Tem coisas que só são aceitas no Brasil e acabamos não percebendo que, na verdade, elas não fazem o menor sentido. Certa vez meu pai estava dirigindo numa estrada levando um amigo dele suíço-alemão como carona quando se deparou com uma placa que dizia “Cuidado, curva perigosa”. Ele, na sua lógica germânica e com forte “zodaca” perguntou: “se sabem que é perigosa, por que não consertam?”. Pois é, é difícil responder a essa questão. Preferia ter de explicar como se resolve uma equação de segundo grau do que isso. E olha que tenho até hoje dificuldades em resolver equações de segundo grau – mas pelo menos, elas têm lógica. Como explicar o inexplicável?
As placas de sinalização no Brasil são um capítulo à parte em qualquer crônica e certamente merecem um lugar especial entre os motivos de neuroses e outras doenças mentais. Aqui mesmo no Ae temos exemplos a toda hora. Numa mesma placa proibido estacionar e zona azul, dê a preferência quando a pista que dá acesso é segregada da outra, e por aí vai. Fora as que não existem. Cansei de seguir placas que indicam um lugar como aeroporto numa determinada direção e depois, do nada, elas desaparecem. A lógica indica que se não há mudança, não há necessidade de nova indicação. Mas o que fazer numa bifurcação? Minha mãe mandou escolher esta daqui? E lá vou eu, tipo Buzz Lightyear — ao infinito e além. Claro que não necessariamente para onde queria ir…
Por isso não acho que o correto seja fazer manifestação para pedir placas em lugares como as tais “curvas perigosas”. Com freqüência as interdições de estradas e ruas se limitam a isso. E as autoridades às vezes colocam lombadas ou radares antes da tal curva perigosa, para obrigar a diminuição da velocidade. Não, deveria se pedir que as tais curvas perigosas fossem corrigidas, não apenas sinalizadas ou que lombadas sejam acrescentadas. É como colocar faixas de “local sujeito a alagamento” e não fazer as obras necessárias para que não haja alagamentos. Pelo mesmo princípio, não precisaríamos de policiais nem radares ou faróis que multam. Afinal, a sinalização do semáforo (verde, vermelho ou amarelo) já é um indicativo de pare ou siga. Se só sinalizar é suficiente, por que fiscalizar (ou corrigir) isso?
O Brasil tem fama (fora daqui é claro) de dizer que tudo aqui é o maior do que outras paragens. O Maracanã era o maior estádio do mundo, a floresta amazônica é a maior do mundo e por aí vai. Mas em termos de trânsito perigoso não fomos nós quem nos demos o título de estrada mais perigosa do mundo. O jornal italiano Corriere della Sera publicou em junho do ano passado um vídeo da BR-376, a rodovia que liga os Estados de Santa Catarina e Paraná, classificando-a como a mais perigosa da América do Sul – especialmente entre os quilômetros 661 e 682, onde em 2013 foram registrados 337 acidentes com caminhões. Resposta das autoridades? Negaram, claro, e disseram que isso foi registrado antes da colocação de radares naquele trecho. Então tá, em vez de corrigir a estrada colocamos radares para obrigar a diminuição da velocidade e fazemos de conta que o problema foi resolvido.
Como algumas pessoas que me conhecem já sabem, de vez em quando sou acometida por pensamentos maldosos no trânsito. O mais recorrente é meu desejo visceral de que os responsáveis pelo trânsito dirijam o próprio carro, sem GPS ou Waze e, claro, sem motorista, para que sofram na pele o que nos fazem passar. Recentemente ao me deparar com mais uma barbaridade dessas, incrementei minha maldade: faria tipo uma caça ao tesouro e eles teriam de chegar a determinado ponto e aí pegar o endereço para o seguinte. Tenho certeza que muitos deles ficariam perambulando pelas nossas cidades como os personagens de The Walking Dead, naquele limbo viário em que eles nos metem todos os dias.
Mudando de assunto: recentemente contei aqui os ensinamentos que recebi do meu tio sobre como atravessar em segurança um cruzamento ferroviário. Por incrível que pareça, recentemente uma motorista nos Estados Unidos não apenas parou o carro no meio dos trilhos como ainda desceu para olhar o prejuízo que a cancela provocou ao ser fechada sobre seu veículo. O trem a atropelou e morreram tanto ela quanto várias pessoas dentro da composição. Tudo errado. Se a cancela bateu na traseira do carro, ela atravessou no último segundo, quando deveria ter parado antes da via. E ainda permaneceu com o carro sobre os trilhos. De tão absurdo, só tenho uma coisa a dizer. Como não me ocorreu por óbvio que alguém pudesse fazer isso, acrescento outro conselho: nunca pare o carro nem desça dele nos trilhos do trem.
NG