O Brasil faz de conta que se preocupa com a integridade do cidadão, com o respeito às leis, com os dispositivos de segurança
Autoridades do trânsito no Brasil só se preocupam com segurança veicular quando “convencidos” por lobistas das empresas interessadas em inflar seu faturamento.
Quanto se faturou com os estojinhos de primeiros socorros? Quem aprovou esta imoralidade? Em que cofres e bolsos foram parar os milhões pagos inutilmente pelo motorista brasileiro?
Quem impede a qualquer custo (e bote custo nisso…) que se elimine de vez a obrigatoriedade do extintor de incêndio, e ainda exige sua substituição por outro mais caro (ABC) e tão inútil quanto o antigo (BC)? Além da corrupção generalizada no país, o que mais explicaria esta descabida exigência?
Quem “convenceu” o Inmetro a aprovar a certificação de pneus remoldados sem fazer constar na banda lateral (como em outros países) as características da carcaça reaproveitada? E a autorizar a remoldagem de pneus de motos, proibida em qualquer país civilizado?
Por que policiais rodoviários fecham os olhos para automóveis que circulam nas rodovias com seis ou sete passageiros embora só tenham cinco cintos de segurança? E para as “carreatas” de políticos em época de eleições irregularmente aboletados nas caçambas de picapes?
Quem autoriza indefinidamente a prorrogação da licença “provisória” para caminhões transportarem “bóias-frias”? É processado por tentativa de homicídio quando um deles capota e morrem vários trabalhadores?
A resposta é uma só: o Brasil é o país do faz-de-conta. Os poderes executivo e legislativo fazem de conta que se preocupam com a integridade do cidadão, com o respeito às leis, com os dispositivos de segurança. Mas só levam mesmo a sério o fluxo que vem do propinoduto…
Extintor é comprovadamente inútil no automóvel. Mas, ainda que tivesse alguma utilidade, tornou-se também obrigatório um treinamento para explicar ao motorista como utilizá-lo? Como dirigir o jato para extinguir o fogo? Como não oxigenar ainda mais o incêndio no motor, evitando abrir o capô?
Ninguém discute a importância dos airbags para a segurança passiva (que protege os ocupantes depois do acidente). Mas só foram tornados obrigatórios a partir do poderoso lobby de uma fábrica junto a senadores e deputados. Entretanto, alguém pensou em obrigar os fabricantes que se beneficiaram com a lei a investir numa campanha explicando o comportamento correto dos ocupantes? Que distância mínima o motorista deve manter do volante (25 cm) e o passageiro do painel (40 cm)? Os cuidados a se tomar para garantir a efetiva proteção dos ocupantes no caso de um acidente? O perigo de o passageiro apoiar os pés no painel frontal? Que airbags não dispensam o uso do cinto de segurança, como acreditam muitos?
Ninguém discute também a importância dos freios ABS para a segurança ativa (que reduz o risco de acidente), que não permitem o travamento das rodas numa freada de emergência. Pois rodas bloqueadas aumentam o espaço de frenagem e tornam o sistema de direção insensível ao volante. Entretanto, alguém pensou em obrigar os fabricantes do dispositivo a disparar uma campanha explicando como funcionam? Que o motorista deve pisar com maior intensidade quando o pedal do freio vibra, o que é normal quando o ABS entra em ação?
O resumo da ópera é que vários dispositivos de segurança são obrigatórios nos automóveis comercializados no Brasil, mas ninguém se preocupou em realizar campanhas educativas para esclarecer motoristas e passageiros sobre seu funcionamento.
Para quê, se as moedas já tilintaram em seus bolsos?
BF
Foto da abertura: infonet.com.br
Boris Feldman, jornalista especializado em veículos e colecionador de automóveis antigos, autoriza o Ae a publicar sua coluna veiculada aos sábados no jornal Hoje em Dia, de Belo Horizonte (MG).
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de total responsabilidade do seu autor e não reflete necessariamente a opinião do AUTOentusiastas.