Mesmo cruzando a linha de chegada com 25 segundos de vantagem sobre Sebastian Vettel, Lewis Hamilton e a equipe Mercedes estavam sob pressão ao final do Grande Prêmio da Itália, disputado domingo em Monza. Hamilton por conta dos caprichos com seus cabelos loiros e os tedescos graças à forma como calibraram os pneus dos seus carros. Horas depois da bandeirada, comemoração teve sabor de pizza fria e chope aguado, mas foi só alegria para Felipe Massa, que subiu ao pódio e isolou-se no quarto lugar entre os pilotos. Passado o burburinho, a equipe Red Bull poderá ter que recorrer a asas para impulsionar seus carros em 2016: Renault e Mercedes parecem pouco dispostas a fazer negócio com o ex-imbatível time
Nessa fresta passa boi, passa boiada
Passado o incidente em Spa que muito provavelmente custou um pódio para Sebastian Vettel, a Pirelli reagiu cobrando o estabelecimento de uma pressão mínima dos pneus. Instituída a prática no GP da Itália, não se tratava de nenhum ovo de Colombo: aqui mesmo no Brasil, os carros da Porsche Cup só entram na pista após comissários técnicos checarem se essa regulagem está de acordo com os parâmetros da categoria.
Na F-1, porém, trata-se de uma recomendação e não uma regra a ser obedecida, como se deduz do comunicado emitido pela FIA, a Federação Internacional do Automóvel. Uma recomendação que o delegado técnico Jo Bauer considerou importante o suficiente para que os comissários do evento fossem informados que alguns carros estivessem com calibragem abaixo de 19,5 lb/pol² (libras por polegada quadrada) em pelo menos um pneu. E esses carros eram os de Lewis Hamilton (0,3 lb/pol²) e Nico Rosberg (1,1 lb/pol²) que tinham respectivamente 0,3 e 1,1 lb/pol2 no traseiro esquerdo, o mais exigido no circuito italiano.
Talvez por que os pneus são normalmente sujos pelo contato natural com o asfalto, os comissários da prova Lars Orterlind, Tim Mayer, Sanny Sullivan e Paolo Longoni acabaram agindo como Pilatos e lavaram as mãos. Entenderam que se tratava de uma recomendação, que os pneus tinham sido instalados nos carros quando ainda estavam com a pressão correta, que a retirada dos cobertores térmicos (aquelas mantas pretas que aquecem os pneus antes de serem instalados nos carros), e que isso, aquilo e portanto o resultado da corrida não seria afetado, mas…. recomendaram que o fabricante de pneus e a FIA se reúnam para estabelecer padrões mais apurados para um protocolo de medição. Ou seja, os que dirigem o esporte e os que praticam o esporte agiram como se estivessem em um teatro e não em uma atividade que tem regras, direitos e deveres, muito menos bom senso.
Ainda antes da largada a Mercedes já tinha passado por outro papelão: sempre disposto a expor seu estilo de vida peculiar, Lewis Hamilton solicitou a seus assessores que cuidassem para que não fosse fotografado sem boné, capacete ou balaclava. O motivo quase óbvio eram seus cabelos alourados, contraste que parece ter impressionado até o próprio. Como ele não tirou o boné nem mesmo durante o minuto de silêncio praticado como homenagem póstuma a Justin Wilson (falecido recentemente após acidente em prova de F-Indy), a exigência esdrúxula virou desrespeito e não passou incólume: sequer foi esquecida após seus pedidos de desculpa.
Mercedes de lado, títulos dos campeonatos de pilotos e construtores cada vez mais próximos de serem conquistados (veja aqui os resultados da prova e aqui a situação do campeonato), alguns rivais mais ou menos competitivos também enfrentam situações de grande desconforto. Comecemos pela Red Bull: são cada vez mais fortes os rumores de que o divórcio pouco amigável com a Renault só precisa ter a firma reconhecida para entrar em efeito. Sem muito para discutir sobre partilha de bens, o time do touro tem porque tem que encontrar um novo fornecedor de motor e aqui mora o perigo.
Se há poucos dias a Mercedes admitiu interesse em equipar os chassis RB da próxima temporada, a casa de campo alemã caiu: Toto Wolff e Niki Lauda mostraram-se contrários à idéia, o que não surpreende quem quer que seja.
Assim, restam duas opções: Ferrari e Honda. Se a marca do sol nascente não tem um produto ainda sequer a altura do motor atual, o correspondente modenense jamais forneceria motores iguais à um time parceiro.
Posto que é pouco, ou nada provável que um novo fornecedor surja em tão pouco espaço de tempo, poucos cenários são factíveis: 1) uma DR com final feliz entre Red Bull e Renault; 2) Um acordo de curta duração com a Ferrari, desde que não afete a condição de cliente topo com a novata Haas; 3) Uma reviravolta entre McLaren e Honda, onde a equipe romperia o acordo com o fabricante de motores e este adotaria a Red Bull como nova parceira. Como de ilusão também se vive, e a F-1 tem um passado de surpresas, nada como canja de galinha e precaução em doses homéricas.
Falando da Renault, não dá para esquecer o lenga-lenga em que se transformou a possível compra da equipe Lotus. Dada a enorme quantidade de detalhes que tem vazado regularmente à imprensa européia sobre esse possível acordo, é fato consumado que há grandes interessados na concretização do negócio. Posto que a frágil saúde financeira da Lotus não é segredo para ninguém e que a Renault tem a participação do governo francês (15%, maior acionista), a divulgação que o pagamento (prestações anuais em cerca de seis anos) seria em condições típicas das promoções das Casas Bahia pode ser uma mensagem aos franceses que não se gastará tanto dinheiro assim.
Ainda que não esteja afastada a hipótese dos franceses exercerem a liberdade de deixar uma fraternidade onde não gozam de muita igualdade, a aposta mais segura nesta altura dos acontecimentos é que tudo isso não passa de uma manobra para recomprar a Lotus por um preço de bacia das almas. Quem conhece a fama de pão-duro que caracteriza Carlos Ghosn apóia esta conclusão. Em passado não muito distante circularam rumores de suicídios cometidos por empregados que não suportaram o ritmo de trabalho que este libanês nascido no Acre impôs aos seus comandados na aliança Renault e Nissan.
Pilotos fiéis
Com a confirmação de que as três principais equipes da temporada irão manter suas formações atuais na próxima temporada, cresce a tendência de fidelidade entre pilotos e patrões: Mercedes (Hamilton e Rosberg), Ferrari (Vettel e Räikkönen) e Williams (Massa e Bottas), mais a Sauber (Nasr e Ericsson), já renovaram o CEP para 2016, assim como Fernando Alonso (McLaren), Nico Hulkenberg (Force India) e Daniel Ricciardo (Red Bull), sendo que o australiano tem grandes chances de dar continuidade ao seu trabalho com o xará Kvyat.
A arrastada pendenga sobre o que vai acontecer com a Lotus já arranhou o futuro de Romain Grosjean. Até agora fiel à equipe que o prestigiou nos momentos em que ocupava o hoje lugar cativo de Pastor Maldonado, o franco-suíço já ocupa um lugar destacado na lista de compras da equipe Haas, que a cada desenho aprovado do seu inédito carro parece já ter escolhido Estebán Gutiérrez como um dos seus pilotos.
Olho mecânico em chegada seqüencial
Apenas 109 milésimos de segundo definiram o resultado da 500 Quilômetros de São Paulo, disputado no autódromo Velo Città, em favor do Mitsubishi Lancer da trinca Guiga Spinelli/Ingo Hoffmann/Leandro de Almeida sobre o Ferrari da dupla Renato Catallini/Fábio Greco. Em terceiro ficou o Vectra Stock Car do veterano Ney Faustini e seu filho Ney de Sá Faustini. Além da prova que segue a tradição das 500 Quilômetros de Interlagos — prova que era disputada pelo anel externo de Interlagos no dia 7 de setembro —, houve uma competição para carro de F-1600 e Classic Cup. Nesta última a vitória ficou para Denísio Casarini (Puma), outro veterano das pistas. Completou o programa a exibição de réplicas como a do carretera de Chico Landi.
Resultado da 500 Quilômetro de São Paulo: 1) Guilherme Spinelli/Ingo Hoffmann/Leandro de Almeida (Lancer/GT2), 146 voltas; 2) Renato Cattalini/Fábio Greco (Ferrari/GT1), à 0”109; 3) Ney Faustini/Ney de Sá Faustini (Vectra/GP1), à 2 v;4) Alexandre Finardi/Gastão Weigert (Moro MRX/GP1), à 8 v; 5) Carlos Ortolani/Joon Park (Moro MRX/P2), 10 v; 6) Jorge Machado/Rui Machado/Sérgio Cardoso (MR18/GP1), à 11 v.
WG