Algumas fábricas e concessionárias derrapam feio na integridade de seus automóveis
Mesmo o carro zero-km exige atenção para não se levar gato por lebre. A seguir, sete (não é a conta de mentiroso?) destas enrolações:
“Coisa à-toa” – Verifique cuidadosamente a pintura do carro. É comum um pequeno acidente ao descer da cegonha ou ao manobrar no pátio. Mas, não aceite a repintura pois concessionária nenhuma de marca alguma no mundo é capaz de pintar com a mesma qualidade que a fábrica. Pela impossibilidade de mergulhar a carroceria num super-tanque para receber a tinta básica protetora. Ou por ser impossível secar a pintura numa estufa com a mesma temperatura da fábrica, pois plásticos e outros componentes derreteriam. Então, a repintura — “coisa à-toa” segundo o prestimoso vendedor — pode resultar em mancha ou diferença cromática que desvaloriza o carro.
Asiático – Nada contra pneus de países asiáticos: algumas marcas coreanas ou chinesas oferecem produtos de qualidade apesar de mais baratos. Mas, preferível evitar o carro zero equipado com eles, pela dificuldade na reposição. Imagine um pneu danificado num buraco: onde comprar outro para substituir? Se a marca não é tradicional e não tem rede de lojas, não arrisque.
Dose Dupla – Atenção redobrada com o pneu sobressalente. Primeiro, pela colocação: ele nem sempre fica no porta-malas, mas acomodado sob a carroceria, exigindo malabarismo na hora da troca. Mulher detesta. Outro cuidado é verificar se a marca do estepe é a mesma dos outros quatro: quando o estoque de pneus está baixo, algumas fábricas montam o automóvel sem a roda sobressalente. Quando chega nova remessa do fornecedor, ela monta o estepe e o leva para o automóvel. Entretanto, esta nova remessa pode ser de outro fornecedor, o que contraria a recomendação de não se usar pneus de marcas diferentes.
Vitrificação – Ou espelhamento, ou cristalização, é um serviço oferecido por algumas concessionárias para “proteger” a pintura do carro zero-km. Mas o automóvel vem de fábrica com um verniz para protegê-lo. E a vitrificação começa exatamente com uma lixa na pintura, eliminando este verniz. É um serviço recomendável, mas só depois de dois ou três anos, quando a pintura já desbotou ou perdeu o brilho. Jamais num carro zero-km.
Test-drive – Muitos motoristas dão uma volta no carro antes de comprá-lo, para ter certeza de atender as suas exigências. Poucos percebem que seu desempenho pode deixar a desejar, pois o test-drive costuma ser realizado apenas com o cliente acompanhado do vendedor. Só depois de levá-lo para casa é que percebe seu fraca desempenho. Às vezes, o “possante” não dá conta nem de sair da garagem subterrânea se estiver com toda a família e bagagem.
Duas cabeças – Não se trata de nenhum monstro, mas do automóvel que tem ano de fabricação diferente do ano modelo, como 2014/2015. O vendedor insiste que ele tem mesmo preço que o 15/15, mas, quando o freguês volta três anos depois para trocá-lo por um novo, o mesmo vendedor diz que “infelizmente o carro é duas cabeças e vale menos”.
Golpe baixo – O cliente compra o carro zero e pede à concessionária para instalar um acessório. Ela cobra preço de equipamento original, mas coloca outro de marca não homologada pelo fabricante. Se o freguês protesta, ela afirma honrar a garantia. Puro golpe baixo, pois se o cliente, numa viagem, por exemplo, tiver que levar o carro para reparo em outra concessionária, adeus garantia….
BF
Boris Feldman, jornalista especializado em veículos e colecionador de automóveis antigos, autoriza o Ae a publicar sua coluna veiculada aos sábados no jornal Hoje em Dia, de Belo Horizonte (MG).
Foto de abertura: ghsspadecarros.com.br
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de total responsabilidade do seu autor e não reflete necessariamente a opinião do AUTOentusiastas.