há nenhuma foto dos dois juntos.
O preço para produzi-lo era alto, sendo esse o principal motivo para que ele não fosse um projeto aprovado para produção, já que deveriam ser pagos os direitos de uso do motor Ferrari. Também está registrado como possível motivo para seu cancelamento o fato que nesse ano de 1964 o serviço nos concessionários seria complicado, algo que duvidamos, já que não havia nada de outro mundo no 186 GT, apesar de que os carros da marca eram destinados a um público de produtos mais simples do que o cupê, e a rede de concessionários estava na medida para esse atendimento. Porém, em se tratando de projetos ingleses, realmente não acreditamos que os italianos consideravam como de simples manutenção os modelos da marca.
O que é certeza e tido como o verdadeiro motivo para o carro não ser produzido é que já haviam movimentos a caminho do que seria feito logo em seguida, o Fiat Dino Spider, apresentado em 1966 e o cupê no ano seguinte, com mecânica Dino.
Fica mais ou menos clara a ação do principal grupo automobilístico italiano, somada à comparativamente minúscula Innocenti, que impediu que um carro muito interessante se tornasse realidade no mercado.
JJ