Sou daquelas mulheres que gostam (e muito) de carro, mas também gosto muito de ser mulher. Reclamo se mexo em alguma coisa do veículo e quebro a unha, por exemplo. Por isso, tenho lá meus truques para evitar que uma coisa atrapalhe muito a outra.
Por exemplo, sempre trabalhei fora de casa — e dentro, também como muitas mulheres, mas isso renderia um texto quilométrico sobre a dupla jornada feminina e não é o caso. Ou seja, salto alto e terninho ou blazer quase todo dia. Mas prezo a segurança ao dirigir e não gosto que o salto prenda nos pedais do carro. E também não gosto que meu lindos pisantes fiquem marcados na dobra por causa do acelerador, porque como toda mulher, adoro sapatos. Jamais entendi esse fascínio feminino, mas tenho meu lado Luluzinha também. Assim, carrego sempre na porta do motorista um sapato velho, baixo, confortável, tipo mocassim, que calço assim que entro no carro. Como o meu tem câmbio automático e só uso um pé, basta um. Mas antes levava um par completo e o calçava assim que entrava no carro. Além da praticidade para guiar meus sapatos duram muito mais.
Claro que isso não me poupou de alguns micos — várias vezes desci do carro com sapatos diferentes entre si. Se estava usando salto alto era rápido perceber o engano e voltar para fazer a troca, mas se estava usando salto baixo ou nenhum salto, bem… várias vezes sai andando por aí feito uma maluca e cheguei a andar mais de um quarteirão assim.
Meu marido várias vezes foi questionado sobre o por quê de andar com um sapato na porta do carro, mas já nem liga e responde algo como “coisa da minha mulher”.
Outra coisa fundamental no meu carro é álcool gel, flanela e lencinhos umedecidos no porta-luvas, bem ao lado da famosa cadernetinha com caneta e as anotações de tudo o que faço no carro — incluindo abastecimento de gasolina e revisões — e um antiquíssimo Guia de Ruas que me recuso a jogar fora por medo de não ter sinal de GPS para o Waze. Mas está tão desatualizado que só está lá por questões sentimentais, receio. Ou para servir de encaixe à garrafinha de álcool gel.
Tem coisa mais chata do que sujar a mão e depois colocá-la no volante? Depois de passar no supermercado, então, é impossível não limpar as mãos. Parece que os produtos das geladeiras estão sempre melados. O peixe, então, nem se fala… Uso o álcool gel e a flanela, mas também lencinhos dos aviões, embora eles estejam cada vez mais raros. E sempre passo um deles no volante de direção quando deixo o carro com manobristas. Não acho que o pessoal de valets suje de propósito, acredito apenas que os outros volantes estejam sujos e de passar de um para o outro acabem sujando o meu. E antes que vocês perguntem, não, não tenho Transtorno Obsessivo Compulsivo nem nada disso. Apenas não gosto que minha mão grude no volante. E tem um par de sacos plásticos caso tenha de embrulhar ou jogar fora algo sujo. Uma vez tive de amarrar dois deles nos pés no melhor estilo motoqueiro para proteger-me de uma enorme poça d´água.
Já falei das caixas de plástico dobráveis que levo no porta-malas. Elas facilitam as inúmeras operações de carga e descarga. E lembrem que disse que tenho dupla jornada – sou uma ótima dona-de-casa também. Não apenas para as compras, que com a novela das sacolinhas nos supermercados de São Paulo nunca se sabe se teremos como carregar nossas coisas, mas também para firmar outros objetos para que não fiquem rolando pelo porta-malas. E como tenho várias e de duas cores diferentes, consigo manter tudo separado e descer só aquilo que quero e onde quero, sem perder tempo.
Também levo um guarda-chuva pequeno na porta do carona, mas me questiono a verdadeira utilidade disto pois toda vez que chove e preciso dele estou longe do carro. Se ao menos alguma vez chovesse quando estou saindo do veículo… mas não, parece ser que é sempre quando estou longe ou indo na direção dele. E como comprei num camelô por “5 real” (porque vendedor de rua em São Paulo nunca usa o “S”?) já está pedindo aposentadoria e não durará muito. As hastes parecem que foram resgatadas de um furacão.
Levo no porta-luvas também uma folhinha com uns adesivos que ganhei da seguradora para reparos de emergência em vidro. Felizmente só precisei usá-la uma vez quando uma pedrinha assassina bateu no pára-brisa do carro na estrada. Como foi uma trincazinha do tamanho de uma moeda pequena, deu para colar o remendo até chegar em São Paulo e trocar o vidro inteiro — infelizmente.
Outra coisa que acho fundamental num carro para mulheres é ar-condicionado ou ventilação forçada. Saio todo dia de casa com o cabelo recém-lavado e o seco no carro, no ar. Coloco no “quente”, com todas as entradas viradas para mim e no máximo da potência e abro um pouco as janelas pois se bobear dá para criar orquídeas com a estufa que fica. Depois, viro tudo para “frio” e enxugo o suor…
O resultado não é lá dos dez melhores, mas é rápido e como meu cabelo é megaliso não há grande diferença entre fazer isso e ficar 15 minutos no secador de casa que, aliás, detesto. Gostaria de saber o que pensa quem passa do meu lado: eu, ao volante, com os cabelos esvoaçantes como se estivesse no meio de um tornado… bem, melhor não deixar essa imagem na cabeça dos meus caros leitores. E justamente por isso não ficarei magoada se algum amigo ou parente me encontrar numa hora dessas e fingir que não me conhece. Não posso culpar ninguém.
Se tenho de passar batom, viro o quebra-sol do motorista onde sempre tenho um espelhinho. Se não for de fábrica, improviso um. Já fiz isso várias vezes e é fácil e seguro. Nada de entortar o retrovisor interno. E nunca, nunca, fazer isso com o carro em movimento ou quando o sinal é curto.
Durante um tempo cheguei a levar no porta-luvas um pacote de biscoitos ou uma fruta, mas depois que dei uma maçã a um menino num sinal que me pedia dinheiro e ele na minha cara a jogou no chão com desprezo parei de carregar perecíveis. Agora não tem lanchinho nem para os pedintes nem para mim. E se tenho uma garrafinha de água depois de deixar o carro com algum manobrista, jogo fora — nos recicláveis, é claro e uso a água nas minhas plantas. Neurose? Certamente. Eu sei lá se o sujeito não bebericou do gargalo? Arghhhh!!
Fora essas coisas perfeitamente arrumadas, não tenho objetos no carro exceto os obrigatórios e de praxe: triângulo, ferramentas, estepe, macaco. Se me dão um folheto num cruzamento, deixo dentro do carro e jogo fora em casa ou no escritório. Nada fica de um dia para o outro. Bom, pensando bem, talvez tenha TOC, sim, mas como disse, gosto muito de carro.
Mudando de assunto: foi ótimo encontrar, além dos colegas do AUTOentusiastas, tantos leitores no passeio de domingo. Não quero esquecer nomes, mas já correndo o risco disso acontecer, gostei muito de conhecer o Agent 008 e esposa, Felipe, Ricardo Biasoli e esposa, o casal do Rio Maria e (acho que) Caio (sou péssima para nomes, mas você sabe que estou falando de vocês, tomamos café juntos perto do avião), Adalberto (de Curitiba), Albertoni, o rapaz de Santos que vai conhecer Buenos Aires no mês que vem e o adorável casal que tem quatro filhos e com quem conversei durante o almoço — terrível não lembrar do nome deles, desculpem. E tantos outros. Valeu mesmo.
NG
Foto de abertura: huffingtonpost.com; do texto, autora
A coluna “Visão ferminina” é de total responsabilidade de sua autora e não reflete necessariamente a opinião do AUTOentusiastas.