Não vou nem precisar andar muito forte, pensei. Na verdade, comecei o passeio bem tranquilo, num ritmo allegro ma no troppo. Logo, a esquisita bocona do novo MINI Cooper vermelho aparecia no retrovisor, me incomodando um pouco. Cáspite! Realmente me incomoda que cheguem perto do meu pára-choque traseiro; fico muito preocupado que algo apareça e tenha que frear forte, com resultados potencialmente desagradáveis. Tudo bem, pensei. É só ir um pouco mais além na capacidade de minha perua 328i E36, que já o deixo a uma distância mais segura. Basta um pouco mais de seriedade no ritmo, uma forçadinha de nada, para me sentir melhor com uma distância mais agradável do carro de trás.
Mas, surpresa, não foi o que aconteceu. O carrinho continuou onde estava, me obrigando a me ajeitar na cadeira e aumentar o volume ainda mais um pouco. OK, vamos lá, se é assim, o negócio é sério, esta estrada é meu quintal, e conheço bem cada curva. Este hatch com tração dianteira, 136 cv e pneus 195/55 R16 não vai ter chance. Bom, não devia ter chance, mas agora já estou usando tudo do carro e do meu conhecimento da estrada, e nada deste carrapato sair da minha traseira… Caramba, realmente não esperava isso. Bom, ok, eu devia ter sido mais esperto, devia esperar que o MINI fosse muito bom em estrada truncada; estabilidade incrível sempre foi sua raison d’être, e sua mais conhecida qualidade. OK, OK, não vou me livrar dele aqui neste lugar. Mas ali em frente, depois daquela curva, que vou fazer direitinho e sair de motor cheio e traseira um pouquinho de lado, tem uma reta suficientemente grande para fazer meu seis-em-linha gritar alto e despachar esse maldito carrinho metido a besta. Esse seis debaixo do meu capô pode ter quase 20 anos de idade e apenas 193 cv, mas tem uma saúde danada, suficiente para acabar com essa irritante perseguição.
Bem meninos, para minha completa surpresa, não consegui tirar o diabo do carrinho vermelho da minha cola. Ganhei um pouquinho de distância na reta, mas longe do “tchauzinho camarada, até mais” que esperava. Barrabás… Na primeira oportunidade parei para conversarmos e para dar uma olhada melhor no carrinho. Ele definitivamente me chamou a atenção.
O carro pertence a um amigo. Na verdade, é o carro da esposa dele, um carrinho com câmbio automático (ah, cúmulo da humilhação), usado para o dia-a-dia dela. Quando combinamos este passeio, achei que ele viria com seu BMW 328GT novinho, que já conhecia de outros passeios que fizemos. Quando o vi chegar no nosso ponto de encontro com o MINI, achei que ele teria dificuldades em me acompanhar; no fim, a diferença de desempenho do MINI para a perua é a mesma da perua para o BMW novo dele. E em curvas, ambos os carros novos estão anos-luz à frente de minha pobre E36 em velocidade.
Carros modernos evoluíram muito em segurança ativa nos últimos cinco~dez anos. Devido, acredito, a pneus cada vez melhores, e à evolução no entendimento de o que faz um carro desgarrar (conhecimento que apareceu como efeito colateral dos desenvolvimento de sistemas de controle de estabilidade eletrônicos), a capacidade de fazer curvas dos carros modernos não cessam de me impressionar positivamente. Claro, existem exceções, mas hoje mesmo carros simples e baratos são ótimos.
Num carro feito para ser bom em curvas, como o MINI Cooper vermelho que falamos aqui, mesmo com tração dianteira e pneus de tamanho contido, o resultado é nada menos que incrível. O carrinho realmente está em casa nas serras travadas, sendo completamente previsível, seguro e com aderência fenomenal. Os freios são ótimos, e o ABS nunca atrapalha. Pode parecer uma bobagem falar que o ABS não atrapalha, mas acreditem, ainda existem empresas que erram feio aqui, e fazem sistemas de ABS muito conservadores, que atrapalham a diversão e a condução esportiva. E fazer isso certo não é novidade nenhuma: a minha perua 1996 tem um ABS que nunca atrapalha também, mesmo andando forte.
O MINI Cooper — antes que eu me esqueça, esse MINI em maiúsculas parece estranho, mas é como a fábrica escreve hoje e deve-se respeitar — é um carro totalmente novo, lançado ao final de 2013, a quarta geração do modelo. Sua versão básica aqui para o Brasil é esta do meu amigo, equipada com um três-cilindros de 1,5 litro incrivelmente avançado. Trata-se de um motor BMW compartilhado com alguns carros da marca, que é dona da MINI e arquiteta de seu renascimento. Com duplo comando de válvulas, quatro válvulas por cilindro, injeção direta, duplo variador de fase nos comandos (VANOS), e turbina de dupla voluta, produz 136 cv e 22,4 m·kgf já a partir de apenas 1.250 rpm e assim vai até 4.000 rpm. O câmbio é um automático epicíclico de seis marchas ZF.
Este motorzinho minúsculo em tamanho (mas que ruge feito gente grande) ajuda a fazer um carro leve também: são apenas 1.115 kg em ordem de marcha, o que explica o desempenho próximo ao da minha 328i: ela tem 193 cv e 28 m·kgf de torque, mas pesa mais de 1.400 kg. Cada cavalo-vapor do MINI, portanto, tem que levar 8,2 kg, apenas 0,95 kg (13%) a mais que minha perua. Em torque, inverte, 50 kg/m·kgf contra 49,8 kg/m·kgf, uma diferença de 0,4% para o MINI. E o torque máximo do MINI aparece logo a 1.250 rpm, se mantendo constante até 4.000 rpm, enquanto a 328i só chega a seu máximo pertinho de 4.000rpm…
Andando com o MINI Cooper
Apesar de sempre aclamado pela crítica como um carro ótimo de se dirigir, em todas as suas quatro gerações — a primeira foi a “Mr. Bean”, a segunda, de 2001 (quando passou a MINI), a terceira veio em 2006 e a quarta, no final de 2013 — o MINI moderno nunca foi algo que eu desejasse. E os motivos sempre foram mais filosóficos que práticos.
Explico: o Mini original era um carro urbano que revolucionou o empacotamento de componentes. Criado para evoluir o automóvel melhorando-o naquela que era sua função mais básica, a de transporte, era um carro sério, criado pelo sério engenheiro Alec Issigonis em 1959. Era uma revolução: 80% de seu volume total estava disponível para passageiros e carga. O fato de que era excelente em curvas era quase uma mera consequência de um projeto bem feito. Apesar de famoso como um carro divertido para andar rápido, todo Mini original, mesmo os Cooper, eram lentos.
O novo mantinha um desenho externo familiar, e a tração dianteira, hoje norma na indústria. Mas o resto não tinha nada a ver com o original. Era um carro esporte de tração dianteira e design retrô, comparativamente enorme por fora e pequeno por dentro. Um travesti de Mini, uma deturpação do conceito original. Um falso acessório de moda para gente que desconhece história.
Mas isto foi em 2001. Mais de 10 anos depois, duas gerações depois, não há dúvida de que este novo conceito de MINI, mesmo que histórica e filosoficamente dúbio, acertou em cheio os desejos de uma multidão de gente, e hoje é uma marca de grande sucesso, consolidada. O Mini original ficou no passado, substituído por este novo tipo de MINI. E finalmente vou dirigir um. Sim, precisei de 14 anos para me acostumar com a idéia do MINI BMW, e andar nele sem preconceitos.
O carrinho, como era de esperar, é muito bom. Não poderia deixar de ser, vindo de onde vem. O interior é bem espaçoso na frente, mas apertado atrás. O painel de instrumentos, de qualidade óbvia, mas um pouco superdesenhado demais, como todo o carro (inevitável, é parte de seu DNA), mas agradável. Chamam a atenção as colunas “A” (dianteiras) bem verticais, decorrentes do desenho externo característico.
Andei por pouco tempo com ele, sempre em modo Sport. Existem mais dois modos, Comfort e Normal, que alteram resposta do motor, câmbio e direção. No caso do motor, em Sport a pressão do turbo aumenta 1 bar (overboost). O volante tem aro bem grosso, talvez até um pouco grosso demais para meu gosto, mas gostoso de usar. Como todo carro moderno, é isolado, mas extremamente preciso e com o peso do volante variável de forma ampla, ajudando a manter o carro na direção pretendida sempre. Costumava reclamar de direção isolada, que não manda mensagens do solo constantes, mas hoje não: as direções modernas são um complemento de carros modernos, muito diferentes dos que tínhamos 20 anos atrás (ops, eu ainda tenho). A grande vantagem, que trocamos pela comunicação direta com a cremalheira e as rodas, é que o carro moderno é muito mais fácil e seguro para andar rápido.
E confortável. No começo, mesmo acelerando bem, mas fazendo curvas com calma para entender o carro, achei que não ia gostar. Apesar de firme e rígido de carroceria, parecia isolado demais, confortável demais, um módulo de transporte. Silêncio total, conforto, suavidade, mas nada de diversão. Mas foi só apertar o ritmo para mudar de idéia rapidamente.
O carrinho tem um excelente torque desde sempre, e acelera com um vigor danado, com um ronquinho bem legal nas partes mais altas do conta-giros. O câmbio é excelente, troca rápido e tão suavemente que parece invisível, e é quase somente o som e o conta-giros denunciam as trocas. O MINI realmente gosta de andar rápido, e parece que acorda e se alegra fazendo isso.
Não rola aparentemente nada. A suspensão é firme, precisa, e a aderência parece não ter fim. E, claro, sem maltratar as costas: o conforto é total mesmo em terreno não muito liso. Um milagre moderno antes impossível, e que é fácil de se acostumar.
O automóvel continua progredindo a passos largos, e o novo MINI Cooper é mais um exemplo: mais leve e mais potente que o carro que substitui, é também mais econômico e menos poluidor. Consegue ser confortável, e ainda rápido e divertido como um carro esporte . Econômico e tranqüilo no dia-a-dia e uma diversão no fim de semana na serra. Impressionante.
E mais: extremamente fácil de se dirigir rápido. Outra coisa que impressiona sempre nos carros esportivos modernos é isso, a facilidade e tranqüilidade para se andar rápido. Não precisa punta-tacco, não precisa cuidado no acelerador na saída, não precisa trocar marcha. Você freia, aponta a direção e aperta o acelerador, e boa. Qualquer um faz. Incrível.
Mas mesmo assim, por melhor que seja o automático, acho que este carrinho ficaria seriamente legal com o câmbio manual de seis marchas… E nem quero imaginar o Cooper S de dois litros! Este, melhor nem tentar acompanhar!
MAO
FICHA TÉCNICA MINI COOPER | |
MOTOR | |
Tipo | Três cilindros em linha, transversal, bloco e cabeçote de alumínio, duplo comando de válvulas, corrente, variador da fase na admissão e no escapamento, 12V, árvore contra-rotativa de balanceamento |
Diâmetro x curso | 82 x 94,6 mm |
Cilindrada | 1.499 cm³ |
Formação de mistura | Injeção direta |
Aspiração | Forçada por turbocompressor de dupla voluta |
Potência | 136 cv de 4.500 a 6.000 rpm |
Torque | 22,4 m·kgf de 1.250 a 4.000 rpm (overboost 23,4 m·kgf) |
Corte de rotação | 6.500 rpm (sujo) |
Taxa de compressão | 11:1 |
TRANSMISSÃO | |
Câmbio | Transeixo automático de 6 marchas, tração dianteira |
Relações das marchas | 1ª 4,46:1; 2ª 2,51:1; 3ª 1,56:1; 4ª 1,14:1; 5ª 0,85:1; 6ª 0,67:1; Ré 3,19:1 |
Relação do diferencial | 3,68:1 |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, McPherson, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora, com subchassi |
Traseira | Independente, multibraço, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora |
DIREÇÃO | |
Tipo | Caixa de pinhão e cremalheira, assistência elétrica indexada à velocidade |
Diâmetro mínimo de curva | 10,8 m |
FREIOS | |
Dianteiros | A disco ventilado |
Traseiros | A disco |
Controle | ABS e EBD |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Alumínio, 6,5Jx16 |
Pneus | 195/55R16 |
CONSTRUÇÃO | |
Tipo | Monobloco em aço, hatchback, 2 portas, 5 lugares |
AERODINÂMICA | |
Coeficiente aerodinâmico | 0,28 |
Área frontal | 1,95 m² (calculada) |
Área frontal corrigida | 0,546 m² |
DIMENSÕES | |
Comprimento | 3.821 mm |
Largura | 1.727 mm (1.932 mm com espelhos) |
Altura | 1.414 mm |
Distância entre eixos | 2.495 mm |
Bitola dianteira/traseira | 1.500/1.500 mm |
Distância mínima do solo | 125 mm |
PESO | |
Em ordem de marcha | 1.115 kg |
Carga útil | 450 kg |
DESEMPENHO | |
Velocidade máxima | 210 km/h |
Aceleração 0-100 km/h | 7,8 s |
CAPACIDADES | |
Tanque de combustível | 40 litros |
Porta-malas | 210 litros |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em 6ª | 45,2 km/h |
Rotação a 120 km/h em 6ª | 2.650 rpm |
Rotação à vel. máx. em 5ª | 5.900 rpm |