Saiu a notícia hoje. A primeira que recebi, enviada pelo leitor Daniel S. de Araújo, foi gerada pela Agência Reuters Brasil. Diz a nota que a União da Indústria da Cana de Açúcar (Unica), pela sua presidente Elizabeth Farina, informou que a mistura de álcool anidro à gasolina passará da atual 25% para 27%. Isso após uma reunião na Casa Civil, no Palácio do Planalto, para tratar do assunto. A nota só não disse com quem foi a reunião, mas informou que a nova mistura deverá começar em 15 de fevereiro e que se trata de uma antiga demanda do setor sucroalcooleiro. O texto foi assinado por Nestor Rabello.
Primeira vergonha, de enojar: esses espertalhões da indústria sucroalcooleira, se realmente têm tal demanda, é porque querem empurrar tanque abaixo dos automóveis o seu combustível pobre, sem possibilidade de escolha, sem fazer força. Querem moleza. Põe golpe baixo nisso. Creio que o jornalista da Reuters não inventaria isso.
Não passou muito tempo e chegou uma nota à imprensa da Anfavea, ainda mais nauseante.
Começa a nota dizendo que “Em reunião realizada em Brasília, DF, na segunda-feira, 2, sob a coordenação do Ministro-Chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e com a presença de membros dos outros ministérios, a Anfavea (nosso grifo) e o setor sucroalcooleiro acordaram proposta conjunta para elevação do teor de etanol na gasolina.”
Ou seja, a Anfavea fez como os cães fazem para não se borrarem quando estão com medo: colocou o rabo entre as pernas. Considerou elevar o teor de álcool na gasolina a coisa mais natural do mundo.
A Anfavea já foi covarde antes, quando no começo dos anos 1990 o teor de álcool passou de 22% para 25%. Não brigou. Entretanto, a gasolina com 22% de álco0l é a usada até hoje para homologação de veículos no Brasil para obtenção do número Renavam, usada para medir consumo e emissões. É a que as fábricas utilizam (têm de fazer a mistura manualmente).
Agora vem a parte ainda mais nauseante da nota da Anfavea:
“A proposta conjunta é de que a partir de 16 de fevereiro a gasolina comum contenha 27% de etanol enquanto a premium permanece inalterada (nosso grifo). O teor de 27% e não de 27,5% é uma ação de defesa ao consumidor (nosso grifo), uma vez que as provetas de verificação de qualidade instaladas nas bombas de combustível não permitem leitura de número fracionado. A decisão de manter a gasolina premium inalterada se deve a não conclusão dos testes de durabilidade e, portanto, a Anfavea recomenda que os veículos com motor movidos a gasolina utilizem a premium (nosso grifo). Agora a proposta será encaminhada para decisão da Presidência da República”.
Que se saiba, não existe proveta nas bombas para se medir o teor de álcool, só densímetro para verificação visual rápida. A proveta existe nos postos, à disposição do consumidor para o teste de teor de álcool. Ela fica guardada no escritório do posto.
A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores escrever uma besteira dessas é muito triste.
Absurdo dos absurdos: que tal obrigar um carro que requeira 95 octanas RON (gasolina comum) use gasolina de 98 RON, só por esta gasolina conter menos álcool? Quem paga a diferença de preço do litro? A Anfavea?
E ainda vem o presidente da entidade, Luiz Moan Nabiku Júnior, dar “grande e rica informação” de que os carros flex podem utilizar a gasolina com “teor elevado” de álcool… Claro, né Mané? Se pode utilizar álcool puro, pode usar gasolina com 27% de álcool, 30%, 50%, 85%…
Esse dia passa a se chamar “Dia da Infâmia” no Ae.
Bob Sharp
Editor-chefe
AUTOentusiastas