O Nissan March até que tem aparecido bastante aqui no Ae, mas ainda estava faltando um ‘no uso’ com o motor 3-cilindros que iniciou as vendas em março último. Quando apareceu a chance de testá-lo eu mas que depressa me candidatei, pois venho de uma série de muitos carros menos acessíveis à grande maioria. Além do que eu também queria andar de 3-cilindros. Então já fui buscar o March bem preparado psicologicamente.
Eu já tive vários carros de 1 litro. Só passei para 1,4 quando fui comprar um 1-litro bem equipado e o vendedor me convenceu que por pouca coisa a mais eu levaria um conjunto melhor. Era pouco mesmo. Mas o carro era para minha esposa que roda no máximo 5.000 km por ano e só na cidade. O 1-litro seria mais que suficiente.
E com os modelos mais recentes beirando ou ultrapassando os 80 cv de potência, bem completos nos equipamentos básicos, e com uma boa economia de combustível, em termos de necessidades racionais os 1-litro atendem bem, muito bem. Outro dia alguém escreveu que considera os 1-litro perigosos. Eu já acho que perigoso é o motorista que não sabe bem qual é a capacidade dos seu carro. E diga-se de passagem, deve ser a grande maioria. Claro que carros 1-litro são bem mais lentos em retomada e levam um tempo bem maior para recuperar velocidade. Mas um bom motorista deveria saber disso e se comportar tendo as limitações em mente. Por exemplo, em subidas deveria sempre ficar na direita e evitar ultrapassagens; nestas, em vias de mão dupla, deve considerar muito antes de se colocar em risco. Não é o carro que o coloca em risco, nunca. E acima de tudo, o bom motorista deve saber usar o câmbio para explorar o motor ao máximo. Então não sofri nem um pouco nos mais de 800 km que rodei com o March.
Logo que sentei ao volante e saí andando tive três impressões iniciais. Eu gosto de guardar bem essas impressões e reavaliá-las ao final do teste. Isso no caso delas serem negativas ou positivas, mas algumas vezes não há esse caráter de bom ou ruim, são apenas constatações.
No caso do March a primeira impressão que tive é de que ele tem o ponto “H” (altura do acento) mais elevada. Ajustei a a altura do banco no mínimo e continuei me achando alto. Sabidamente prefiro carros baixos por um motivo muito simples: quanto mais baixo melhor o comportamento dinâmico (claro que generalizando a afirmação). Mas o March 1-litro é um citadino típico e não há necessidade ou propósito prático em ser baixo. E o assento um pouco mais alto tem suas vantagens. Todos os de estatura mais baixa adoram. As mulheres adoram e agora os homens que estão se acostumando com suves e crossovers também estão gostando. A altura mais elevada, de fato, proporciona uma visão um pouco melhor e ainda há outra vantagem, o conforto para entrar e sair do carro.
Outro ponto que notei imediatamente é o conforto de rodagem. O conjunto pneus (185/60R15), suspensão, e bancos, que são todos os amortecedores entre o chão e o nosso corpo, absorve muito bem as imperfeições do piso. Já vou aproveitar e falar da suspensão. Diante dessa primeira impressão achei que o March fosse mole demais. Mas não é. Seu conjunto McPherson e eixo de torção é muito bem calibrado e aceita bem uma tocada mais forte. Pude experimentar bem na Serra de Campos do Jordão. O conforto é aumentado pela maciez da espuma dos bancos. Por outro lado, os bancos quase não têm suporte algum em curvas, onde devido à altura (o March é o mais alto do segmento, com 1.526 mm de altura) há uma rolagem um pouco maior quando se exige mais. Porém na cidade ele é bem gostoso. Apenas em piso muito irregular a suspensão se perde um pouco, talvez pelo curto entreeixos (2.450 mm).
E minha terceira impressão é o sobre o que todo mundo quer saber, o motor 3-cilindros. Já de saída sente-se um som bem diferente. Mas esse som tem mais relação com a caixa de ar, pois o motor é bem liso. Quando eu tinha uns 16 anos meus amigos tiravam os filtros de ar de suas motos 125, CG e RD, para deixar o som de aspiração mais grosso. Esse é mais ou menos o som do March enquanto o motor enche. E ele também apresenta uma sensação diferente. Muita gente pode se enganar em um primeiro momento achando que ele vibra mais. Não vibra mais, vibra diferente. Com o uso a gente vai se acostumando e até gostando.
O Bob já descreveu com detalhes as características desse motor quando o March foi apresentado a imprensa em janeiro. Mas vou dar uma relembrada, pois as vendas só começaram em março. O novo motor HR10 teve sua potência aumentada em 3 cv em relação ao motor anterior (Renault D4D) passando a 77 cv a 6.200 rpm e o torque foi mantido em 10 m·kgf, mas agora a 4.000 rpm ante 4.350 rpm no motor substituído. O 3-cilindros tem um duplo-comando com acionamento por corrente e variador de fase na admissão, 4 válvulas por cilindro e coletor de admissão bem longo para privilegiar o enchimento dos cilindros em baixa. É um conjunto bem moderno só faltando o variador de fase no escapamento (que o 1-L Ford tem). O curioso é a aceleração de zero a 100 km/h caiu de 13,9 para 15 segundos, com álcool. A velocidade máxima informada é de 154 km/h, perdendo bastante para o 4-cilindros, em que era informado 167 km/h E o consumo de combustível não melhorou tanto assim, ao menos no papel.
Segundo o Inmetro/PBEV: cidade 12,9 e 8,8 km/l (gasolina/álcool); estrada, 15,1 e 10,3 km/l, idem. Com o outro motor, 10,7 e 8,7 km/l e 14,8 e 12,5 km/l, mesmas ordens. Na cidade, em São Paulo, minha média foi 11,4 km/l com gasolina, chegando a 11,8 e depois caindo para 10,6. A melhor média que eu já consegui fazer, talvez durante toda minha vida. E olha que não dou moleza para o pedal direito. Talvez o que justifique mais essa alteração seja o fato de agora o March 1-litro ter um coração Nissan e fabricado no Brasil, em Resende (RJ). E ainda acho que logo esses 3-cilindros vão ganhar mais alguns cm³ e receber um turbinho para equipar as versões mais caras.
Mas os números nem sempre revelam tudo. A caixa não mudou com o novo motor, exceto a quinta ficou mais longa. O March tem 1ª e 2ª marchas bem curtas, algo em torno de 10% mais curtas que na versão com motor 1,6-litro (sendo 3ª e 4ª as mesmas para as duas versões. Isso o deixa bem espertinho nas arrancadas, mas há um espaçamento um pouco maior entre a 2ª e a 3ª. Não chega a ser um buraco, a Nissan não faria isso, mas nitidamente se sente a perda de fôlego. Como na cidade não se chega nunca a 100 km/h eu suspeito que em medição de zero a 60 km/h o March se saia parelho com os outros 3-cilindros do mercado. No caso o up! faz o zero-a-100 km/h em 12,4 segundos, o Ka em 13,9 e o HB20, em 14,9.
Um ponto de destaque do March é o trambulador. O acerto de primeira linha. Muito importante especialmente num 1-litro, que exige exercício constante do braço direito e perna esquerda. Isso tanto na cidade quanto na estrada. E a embreagem também excelente, macia sem ser muito mole e com um curso na medida exata. Não me cansei nem um pouco. Na estrada, quem quiser acompanha o tráfego bem próximo do limite de velocidade, 120 km/h, tem que trabalhar. Não dá para ficar dando sopa, não, pois nos aclives se chama a terceira com facilidade. A versão testada, a topo de linha dos 1-litro, a SV, tem isolante acústico no capô. Mas mesmo assim a 120km/h o ruído interno poderia ser menor. Não me incomodei muito na viagem para Campos pois o sistema de áudio, de série na versão SV, é de primeira linha também. Excelente qualidade do som quase sem distorção alguma e pela conectividade muito fácil, seja pelo Bluetooth para o telefone, com comando no volante, ou usando as entradas USB ou auxiliar. Essas entradas ficam alojadas em um cantinho abaixo do porta-luvas e evitam ter os fios pendurados diretamente no áudio como em alguns modelos.
O March é um carro muito urbano. Em tamanho apenas o up! é menor que ele. Seus retrovisores, apesar da boa visibilidade também são pequenos. A direção tem assistência elétrica regressiva com a velocidade, com uma calibração muito bem acertada também. Junte-se a isso um diâmetro de giro de apenas 9 metros, altura mais elevada e 1ª e 2ª mais curtas e aí dá para entender bem sua vocação. Eu usei e abusei dele na cidade, fiz duas balizas incríveis estacionando em vagas com no máximo 20 cm de folga na frente e atrás. Fazia tempo que eu não estacionava tão bem. Com o entreeixos bem curto, o espaço traseiro não é tão generoso. “Bob atrás do PK” vai mais ou menos; “Bob atrás do Bob’ até que vai bem. Carros altos melhoram a sensação de espaço, mas nada ajudam para as pernas. O porta-malas tem 265 litros, em linha com o segmento, mas o espaço é muito bem aproveitado, pois as caixas de roda quase não invadem o compartimento. E o estepe é operacional.
O acabamento interno é muito bom e bem-feito. Acho apenas que texturas mais modernas podem das um aspecto mas moderno e agradável. Na versão SV o nível de equipamentos é muito bom com todos os equipamentos necessários. Outro destaque é o ABS com assistência de frenagem, um diferenciador no segmento.
Meu corpo foi muito bem tratado pelo March. Some-se a isso um bom nível de equipamentos e a confiabilidade tradicional das marcas japonesas, e tem-se uma boa opção para um transporte urbano. A versão testada, SV, tem preço sugerido de R$ 41.000 (tire R$ 10 para saber o preço exato…).
Nesse primeiro trimestre de 2015 a Nissan ocupou o 9º lugar em emplacamentos, ficando atrás de Toyota e Honda. Mas as duas japonesas emplacaram pouco mais que o dobro da Nissan. No entanto, agora a Nissan parece estar acertando sua oferta de produto para o Brasil, mas ainda tem o desafio de conquistar novos clientes, o que está cada vez mais difícil, pois todas as marcas estão se mexendo a presentando boas opções.
Só falta mesmo a Nissan informar a velocidade máxima, embora dê para estimar que seja ao redor de 160 km/h. Mas é sempre bom ter esse dado oficial da fábrica. Afinal, é um direito da imprensa e, principalmente, do consumidor, tê-lo.
Nota: A Nissan informou em 8/05/15 que a velocidade máxima é 154 km/h.
Gostei: conforto, consumo de combustível e sistema de áudio
Pode melhorar: desempenho, texturas e acabamentos internos
PK
Fotos: autor
FICHA TÉCNICA NISSAN NEW MARCH 1,0 SV (3-cilindros) | |
MOTOR | |
Designação | HR10 |
Instalação | Dianteiro, transversal |
Material do bloco/cabeçote | Alumínio/alumínio |
Configuração/nº de cilindros | Em linha / 3 |
Diâmetro x curso | 78 x 69,7 mm |
Cilindrada | 999 cm³ |
Taxa de compressão | 11,2:01 |
Potência máxima | 77 cv a 6.200 rpm (G/A) |
Torque máximo | 10 m·kgf a 4.000 rpm (G/A) |
Nº de válvulas por cilindro | Quatro |
Nº de comandos de válvulas/ acionamento/ localização | Dois/corrente/cabeçote |
Formação de mistura | Injeção eletrônica no duto, acelerador eletrônico |
Combustível | Gasolina comum e/ou álcool |
TRANSMISSÃO | |
Rodas motrizes, câmbio | Dianteiras, manual |
Nº de marchas | Cinco à frente + ré |
Relações das marchas | 1ª 4,091:1; 2ª 2,238:1; 3ª 1,393:1; 4ª 1,029:1; 5ª 0,795:1; ré 3,546:1 |
Relação do diferencial | 4,500:1 |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, braço triangular, mola helicoidal e amortecedor pressurizado com batente hidráulico |
Traseira | Eixo de torção, mola helicoidal e amortecedor pressurizado |
Curso da suspensão dianteira | 146 mm |
Curso da suspensão traseira | 203 mm |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira com assist. elétrica indexada à velocidade |
Diâmetro mínimo de curva | 9 m |
Relação de direção | 18,3:1 |
Voltas entre batentes | 3,4 |
FREIOS | |
Comando | Hidráulico, duplo circuito em diagonal, servoassistido a vácuo |
Dianteiros | A disco ventilado Ø 260 mm |
Traseiros | A tambor Ø 203 mm |
Controle | ABS, EBD e auxílio à frenagem |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Alumínio, 6Jx15 (estepe de aço) |
Pneus | 185/60R15H (Bridgestone Turanza ER300) |
PESO | |
Em ordem de marcha | 964 kg |
CONSTRUÇÃO | |
Tipo | Monobloco em aço, hatchback, 4 portas, 5 lugares, subchassi dianteiro |
AERODINÂMICA | |
Coeficiente de arrasto | 0,33 |
Área frontal (calculada) | 2,04 m² |
Área frontal corrigida | 0,673 m² |
DIMENSÕES EXTERNAS | |
Comprimento | 3.827 mm |
Largura sem espelhos | 1.675 mm |
Altura | 1.526 mm |
Distância entre eixos | 2.450 mm |
Bitola dianteira/traseira | 1.470/1.475 mm |
CAPACIDADES | |
Porta-malas | 265/1.132 litros (VDA) |
Tanque de combustível | 41 litros |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h | 15 s (A) |
Velocidade máxima | 154 km/h |
CONSUMO (Inmetro) | |
Cidade | 12,9 km/l (G), 8,8 km/l (A) |
Estrada | 15,1 km/l (G), 10,3 km/l (A) |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em 5ª | 30,9 km/h |
rpm a 120 km/h em 5ª | 3.890 rpm |
rpm em velocidade máxima (4ª) | 6.470 rpm |
(Atualizado em 8/05/15 às 15h20, informação de velocidade máxima)