Um amigo meu dono de uma agência de viagens tem algumas teorias interessantes. Uma delas diz que a distância mais curta entre dois pontos é um vôo sem escalas. Nada mais verdadeiro, especialmente para mim que adoro planejar férias baseada na logística e ficar de olho nos mapas, distâncias e horários. Prefiro gastar alguns dólares a mais e economizar tempo em escalas e conexões. Férias para mim são algo precioso e gosto de aproveitar cada momento. Outra teoria dele é que qualquer casal, por mais que combine, acaba discutindo quando está num carro viajando. Não que ele não incentive isso, ao contrário, ele acha que alugar um carro e sair pelas estradas é uma excelente forma de viajar, fez apenas uma constatação. Na minha opinião, nada mais verdadeiro.
Acredito que poucos casais combinam tanto quanto meu marido e eu — embora tenhamos personalidades totalmente opostas, nos amamos muito e nossos gostos são muito parecidos. É impressionante como até os pratos que escolhemos num restaurante são os mesmos. Mas isso não impede tremendas confusões dentro do habitáculo de um carro. Ah! Daria para escrever um livro…
Já contei neste espaço que ele, como a maioria dos homens, se recusa a parar e pedir explicações sobre como chegar a algum lugar. Em São Paulo é totalmente Waze-dependente. Chego a ter ciúmes da Raquel e tenho pesadelos com aquela voz dizendo “Estamos prontos? Então, vamos!”. Mas, o que fazer quando o Waze trava, ou estamos fora do Brasil? Ou quando eu como navegadora me perco com o GPS ou não há sinal? Claro que ele não vai parar para que esta que vos escreve desça do carro e pergunte como chegar a algum lugar. Pois eu, como a maioria das mulheres, não só não me importo em fazer isso como prefiro do que ficar perambulando por sei-lá-eu-onde. E também já contei que uma vez, esgotados todos os argumentos sobre por que ele se recusava a parar para que eu pedisse ajuda ele me respondeu “nós não estamos perdidos. É apenas uma questão de tempo até eu saber onde estamos”. É impressionante o leque de justificativas que os homens têm para explicar por que não se deve parar para pedir ajuda. Parece ser como corrupção no Brasil — sem fim.
Mas vamos voltar à questão das discussões no carro. Sempre fui considerada uma pessoa precisa na escrita e na fala. Aliás, todo mundo diz que escrevo como falo, o que é verdade — mas escrevo menos do que falo, para sorte de vocês, leitores. Gosto muito do vernáculo e adoro a exatidão das palavras. Gosto de usar a palavra certa para aquilo que quero expressar. E faço isso com ainda mais cuidado quando estou no banco número dois no carro, como navegadora. Mesmo se não sei se temos que escolher direita ou esquerda numa bifurcação e é preciso tomar uma decisão rápida pois quem está dirigindo não sabe, digo uma direção. Se estiver errada, depois corrijo, mas não dá para parar numa estrada. Prefiro seguir em frente e depois procurar um retorno do que deixar o piloto na dúvida. Ele já tem muita coisa para se preocupar e eu como navegadora tenho obrigação de dizer qual o caminho a seguir.
Claro que isso significa errar às vezes. Em minha defesa, poucas vezes acontece, mas como gostamos muito de dirigir por aí, estamos (muito) sujeitos a isso. Acredito que o caso mais folclórico tenha sido aqui mesmo, em terras tupiniquins. Ou pelo menos virou anedota familiar do quanto a minha precisão pode ser totalmente inútil diante do imponderável.
Voltávamos de Petrópolis para o Rio num carro alugado e erramos a estrada. Em épocas pré-GPS e Waze descobrimos que as placas indicavam que estávamos indo em direção a Minas Gerais. A estrada era a certa, mas a direção estava errada. Andamos quilômetros sem encontrar um único retorno até que ao avistar um posto de gasolina meu marido decidiu entrar para improvisar uma volta entre as bombas de combustível. Genial. Tinha até faixa pontilhada entre as duas pistas. Pena que o posto ficava perto de uma curva – sim, não me perguntem de quem foi a idéia de fazer isso, mas só percebemos a falta de visibilidade quando tentamos voltar para a estrada, para o lado que devíamos ir. Como sempre fazemos, dividimos nossas atribuições. Ele ficou encarregado de olhar para a esquerda e eu para a direita e avisar quando poderia acelerar, já que seria impossível ele olhar para os dois lados ao mesmo tempo e o trânsito era intenso. Sempre fazemos isso e costuma dar certo. Diria que confiamos cegamente um no outro, tanto é que quem está ao volante simplesmente acelera quando o outro diz que pode ir. Mas o destino é irônico e sempre tem um diabinho escondido prestes a aprontar alguma.
Como o trânsito era pesado (e lembrem-se que eu sou extremamente precisa), várias vezes indiquei quando ele podia ir, mas ora um lado, ora o outro não permitiam. Até quando avistei um “buraco” entre carros e disse com firmeza: “depois do Fusca azul”. E, claro, quando o Fusca azul passou pelo raio de visão do meu marido, e como o lado esquerdo estava livre, ele acelerou e entrou na estrada. E quase sofremos um baita acidente. Como? Um raio de um segundo Fusca azul saiu de trás da gente de dentro do posto para entrar exatamente do mesmo lado da estrada, na frente do Fusca azul que vinha e ao qual eu me referia. Dá para acreditar que apareceram DOIS Fuscas azuis no mesmo trecho da estrada, no mesmo sentido? Eu não poderia ter sido mais precisa, meu marido não poderia ter sido mais cuidadoso, mas alguém lá em cima quis brincar conosco. Quando nossos corações voltaram a bater num ritmo medianamente razoável e entendemos o que tinha acontecido… ufa! Hoje damos risada, mas no dia rolou a maior DR dentro do carro. Mas continuamos confiando cegamente nas indicações um do outro, apesar de que as dele continuam sendo “vai” e as minhas “depois do Celta vermelho”.
Um Fusca azul já é raro, mas um atrás do outro? Nem na internet achei dois para ilustrar a coluna!
Mudando de assunto: Estou um pouco atrasada, mas não queria deixar de comentar. Em fevereiro quase assumiu o cargo de superintendente do Departamento de Estradas e Rodagem (DER) do Distrito Federal Roberto Leda, funcionário de carreira do órgão. E qual o problema nisso? Quem deveria fiscalizar colecionava, ele próprio, 62 multas em seis anos num total de 276 pontos na carteira, algumas delas gravíssimas como avanço do sinal vermelho. Quando entrevistado pela TV Globo, se disse um bom motorista. E saiu dirigindo o próprio carro — com apenas uma das mãos, a outra visivelmente para fora do carro. Mas a “punição” foi somente ele não ser promovido, pois ele continua nos quadros do DER-DF.
NG
Foto de abertura: huffingtonpost.com
Foto da chamada: galleryhip.com
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