É tamanha a paixão do brasileiro pelo SUV (utilitário esportivo) que seu segmento é o que mais cresce no mercado.Só neste mês de março chegam mais dois SUVs compactos para concorrer com Ford EcoSport e Renault Duster: o Jeep Renegade inaugura fábrica da FCA (Fiat e Chrysler) Latin America em Goiana (PE), o Honda HR-V compartilha (por enquanto) a linha de montagem do Civic em Sumaré (SP), até ficar pronta sua fábrica em Itirapina, também no interior de São Paulo. E a Peugeot está tirando do forno seu 2008, do mesmo segmento.
A rigor, são modelos que derivam de plataformas já existentes na marca. O EcoSport, por exemplo, é um Fiesta com outra carroceria. O Renegade usa base mecânica do Fiat 500 X, o Honda HR-V é baseado no Fit, com motor 1,8 do Civic. E o freguês não hesita em pagar muito mais para satisfazer o capricho de rodar num “jipinho”. Paga-se, às vezes, até pela tração nas quatro que jamais será utilizada, pois só roda no asfalto. Madame, por exemplo, nem sabe onde apertar o botão para acionar a tração integral, pois só usa o carro para levar os filhos na escola, fazer compras e bater ponto no cabeleireiro. Os primeiros utilitários surgiram como derivados do jipe, na década de 1950. Aliás, tudo começou com o Jeep. Que, espichado, deu origem à Rural Willys. Por sua vez, avó da Cherokee. E daí para virar febre nos EUA foi um pulo. O europeu, sempre mais sofisticado e comedido, ainda não aderiu como o norte-americano aos utilitários: continua preferindo o automóvel ou a perua. Ou uma minivan. SUV, só mesmo quem tem sítio, fazenda ou roda eventualmente em estrada de terra.
A principal atração do SUV é sua altura. Mulher adora, pois transmite sensação de segurança e oferece melhor visibilidade. No que diz respeito a segurança, só mesmo a sensação, pois quanto mais alto, menos estável. Além de mais alto, é mais comprido e difícil, portanto, de encontrar vaga. E manobrar no estacionamento.
Mais alto e mais comprido significam mais peso, que resulta em maior consumo e emissões. Além disso, se todos os SUVs fossem substituídos por subcompactos e smarts, os congestionamentos se reduziriam à metade…
A única explicação racional para a preferência do brasileiro pelos utilitários esportivos está na precariedade de nossas estradas. Mais altos e com rodas maiores, enfrentam melhor o asfalto entre crateras. Tem uma segunda, que fica nas entrelinhas: SUV é sinal de status, indica que o dono está vencendo (ou já venceu…) na vida.
Atrai preferencialmente as mulheres, mas fascina também o público masculino. Talvez sua imponência, presença marcante, desempenho e linhas musculosas sejam uma compensação para predicados que lhe faltam…
Finalmente, a inexplicável atração pelo estepe dependurado na tampa traseira. Em termos práticos, prejudica a visibilidade e o manejo da porta. A estrutura necessária para acomodá-lo resulta em pelo menos mais 50 kg no peso do carro. E costumam surgir folgas na articulação de seu suporte que provocam incômodos ruídos. Em termos estéticos, é solução horrenda. (“Uma gracinha”, dizem algumas mulheres). Finalmente, o sobressalente externo permite imaginar um certo grau de sadismo no dono do SUV, pois fatalmente danifica o capô do automóvel atrás, durante a manobra para estacioná-lo.
E o prezado leitor, o que lhe atrai num SUV?
BF
Boris Feldman, jornalista especializado em veículos e colecionador de automóveis antigos, autorizou o Ae a publicar sua coluna que sai aos sábados no jornal Hoje em Dia, de Belo Horizonte (MG).
A “Opinião de Boris Feldman” é de sua total responsabilidade e não reflete necessariamente o pensamento do AUTOentusiastas.