Recentemente estive no centro velho de São Paulo várias vezes e bastante tempo cada uma. Como andei muito a pé tive a chance de observar coisas que quando se passa de carro não dá tempo. Gosto do centro, apesar de que acho que poderia estar mais conservado e limpo. Mas gosto especialmente dos prédios antigos, do Teatro Municipal, do Edifício Martinelli, da Praça Antônio Prado.
Atravessei o viaduto do Chá — o que dá 240 metros. Quando cheguei do outro lado, era outra pessoa. Não diria mais espiritualizada que não colou, pois já tenho minhas próprias convicções, mas certamente mais surda. Quatro “bispos” tinham tentado me converter para quatro religiões diferentes com todo tipo de argumento. E isso em somente alguns metros. Pensei em sair correndo, mas nunca se sabe com quem poderia ser confundida e o que seria de mim. Ainda não entendo porque eles gritam tão alto. Deus não é onipresente? Se ele está aí do lado, mesmo, para que gritar? Ou seria para mim que eles gritavam? E os golpes na Bíblia? Coitadinha, fiquei com dó. Eu que gosto tanto de livros pensei se algum sebo as aceitaria depois de uma semana de uso…
Num extremo do viaduto um grupo de indígenas tocava todo o repertório de música italiana do festival de San Remo 1968 com arranjo andino, com flautas e “quenas”. Mas, para dizer a verdade, estavam vestidos como cherokees de algum filme da Sessão da Tarde. Logo adiante um sujeito que tentava parecer Jack Sparrow (na versão e trejeitos do Johnny Depp) fazia mímicas ao som de um forró. Peraí, a nave do pirata não singrava as águas do Caribe? E o forró é do Norte do Brasil. Então, tá. Próximo! E por aí vai. A variedade de pessoas estranhas parece não ter fim.
E já que o assunto é fauna exótica, não é que a erroneamente chamada engenharia de tráfego fez mais uma trapalhada bem no centro da cidade, a somente alguns metros de distância da própria Prefeitura? Bem ao lado do viaduto do Chá inventaram uma ciclofaixa na rua Xavier de Toledo, colada no meio fio. Mas logo depois tem ponto de táxi e de carga e descarga. Dou um doce ao motorista que vem dirigindo pela rua e de repente dá de cara com um carro parado e adivinha o que está acontecendo. Eu que estava a pé e sou inteligentinha demorei a entender do que se tratava. Com isso, sobram apenas duas faixas para que os táxis que não estão parados no ponto se espremam, os carros que passam por ali e os ônibus. Mas, alto lá. A faixa da direita é exclusiva para ônibus por exatos 200 metros. Como vocês sabem que adoro números, pesquisei e por aquele quarteirão passam 36 linhas e cerca de 203 ônibus por hora, no horário de pico. Mesmo quem não é de São Paulo ou nunca esteve na terra da garoa imagina a confusão que isso provoca, não?
Como já disse aqui, evito tratar de temas regionais, mas como a toda hora vejo comentários de leitores de que coisas parecidas acontecem em outras cidades, vamos lá. É sempre bom aprender com os próprios erros, mas é melhor ainda aprender com os dos outros. Poupa tempo e recursos.
Eu juro que tento não voltar ao tema das trapalhadas das empresas e autarquias que deveriam cuidar do trânsito da cidade de São Paulo, mas elas não me deixam. Toda hora tem alguma surpresa. Pena que quase sempre desagradáveis, inconvenientes e desastrosas. E paro por aqui porque minha mãe me disse que certas palavras são feias e não devem ser ditas por uma pessoa bem educada como eu que, no máximo, seria “mal aprendida” porque educada eu fui, sim senhor. Se não aprendi aí é problema meu.
Vocês leitores não tem idéia do trabalho que dá não falar disso aqui. Eu bem que tento. Pesquiso números, assuntos, indicadores de todos os temas possíveis, leio tudo quanto é jornal e site de notícias, mas vira e mexe acabo falando exatamente daquilo que tento evitar. Seja porque me vejo envolvida numa situação bizarra como a da rua Xavier de Toledo, seja porque meu sangue basco-espanhol- italiano-argentino ferve com tanta barbaridade. Mas acho importante analisarmos esses assuntos. Quando era pequena meu pai me disse que se a gente está no ônibus e alguém está pisando no nosso pé, temos obrigação de avisar: olha, você está pisando no meu pé. Aí a pessoa pode se desculpar e tirar o pé de cima do nosso. Ou não, mas aí ela é que é mal educada. Mas se não avisamos, como o outro pode fazer o certo? Vamos supor que não percebe que está pisando no nosso pé…
Sim, já sei, a questão com as autoridades de trânsito de São Paulo é que a gente avisa o tempo todo que estão pisando no nosso pé e nada! Pai, como era mesmo a história?
Mudando de assunto: recentemente o Bob Sharp me enviou um link com um vídeo super-bacana do Alessandro Zanardi. Geralmente não gosto daqueles discursos e seminários tipo “hei de vencer, apesar de tudo”, mas este vale a pena ver. E por coincidência chegou num dia que estava meio murchinha, que eu também tenho meus dias assim. Para quem quiser ver, é só dar um clique aqui.
NG