A lei é clara e objetiva: para ser jipe e ter motor diesel, tem que ter “reduzida”. Mas as fábricas “convenceram” o governo de que seus dispositivos eletrônicos substituem a exigência legal.
O Brasil é o país do jeitinho, do jogo de cintura, da malandragem. Temos maestria para lidar com estes desvios de conduta que ignoram padrões éticos e morais. Presença indelével em cada canto e cada esquina. Nas empresas, pistas, postos, oficinas, lojas, fábricas, concessionárias…
Stock Car de mentira– A mais badalada e disputada categoria do automobilismo brasileiro é também uma das maiores mentiras de marketing. Pura enganação, pois não estão na pista os automóveis “sugeridos” ao público. Apenas um logotipo da marca na grade. A disputa é emocionante exatamente porque todos utilizam a mesma mecânica. Carro nenhum da Stock Car tem sequer um parafuso da marca que o patrocina. Mas depois tem anúncio de fabricante afirmando que “ganhamos a prova tal graças ao desempenho e resistência do nosso automóvel”….
Etanol aditivado – Gasolina aditivada é importante para manter limpo o motor. Os aditivos evitam a formação de depósitos carboníferos na câmara de combustão, provocados pelo elevado teor de carbono (acima de 80%) da gasolina. Mas alguns postos tem a cara de pau de oferecer etanol aditivado, apesar de seu teor de carbono inferior a 40%. Ou seja, é praticamente impossível a presença destes depósitos no motor que queima o derivado da cana.
“Reduzida” – A lei é clara e objetiva: para ser considerado jipe e direito ao diesel, tem que ter, além da tração integral, o redutor da relação final de marchas, a chamada “reduzida”. Quem começou a engabelação foi a Mercedes-Benz que “convenceu” o Denatran a homologar o ML 320 CDI”, alegando a presença de dispositivos eletrônicos que substituem o redutor mecânico. Uma afronta aos princípios básicos da mecânica e à nossa inteligência. Outra lorota foi do jipe Agrale Marruá: a primeira marcha muito curta fazia o papel da “reduzida”. Caminho aberto para um festival de enganações: exemplos recentes são o Renegade e Mitsubishi Outlander, ambos diesel sem a “reduzida”. Se a lei é obsoleta, mude-se a lei. Mas, no país do jeitinho…
ABC – A obrigatoriedade do extintor de incêndio é uma vergonha e prova concreta da corrupção que corre solta no Brasil. Depois que carburador e distribuidor foram para o museu, apenas três ou quatro países continuam exigindo esta inutilidade. Ao invés de eliminá-lo, as fábricas ainda botaram mais lenha na fogueira da corrupção (e a mão mais fundo no bolso do brasileiro) e fizeram aprovar a troca do tipo AB por outro mais caro, o ABC. Pode?
Preço da revisão – Picaretagem dupla. A fábrica anuncia revisões com preço fixo para atrair o freguês. Na hora da dita cuja, algumas concessionárias apelam para a empurroterapia e inventam limpeza de bico, lubrificação da maçaneta, revisão da sonda lambda e dobram o preço. Outra é da oficina que anuncia revisão “de férias” por apenas R$ 99,00. Com o carro já desmontado, ligam para o proprietário informando-o de que “infelizmente” o amortecedor estava quebrado, o suporte do motor trincado, a bomba de água vazando….. e a conta subiu para R$ 1.150. “Pode fazer, doutor?”
Start-stop de araque – Motor flex e sistema start-stop (liga e desliga automaticamente o motor) são incentivados pelo Inovar-Auto e reduzem impostos recolhidos pela fábrica. A BMW anunciou ambos, mas se “esqueceu” de avisar (para motoristas e governo) que o start-stop não funciona com etanol no tanque, só com gasolina. Pode?
Opala SS – Só para chegar no sétimo (não é a conta de mentiroso?), a GM lançou o Opala SS, com pinta de esportivo. “SS significa Super Sport, como no Impala SS?” Não, disse a GM: vem de “Separated Seats”. Bancos Separados, em inglês…
BF