Além de autoentusiasta, sou mulher. Mas apenas a segunda parte da sentença é que é evidente. Só depois de alguma conversa é que consigo demonstrar a primeira parte da frase. Assim, sou constantemente vítima da política de empurração de produtos e serviços que existe nas empresas.
Tenho longa experiência na iniciativa privada, em empresas de várias nacionalidades, e só posso dizer que isso é freqüente — e não apenas no Brasil. Nas matrizes vi a mesma coisa. Não sou ingênua de achar que as corporações não devam procurar o lucro, mas me canso de ter de explicar que isso tem limite. Não se pode passar por cima de ética ou verdade, buscando uma venda a qualquer custo.
Explico: abasteço sempre no mesmo posto de gasolina e a maioria dos frentistas me conhece. Mas desconfio de alguma nova política, pois de uma semana para outra eles passaram a querer checar o óleo do meu carro — e olha que vou pelo menos uma vez por semana, fácil, fácil e eu mesma peço para verificar periodicamente. Ainda por cima sempre desço do carro para acompanhar tudo, seja calibragem de pneus ou medição do nível do óleo. E principalmente para mandar parar o gatilho quando o sistema automático avisa que o tanque está cheio. Como me incomoda que eles encham o tanque até a boca apenas para arredondar o valor e, claro, vender mais um pouco! Eu não deixo, especialmente se meu carro vai ficar parado.
Mas voltemos à súbita vontade de medir o óleo do carro no posto. De repente, nossos dois carros passaram a acusar nível baixo do óleo. Assim, de um dia para o outro. E haja insistência para me fazer ora completar o óleo, ora trocar. Mas se eles são insistentes, eu sou mais e me recusei. Como meus caros leitores sabem, controlo tudo numa cadernetinha e uma rápida checagem me confirmou que não haveria chance de essas operações serem necessárias, nem pela quilometragem percorrida e nem por vazamento, apesar que nenhum deles fica parado mais do que um dia. Como minha neurose indica, sou também daquelas que olham permanentemente o carro e nunca vi uma gotícula sequer de óleo no chão da garagem. Música de Arquivo X ao fundo: qual seria o motivo do súbito aumento no consumo de óleo? Só posso atribuir a novas metas para os frentistas e a algum novo plano de Marketing para desencalhar óleo para motores. Vai ver que daqui a pouco eles vão encontrar baixo o nível da água do limpador de para-brisa e vão querer me vender o detergente… É só esperar pela próxima meta de vendas.
Por coincidência, levei um dos carros à concessionária para trocar a bóia de combustível que insiste em marcar um quarto de tanque de diferença, ora menos, ora mais do que realmente tem quando minha infalível cadernetinha registra cada abastecimento e a quilometragem respectiva. Por via das dúvidas — de novo, lembrem-se da minha neurose — pedi para checar o óleo. Antes mesmo de abrir o capô, o mecânico me perguntou se no posto tinham me dito que estava baixo. Ora, terá ele poderes mediúnicos? Como sabia disso se eu não tinha nem mencionado a questão? Novamente, música de Arquivo X ecoa nos meus ouvidos. Ao responder que sim me disse que já ouviu muitas e nada boas sobre isso, especialmente de clientes que depois da revisão voltavam reclamando que o óleo não tinha sido trocado e que o nível estava baixo, segundo algum frentista. Imagino que seja alguma política da distribuidora, visto que a concessionária nem fica no mesmo bairro do posto.
No entanto, não vou crucificar o frentista. O Peugeot 408 tem uma vareta de medição de óleo diferente das outras e sempre acusa nível baixo. Pois é, vou questionar a fábrica. Mas o que dizer do Citroën?
Alinhamento – Como mulher, quando algo diz respeito a carro sempre tenho de primeiro provar que entendo do babado para depois conseguir me livrar da empurração. Mas não é fácil. Já pensei em desistir e dar uma de dondoca e dizer apenas “eu não entendo nada disso, tenho de falar com meu marido”. Mas a minha personalidade me impede disso.
Tive um episódio envolvendo essa problemática. Num deles, comprei um voucher desses de compras coletiva para alinhamento e balanceamento de pneus numa rede muito conhecida. O preço era convidativo e minha mãe precisava fazer as duas coisas no carro dela. Dei de presente o ticket e lá foi ela. Mais de dez dias depois lembrei do assunto e perguntei se ela tinha feito o alinhamento. Qual não foi minha surpresa quando minha genitora, constrangida, me disse que não quis comentar comigo, mas que tinha trocado os quatro amortecedores de tão pressionada que foi — mesmo sabendo que isso não era necessário, já que entende o suficiente de mecânica. E pagando bem caro, diga-se de passagem. Claro que baixaram todos os galegos, bascos e italianos em mim e no dia seguinte, logo cedo, pedi para ela me encontrar na loja de alinhamento. Chamei o gerente e disse que entendo que tenham metas, mas que cumpri-las às custas de um inocente contando um monte de mentiras e pressionando da forma como foi não era, no mínimo, ético e que exigia que colocasse de volta os amortecedores antigos. Essa é a versão curta do que aconteceu, pois eu mesma não gostaria de brigar comigo. Não é algo suave para os ouvidos, embora eu nunca levante o tom da voz. É questão do que digo, não da forma como digo, pois sempre mantenho a compostura.
Não foi fácil também. Se com uma mulher mecânico tripudia, imagina com duas. Mas não me dei por vencida e bati o pé. Eles só encontraram um par (evidentemente que chequei modelo e tudo mais) e puseram de volta. Me comprometi a voltar e trocar o outro par assim que o encontrassem, coisa que não aconteceu até hoje. Apesar da empurração, mantive o pagamento do alinhamento e do balanceamento pois eles foram feitos. Não quis levar vantagem e pleitear algo mais pela mentira que contaram. E os amortecedores? Mesmo o par antigo está perfeito até hoje sob qualquer ponto de vista. O carro já passou por um par de revisões depois disso e mesmo ao empurrar o carro para baixo ele sobe e desce na medida certa.
Mudando de assunto: Disseram que depois do acidente na Catalunha Fernando Alonso havia perdido a memória dos últimos 20 anos — achava que ainda era piloto de kart, que estava em 1995 e que almejava chegar à Formula 1. Não digo 20 anos, mas com os resultados dos últimos tempos acho que ele não ia achar ruim perder a memória dos últimos sete ou oito anos, não?
NG