Uma das grandes vantagens dos bons câmbios robotizados, como este Dualogic Plus da Fiat, é que eles não “matam” a potência do carro, como ocorre com os câmbios CVT (continuamente variáveis) e com os automáticos epicíclicos não tão modernos. Não “matam”, claro, no sentido de sensação, pois esses dois outros sistemas também vêm evoluindo rapidamente, com perdas de transmissão cada vez menores. Porém, a meu ver, para o autoentusiasta os bons e modernos robotizados são os que melhor conciliam a função de não se precisar trocar marchas operando uma embreagem e o prazer de trocá-las quando se deseja por qualquer motivo.
No enfadonho e congestionado trânsito urbano, que as trocas de marcha que fiquem totalmente por conta do robô sob ordens do “inteligente” módulo de comando eletrônico do câmbio e numa boa e sinuosa estradinha, que os momentos da troca fiquem por nossa conta, já que todos os robotizados possibilitam eficientes trocas manuais seqüenciais.
O maior controle do câmbio numa tocada mais rápida, antes restrito aos robotizados de dupla embreagem como os PDK da Porsche e outros caros esporte, aos poucos vão chegando aos robotizados de uma só embreagem dos carros comuns do dia-a-dia, como o deste Palio. Afinal, sempre foi esse o caminho da tecnologia ao longo da história do automóvel: primeiro ela aparece com alto custo nos esportivos ou luxuosos de ponta, para depois, aos poucos, ir barateando e chegando aos menos sofisticados. Primeiro servem aos deuses do Olimpo e depois, aos simples mortais.
No caso deste Dualogic Plus, por exemplo, sua evolução já chegou ao ponto de me dar a impressão de, num circuito, o mesmo piloto poder fazer o mesmo tempo que com câmbio manual.
Outros atributos dos bons robotizados são 1) consumo de combustível igual ao do câmbio manual; 2) custo baixo, menor que os automáticos epicíclicos ou CVT; 3) menor peso que os citados; 4) menor custo de reparação.
Desculpe-me o leitor pelo alongado começo, mas acontece que testando-os me tornei um apreciador dos robotizados, porque além das vantagens acima, por ser um sistema relativamente simples e barato ele é capaz de trazer, além da comodidade, melhor desempenho e economia quando estão em mãos de motoristas menos hábeis. Explico: o leitor autoentusiasta certamente sabe que por não se saber usar a marcha certa no momento certo, boa parte dos motoristas não aproveita toda a potência do motor e na maioria dos casos desperdiça combustível. E é aí que o robô entra, fazendo o melhor serviço: ao motorista menos experiente só caberá acelerar e as marchas certas serão engatadas exatamente de acordo com a demanda, o que resultará em maior desempenho, segurança e, principalmente, economia de combustível.
Abrindo um parêntese, num devaneio que me permito ter, o ideal mesmo seria ter dois carros: um de suspensão macia e câmbio CVT para rodar na cidade e outro, leve, com motor V-12 e câmbio manual de 5 marchas com 1ª perna-de-cachorro, para viajar sem destino… Mas enquanto isso não acontece, vamos ao nosso Palio Essence com câmbio Dualogic.
Anda muito bem. São 117 cv empurrando só 1.069 kg. Faz o 0-a-100 em 9,8 segundos e atinge máxima de 192 km/h com álcool (gasolina, 9,9 s e 190 km/h). Mesmo bem carregado, pisou, ele vai, acelera para valer.
Motor de 4 cilindros, comando no cabeçote, acionamento por corrente,16 válvulas, injeção indireta; a taxa de compressão de 10,5:1, um tanto baixa para melhor aproveitamento da característica antidetonante do álcool. São 117 cv a 5.500 rpm e 16,8 m?kgf a 4.500 rpm (álcool) e 115 cv e 16,2 m·kgf (gasolina) . Sua potência específica é alta: 73 cv/l. O fato de seu torque máximo ocorrer em alta rotação não significa que seja frouxo em baixa, tem boa pegada em baixas rotações, é bem elástico.
Já em alta, algo acima de 4.500 rpm, aí sim, parece um motorzinho de corrida. Tem um gostoso ronco italiano (apesar do motor de origem americana, Chrysler) e vira um capeta, e segue acelerando e acelerando, ganhando velocidade, sem se intimidar com o crescente arrasto aerodinâmico. Na vizinha Argentina, que tem boas e desertas estradas, ele viajaria a 160 km/h o dia inteiro na maior tranqüilidade.
O câmbio Dualogic Plus fuciona bem no trânsito urbano, faz trocas suaves e raramente se fica indeciso. Digo raramente porque é isso mesmo, já que ao longo da semana ele pode ter titubeado uma ou duas vezes, não mais que isso. De qualquer modo, esse titubeio foi rápido e de imediato ele engrenou a marcha que deveria. Calculo que dirigindo meio desligado no anda-e-pára do trânsito urbano devo titubear tanto quanto ele, ou mais, portanto não posso criticá-lo. Já na hora andar rápido ele não erra (nem eu).
Para o dirigir rápido, ou para estradas de pista simples, em que é mais seguro e agradável ter acelerações mais prontas, é recomendável pressionar a tecla S na base da alavanca de câmbio. Não só o motor responde com maior vigor, como as trocas de marcha ficam mais rápidas. Em S ele também faz com que o freio-motor atue mais, retendo mais as marchas ao levantar o pé do acelerador e reduzindo marcha automaticamente, com aceleração interina, com maior vigor ao longo das freadas. Vai muito bem.
As trocas manuais por meio das borboletas fixadas atrás do volante ou por meio da alavanca de câmbio podem ser feitas a qualquer momento, o que é providencial, já que os câmbios são inteligentes, porém são cegos e não prevêem, só reagem. Então, mesmo em Drive, caso antecipadamente se deseje reduzir marcha antes de uma curva, basta um toque na borboleta da esquerda.
Numa longa descida em que se queira soltar mais o carro para que embale e aproveite a inércia de movimento, basta um toque na da direita que ele sobe marcha. É prático e vira rotina.
O tempo que o robô leva para fazer a troca de marcha é variável, e esse é um dos detalhes para que ela seja feita com suavidade, sem as tais “cabeçadinhas” provocadas pela interrupção da aceleração. Sob aceleração forte a troca leva menos tempo que com pouca, e essa diferença de tempo fica marcante quando com a tecla S acionada se acelera a pleno. Nesse caso as trocas são bem rápidas, mesmo. O robotizado bem programado deve imitar o mais fielmente possível o que o bom motorista faz, caso desta última evolução do Dualogic Plus.
A suspensão até que é macia, em vista do porte do carro. McPherson na frente e eixo de torção atrás, bem acertado. Carro estável na estrada, seguro, que mantém agilidade mesmo estando carregado. Viaja bem. Boa ergonomia, bancos confortáveis e que seguram bem o corpo nas curvas. Muito bom de curva.
E bom nas estradas de terra, também. Tem 144 mm de vão livre do solo, o que é o suficiente. Afinal, na realidade, não são os sofisticados suves ou picapes médias que mais andam sobre terra Brasil afora. São os Gols, Unos, Palios, e similares, e as respectivas versões de picapinhas, que são os verdadeiros veículos dos sitiantes e maioria dos fazendeiros. Esses aí pegam terra e lama, pedra, pó e terra, e sem drama. São comprovadamente robustos e de baixo custo de manutenção.
Ele fez entre 9,5 e 10 km/l de álcool na estrada, viajando com três adultos e bagagem em pista dupla a 120 km/h. Na cidade, ao redor de 7 km/l de álcool. Com v/1000 de 34,1 km/h cruza a 120 km/h reais a 3.500 rpm. A 5ª é plena, à velocidade máxima o motor passa 100 rpm da rotação de pico.
Este Essence veio com o opcional controle de velocidade cruzeiro, uma comodidade na estrada. O motor tem tão boa pegada que nas rodovias Bandeirantes e Anhangüera em momento algum foi preciso sair da 5ª marcha; subiu sem esforço todos os aclives. Fia uma viagem tranqüila, mesmo à noite e com bastante chuva, com bons faróis ajudando. O motor não é dos mais silenciosos, e, apesar de haver manta anti-ruído sob o capô, sobrava sua presença no interior. O ventilador da aeração interna forçada também poderia ser mais silencioso.
O porta-malas está na média dos hatchbacks: 280 litros. O encosto do banco traseiro, que não é dividido, rebate, mas não fica no mesmo plano que o assoalho do porta-malas, o que é uma pena. Há bom espaço e razoável conforto para os que vão no banco de trás. O tanque de combustível também está na média: 48 litros.
Bom de freios, com discos ventilados na dianteira e tambores na traseira. Freia bem e alinhado.
O duro é o preço. A versão Essence vai de R$ 47.130 a R$ 59.616, dependendo dos opcionais. Só o opcional câmbio Dualogic Plus custa R$ 4.093 e junto vêm as borboletas.
AK
Fotos: autor
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