Jacques Nasser era presidente da Ford e J Mays o vice-presidente de Design quando apresentaram o conceito Forty-Nine no Salão de Detroit de 2001. O “J” de Mays não é abreviatura, é seu primeiro nome mesmo.
Mays vinha de trabalhos anteriores no grupo VW, um deles o tornou bastante conhecido mesmo fora do meio automobilístico, o Audi TT. Ele participou ativamente da equipe que fez o TT e o considerou um belo desenho industrial, mas não bonito na pura essência do estilo de automóveis. Outro trabalho com sua assinatura foi o New Beetle, de 1998, sucesso inquestionável, do tipo ame-o ou odeie-o. Em ambos trabalhos, Freeman Thomas foi seu principal parceiro.
Quando foi decidido que um conceito para homenagear o histórico Ford cupê de 1949 seria feito, ele colocou na cachola que seria um carro bonito, daqueles de tirar o fôlego dos mais sensíveis.
O carro que serviu de inspiração é tido como um dos maiores desenhos de todos os tempos, e foi o responsável por colocar a Ford de novo em posição confortável no mercado, com vendas crescendo nos três anos em que essa carroceria foi produzida, tanto com duas quanto com quatro portas, conversível e perua.
Este original foi apresentado em 1948 e foi o primeiro totalmente novo desde o modelo 1942, o último antes de os EUA entrarem na Segunda Guerra Mundial em dezembro de 1941. A produção de automóveis foi interrompida durante todo o conflito, só voltando após seu término com o mesmo veículo de antes, com modificações mínimas. Só vendiam bem por causa de enorme necessidade de carros novos devido à demanda reprimida.
A nação vitoriosa estava sedenta por novidades e trabalhou-se o mais rápido possível para atender essa falta. Quando o modelo 1949 surgiu, foi sucesso imediato e estrondoso, tanto para quem apenas queria um carro novo e bonito. quanto para os mais afeitos a alterações de todos os tipos. O Ford 1949 se tornou o favorito dos modificadores e fabricantes de hot rods, com muitos sobrevivendo ainda hoje.
O novo 49 deveria, então, despertar paixões e boas lembranças. Era uma exposição de idéia ao público, e não foi fabricado, para tristeza de muita gente que já estava pegando o talão de cheques para fazer seus depósitos e receber os primeiros carros.
O desenho foi classificado por J Mays como super-liso. Foi mostrado em preto com cromados e peças em cor de alumínio. Não tem coluna “B” (central) e a lateral toda é lisa e curva, bojuda, sem arestas e vincos, o oposto do que se vê hoje quase universalmente adotado. O interior tem partes em cor sienna, algo próximo a um caramelo, preto e cor de metal, sendo todo possível de ser feito em série pelos fornecedores da Ford. São apenas duas portas e quatro lugares. O retrovisor interno é montado numa haste de metal e é ajustável em altura. A haste serve também como antena de rádio.
Um console enorme em forma de prateleira corre por todo o interior, até os passageiros de trás, e na sua estrutura são presos os bancos, em balanço, sem suportes no assoalho. Uma ousadia de projeto estrutural de carroceria e que necessitaria de muito trabalho para garantir segurança para os bancos não se soltarem em caso de impacto.
Dentro do cofre do motor, tudo bem coberto com capas e componentes estilizados, de forma a não se ter nada parecido com um carro de produção. O coletor de admissão é feito com acabamento acetinado, as tampas de válvulas têm acabamento em preto fosco, com aço polido decorativo circundando o motor.
O Forty Nine usou a plataforma DEW 98, usada no Jaguar S-Type e no Lincoln LS, duas marcas que integravam o PAG — Premier Automotive Group — da Ford , mas alongada e alargada para fazer um carro maior. Ele é mais esguio visualmente que seu progenitor de meio século antes, por ter teto baixo logo de início, coisa que muitos modificadores faziam, tirar pedaços das colunas e baixá-lo.
Há detalhes muito interessantes, como as meias-saias nas aberturas de rodas traseiras, espelhos retrovisores de formato cônico e escapamentos com saídas cromadas localizadas no pára-choque traseiro, além do teto todo de vidro, totalmente inviável naquele ano para produção em série. Mays utilizou soluções de outros carros antigos da Ford, como esse teto vindo de algo similar, o Skyliner de 1954 e a inclinação das colunas traseiras e teto do Crown Victoria de 1955.
As rodas de 20 polegadas de diâmetro e acabamento cromado têm desenho super-simples, como o do carro. Apenas oito finas aberturas com a borda saliente para captar ar para os freios, e o letreiro no centro da cobertura para os parafusos de roda.
Nos pára-lamas dianteiros, a inscrição “ Powered by Thunderbird” revela o motor, um V-8 de 3,9 litros do Thunderbird de série, com 32 válvulas e 250 cv a 6.100 rpm. Para o 49, foi alterado levemente, com cerca de 10 cv a mais, e usava o câmbio automático de cinco marchas do mesmo carro de série. Era bem usável, exceto pelo limitado esterçamento do das rodas, mas seus bancos eram planos demais e necessitariam alterações de desenho para prover apoio lateral no assento e encosto. Hoje simplesmente não se pode mais ter bancos do tipo poltrona sem braços em automóveis, como se fazia antigamente.
No ano seguinte, porém, a Ford apresentou o conceito GT, reedição do GT40, e esse já havia sido escolhido para consumir as verbas disponíveis para um carro fora dos padrões normais da empresa, e o Forty Nine passou à condição de mais um ótimo conceito não desenvolvido.
JJ