A imagem acima é fac-símile do que foi publicado sábado último (27/6) no caderno de veículos do jornal Hoje em Dia, de Belo Horizonte (MG), editado pelo Boris Feldman. O texto relativo ao desenho é este:
“Amortecedor não tem prazo de troca. Ele pode rodar dez mil quilômetros em estradas ruins, esburacadas e “entregar os pontos”. Como pode durar mais de cem mil quilômetros se rodar sempre no asfalto liso, tipo “tapete”, sem irregularidades. Isto significa que este componente deve ser verificado periodicamente, a cada 10 mil km, para verificar suas condições. A Monroe, maior fábrica de amortecedores do mundo, com filial no Brasil, tem dois pesos e duas medidas. Nos EUA, onde se respeita o consumidor, ela recomenda em seu site a inspeção do amortecedor a cada 80 mil km. Nem sugere sua substituição, apenas verificar se ele está ou não em boas condições. No site montado (copiado, aliás) por sua filial brasileira, a conversa é outra: na língua portuguesa, seus amortecedores devem ser substituídos, segundo “especialistas”, aos 40 mil km.
Esta “empurroterapia” teve início há muitos anos, com uma propaganda da Cofap que sugeria troca dos amortecedores aos 30 mil km. Uma séria de filmes publicitários (um deles, um cachorrinho escorregando pelos corredores de um prédio) ficou famoso. Outras fábricas no Brasil, como Nakata e Monroe, aderiram à idéia e passaram a insinuar a substituição aos 30 mil ou 40 mil km. Nada que se justifique tecnicamente, simplesmente uma tentativa de aumentar seu faturamento.
As fábricas de amortecedores, consultadas sobre a diferença de comportamento entre matriz nos EUA e filial no Brasil, tem na ponta da língua a explicação para seu desrespeito com o consumidor brasileiro: “São as condições das nossas estradas que reduzem a vida útil e o prazo recomendado para se verificar os amortecedores”. Conversa para boi dormir, pois quem roda em estradas de excelente pavimentação (rodovias estaduais em São Paulo, por exemplo), poderão rodar até mais que 100 mil km, sem problemas. O que não deixa de ser curioso, pois pode ser um tiro no pé das próprias fábricas, pois quem roda em estradas esburacadas deveria inspecionar amortecedores em prazo até inferior aos 40 mil recomendados pela Monroe… e trocá-los aos 10 mil ou 20 mil km, por exemplo.”
O Ae comenta:
Incoerência absurda, o que a filial brasileira da Monroe preconiza. O Boris falou em amortecedores poderem durar mais de 100 mil quilômetros, mas o Ae acrescenta que podem durar bem mais que isso, não raro ultrapassando 200 mil quilômetros. O editor-chefe do Ae, Bob Sharp, é testemunha de um Fiat Uno Mille 1993 de seu irmão ter chegado a 240.000 km com os amortecedores originais e o carro ter sido vendido com eles.
O argumento de que as condições das estradas brasileiras influem na menor vida útil dos amortecedores é pífio, pois quem já teve oportunidade de dirigir nos Estados Unidos sabe que o piso lá também tem imperfeições e buracos. De qualquer maneira, há um abissal diferença entre inspecionar, como está no anúncio americano, e o substituir da versão brasileira da mensagem — que traz ainda erro crasso de tradução, chamando struts de suportes, na verdade colunas de suspensão. Quem é do ramo sabe.
A história dos comerciais do cachorrinho a que o Boris se referiu é contada nesta página do site “Dr. Zem”, que inclui quatro comerciais produzidos pela agência W/Brasil, de Washington Olivetto. Vale a pena relembrar.
Amortecedores fazem parte do pacote de segurança do automóvel? Sem a menor dúvida. Mas entre isso e gastar dinheiro à toa há uma enorme diferença.
Ae/BS