Recentemente Bob Sharp escreveu uma matéria sobre as infrações que deveriam ser melhor fiscalizadas e vários leitores mencionaram a falta de uso da seta para mudar de faixa aliada à falta de atenção ao fazer isso. Pessoalmente, é uma das coisas que mais me irritam no trânsito, pois é tão fácil fazer as coisas corretamente que não vejo desculpa para o comportamento errado ou relapso. Acontece que sinalizar não é passe livre automático para fazer isso, como ele bem explicou. É um sinal de intenção de que se quer mudar de faixa. Daí o título de hoje “Direito de todos? Veja bem…”. Sim, pode-se mudar de faixa, mas sob certas condições — como, de resto, várias outras coisas no trânsito e na vida em geral. Pois é, continuo filosofando, pelo visto não parei na semana passada.
Quando aprendi a dirigir, meu pai e meu famoso tio César me ensinaram uma dica boba para saber para que lado tinha de virar a alavanca da seta. “Para o mesmo que você vai esterçar o volante”. Simples assim. A mão que vai virar a direção para a direita “levanta” a seta para que a luz indique que se vai virar para o lado direito. Claro que a maioria dos homens nem se faz essa pergunta pois não tem esse problema de direção, mas embora sempre ouça que dirijo como um homem (fico muito orgulhosa disso, tenham certeza) eu tinha lá minhas dificuldades com senso de direção quando aprendi a dirigir. Como a maioria das mulheres, aliás. Mas consegui superar isto e não faço como uma amiga minha, que chama a esquerda de “a outra direita”.
Mas voltemos à questão da seta. O problema é que muita gente faz disso uma única manobra. Saber que a mão para dar seta “acompanha” a direção do volante não quer dizer que se deva fazer tudo isso junto, o que parece ser o problema de muitos motoristas. Antes de mudar de faixa, deve-se olhar para ver se isso é possível, se a distância dos demais carros permite que a manobra seja feita com segurança e, claro, sinalizar.
No caso de São Paulo, por exemplo, mudar de faixa, poucas vezes é um direito de todos. Os motoqueiros têm certeza absoluta de que só eles podem fazer isso e impedem que os carros o façam, circulando apenas entre as faixas e mesmo quando vão seguir em frente ou mudar para a esquerda, não deixam que um carro vá para a direita. Claro que tem os infelizes dos motoristas que não sinalizam e/ou não verificam se realmente podem mudar de faixa e acabam fechando alguém, mas é impressionante como dá trabalho mudar de faixa em vias expressas quando se têm de disputar o famigerado corredor com motoqueiros. E notem que sou fã de moto e, diga-se de passagem, refiro-me especificamente aos motoqueiros, pois motociclista não faz isso. Qual a diferença entre os dois? Uns 400 centímetros cúbicos de cilindrada…
Posso dizer que sou uma verdadeira turista acidental, pois várias vezes fui parar onde não queria simplesmente porque não consegui ir para o lado a tempo e com segurança. Conheci cada lugar! Nem sempre recomendáveis, frise-se. Certa vez, trafegando pela 23 de Maio em direção ao Centro não consegui ir para a direita para sair na alça que dá acesso à Praça da Sé e fui obrigada a ir até o Anhangabaú e mais um pouco para voltar. E olha que já vinha há um par de quilômetros dando seta e tentando ir para a direita. Mas, nada. Em São Paulo temos uma rádio que só dá informação sobre o trânsito 24 horas por dia, a SulAmérica Trânsito, e certa vez ouvi uma mulher pedindo ao jornalista que solicitasse aos motoqueiros que lhe deixassem mudar de faixa. Tragicômico, mas várias vezes me vi na mesma situação, pedindo a papai do céu que me ajudasse. Por falar em rádio, incrível o que os motoristas paulistanos ouvem no carro — música faz tempo que não entra no cardápio quando se está dentro da cidade. E tem gente que ouve SulAmérica Trânsito mesmo quando está em casa e não atrás do volante. Sei lá, deve ser para se divertir com o sofrimento alheio…
Assim, mudar de faixa no Brasil é que nem andar de metrô no horário de pico. Já me impediram de descer na estação que eu queria e já me desceram na que não queria. Pois é, problemas de ser prejudicada verticalmente, vulgo, ser baixinha, e meio pequena. Se fosse jogador de rugby garanto que ninguém ia se meter comigo e teria conseguido abrir espaço no meio da multidão. Mesma coisa se dirigisse um Hummer. Mas no mundo real acabo indo aonde não quero e me socorrendo do Waze para ver onde cargas d’água tem um retorno. O que mais escuto no meu celular é “recalculando rota”.
E alguém pode me explicar por que tantas mulheres freiam ao mudar de faixa? E quando digo mudar de faixa é em qualquer direção, ou seja, mesmo quando entram numa via mais rápida do que aquela em que estavam. Um verdadeiro perigo. Claro que muitos homens também fazem isso, mas na minha observação pseudo-científica de quem dirige muito e gosta disso, é o que notei.
Uma coisa que vi na Áustria e na Alemanha e adorei é a sinalização “dupla” em vias de sentido único que impede que se mude de faixa em determinadas situações, mesmo quando todo o trânsito vai na mesma direção. Pela foto fica mais fácil de entender:
Vejam que aqui quem entra na estrada em velocidade mais lenta não pode (OK, no Brasil só poderia dizer “não deve”) ir para a faixa à sua esquerda. Como tem uma saída logo adiante, nesse caso pode-se mudar de faixa para a direita, mas às vezes em trechos de estrada a faixa contínua vale para os dois lados por algum tempo. Uma forma simples e eficiente de organizar o trânsito e fazê-lo mais seguro, pois impede que quem vem mais devagar entre na frente de quem já ganhou velocidade. E é só uma demão de tinta.
Mudando de assunto:para saciar a curiosidade dos meus caros leitores. Sou bisneta de bascos franceses (de perto de Biarritz) e neta de espanhóis (bem… galegos de Vigo e de La Coruña) por parte de mãe, e neta de italianos (do Norte, de Gênova, porque calabreses ou sicilianos já seria demais) por parte de pai. Nasci e fui criada em Buenos Aires mas aí já era muito para uma pessoa só e tive de fazer um upgrade, segundo meu marido: me naturalizei e casei com um brasileiro. Claro que falo perfeitamente espanhol e português, mas me frustra não conseguir falar a língua do pê em português. Já em espanhol, sou superfluente, o que é totalmente inútil a não ser que esteja falando com uma criança argentina.
NG
Foto de abertura: huffingtonpost.com
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