É incrível como ao longo da história o conceito de que velocidade mata se mantém e, em alguns casos, se acentua. Em 1865, na Inglaterra foi promulgada a Lei da Bandeira Vermelha, em que à frente de cada veículo automotor deveria haver um homem à frente caminhando e agitando uma bandeira vermelha, ou seja, a 4~6 km/h. Outro dia li que se achava que acima de 100 km/h o corpo não resistiria. Ou seja, associou-se velocidade à morte. No mundo inteiro as velocidades-limite, em especial as rodoviárias, são normalmente baixas, em uns países mais que em outros, fugindo inteiramente do bom senso.
Com a justificativa de que velocidade mata, o Brasil está passando por um processo de redução de velocidade inadmissível, especialmente levando em conta que os automóveis melhoram cada vez mais em questão de segurança ativa, a que dá condições ao motorista de evitar acidentes, notadamente suspensão e pneus. Está mais do que evidente, porém, que sob essa justificativa esconde-se o real motivo dessas reduções, que é arrecadar para os cofres dos três níveis de administração por meio de multas. É vergonhoso.
Velocidades são estabelecidas sem qualquer estudo, o mesmo para construção de lombadas, esses verdadeiros dejetos viários que infernizam a vida de todos, não só de motoristas. Passageiros de veículos de transporte coletivo também estão sujeitos aos solavancos produzidos por esses dejetos, com a agravante de haver gente sendo transportada como quadrúpedes, ou seja, de pé.
Aliás, é absolutamente inadmissível que se ande de pé nos ônibus, uma solução adotada quando começou a Segunda Guerra Mundial em 1939 e os combustíveis foram racionados. Isso precisa acabar em nome da segurança, uma vez que à menor freada os passageiros são atirados para frente. Até nas arrancadas as pessoas podem cair e se machucar, e isso acontece.
Na questão de velocidade, a prefeitura de São Paulo, pela Secretaria Municipal de Transportes, administrada pelo petista (só podia) Jilmar Tatto, vem anunciando redução de velocidade nas vias expressas que margeiam os rios Tietê e Pinheiros alegando necessidade de reduzir acidentes e atropelamentos. Deslavada mentira.
Primeiro, acidentes, quando ocorrem, não é por trafegar a 90 km/h, o atual limite, mas bem acima disso, não é preciso ser perito para concluir isso. Segundo, não há travessia de pedestres nas vias expressas, que nem faixas de segurança e semáforos têm. Nelas não se atravessa e ponto final, é como se fosse uma rodovia.
Passando para ruas e avenidas, todas as colisões e atropelamentos resultam de velocidade muito acima do limite, do dirigir tresloucadamente ou então de motoristas bêbados — mas bêbados de fato, não quem bebeu moderadamente, como permitia a redação original do Código de Trânsito Brasileiro, alcoolemia de até 0,6 gramas de álcool por litro de sangue ou 0,3 mg de álcool por litro de ar dos pulmões e que foi alterado imbecilmente por quem não tem noção de direção e de automóvel, criando-se essa idiotice chamada de “Lei seca”.
O AUTOentusiastas não defende velocidades elevadas, como alguns leitores menos esclarecidos acham, longe disso, mas exige velocidades coerentes, em que se dirija normalmente sem precisar ficar de olho pregado no velocímetro, como ocorre hoje, obviamente tirando os olhos da via constantemente.
O resultado dessas reduções de velocidade é visível, trânsito cada vez mais congestionado simplesmente porque a vazão diminuiu. O crescimento da frota da cidade é praticamente vegetativo, não chega a 2% por ano.
Providências úteis, como aprimorar a rede de semáforos com todo o controle que a informática permite hoje, como já se faz em várias capitais mundo afora, nem pensar. Afinal, dá um trabalho danado…
Bob Sharp
Editor-chefe