Já mencionei aqui que carrego no carro um sapato direito para dirigir mais confortavelmente. Quando não tinha carro automático, levava o par completo. Sei lá, é uma questão de conforto, mas também de segurança. Uso diariamente salto alto e uma sapatilha firma melhor meu pé nos pedais, sem correr o risco de escorregar e, claro, supremo fetiche feminino que eu também curto, sem marcar meus lindos sapatos. Acho que ele também serviria para quem dirige de sandália tipo rasteira — não é o meu caso, pois não uso fora de casa. E não venham me dizer que é porque sou baixinha que não é verdade. Só não gosto do contato do meu pé com as coisas que encontro na rua. Por isso da porta para fora só sapato fechado ou sandália de salto, que mantenha meus dedinhos longe da calçada e dos objetos sólidos ou líquidos que nela estão. E mesmo assim, sandália raramente, mesmo que em casa ande descalça a maior parte do tempo.
Acho que conforto é fundamental na vida em geral, mas no carro tem também a ver com segurança. Já tentei dirigir vestindo blazer ou casaco, mas na primeira chance que tenho paro o carro e o coloco no encosto do banco. Não consigo me sentir confortável, preciso poder me mexer e especialmente os braços, mesmo que não faça como ainda fazem algumas pessoas na Argentina que em vez de usar o espelho interno viram a cabeça antes de fazer uma conversão ou mudar de faixa. Ai então, seria uma tortura total.
Lembro que meu pai tinha um cabide no carro para o casaco do terno e quando tirei minha carteira de motorista percebi o porquê. Por mais frio que esteja o dia, o casaco vai para o banco. Qualquer coisa, ligo o ar-condicionado no quente e pronto.
Também não gosto de andar com o carro fechado. Ou abro um pouco as janelas (pouco, que eu moro em São Paulo e não posso dar bobeira) ou, se não puder, ligo o ar. Tenho um conhecido que não faz nem uma coisa nem a outra e o carro dele é a mais perfeita explicação do que seria o chamado “efeito estufa”. Quando chove, então, é uma tortura. Anda com os vidros embaçados! Supremo horror. Incômodo e superperigoso. Já falei várias vezes, mas não adianta. Sem mencionar que dirigir assim dá um sonhinho… de novo, eu e minha neura com segurança no trânsito.
E o que dizer do banco? Como vocês já sabem, sou um pouco prejudicada verticalmente — ou seja sou baixinha, o que tem lá suas vantagens. Ainda consigo me acomodar na cada vez mais espremida classe econômicas dos aviões quando a maioria das pessoas tem de se dobrar feito um origami. Por isso aplaudi quando fizeram vários tipos de ajuste nos bancos do carro. Tem para o assento, a lombar, pode-se deixar o banco mais alto, mas baixo, mais reclinado, mais vertical. Acredito que seria capaz de passar uns 10 minutos pilotando o banco de um carro de luxo, sem nem sair do lugar. Apenas mudando de direção e de sentido. E ainda tem os que esquentam o banco.
Alguns modelos, supremo conforto, têm memórias para os ajustes do banco. Tenho uma amiga que mora nos Estados Unidos e deve medir mais ou menos 1,60. Já o marido passa dos 2 metros. Mas o Lexus deles resolveu essa diferença. Ela senta, vira o comando para uma das posições e pronto, tudo se ajusta na medida do que ela já “gravou”. E quando é a vez dele assumir o volante, a mesma coisa. Maravilha. No meu caso, é manual mesmo, e tenho que acertar cada coisa, mas ajuda. Sem mencionar que se pode mexer também na altura do volante. Ou seja, não há desculpa para andar em posição incorreta ou sem total visibilidade. Claro que bancos como o do Citroën 2CV estão fora dessa categoria. Como já contei, eles são extremamente desconfortáveis para uso urbano, mas para a praia ou num piquenique até que dão pro gasto.
E os espelhos? Tem coisa pior do que espelhos apontando para o chão ou para as nuvens? Tem gente que deve achar que eles servem de contrapeso, tamanho o desalinhamento deles. Mas não adianta colocar o espelho interno na posição certa e depois mexer no banco. Eu não raramente mexo no ajuste do retrovisor ao longo do dia, conforme passa o tempo e me acomodo de forma diferente para dirigir.
É claro que eu não poderia deixar de ter um “causo” para contar a esse respeito. Como boa autoentusiasta não gosto de deixar meu carro com manobrista — mas às vezes é inevitável. Certa vez passava um período de estresse acima do normal e fui fazer uma sessão de shiatsu para relaxar a musculatura, especialmente dos ombros e pescoço. Depois de terminada, fui buscar meu carro no estacionamento do estabelecimento. Peguei a chave com o manobrista e entrei no carro. Não deu outra: os espelhos fora de lugar e o banco esquisito. Do banco nem reclamo, pois entendo que uma pessoa mais alta pode não conseguir manobrar meu veículo sem recuar o assento. Mas tinham mexido em tudo, até na altura do volante. Engoli a raiva e fui embora. Na semana seguinte, nova sessão. Ao sair, entro no carro e começo a arrumar tudo. Pensei que ainda tinha mais umas sessões e seria muito desgastante fazer todos os ajustes então ou conversava com o manobrista e pedia gentilmente para não desarrumar tudo ou agüentava.
Enquanto me questionava o que devia fazer, lembrei que naquele dia não tinha deixado a chave, pois encontrara um lugar contra a parede e tranquei o carro, com o consentimento do manobrista. E agora? Que alguém tivesse esbarrado nos espelhos externos (nos dois?) vá lá, mas como poderiam ter mexido no retrovisor? Será que eu encostei nele ao entrar? Difícil, mas poderia ser. Mas, e o banco? Aí comecei a rir sozinha. Só tinha uma explicação: o shiatsu realmente funcionava e eu estava mais relaxada e “esticada.” Saio até mais alta quando vou lá. Bem, nem tanto, que o pessoal é muito bom mas não faz milagre…
Mudando de assunto: acredito que não somente muitos motoristas mas muitas autoridades de trânsito desconhecem o Código de Trânsito Brasileiro. Se não, como explicar como pintam faixa branca contínua praticamente ao longo de um quarteirão inteiro e pontilhada apenas alguns pouquíssimos metros antes da esquina? Por acaso meu carro tem dobradiça e faço curva a 90 graus? E quem diz que quem vem pela direita vai me deixar entrar? Acho que eles não sabem que não se deve mudar de faixa com linha contínua – só pode ser isso.
NG