O carro está até bem bonitinho, pintura brilhante, estofamento em ordem… E aí vem um “mas”. Mas, ao volante se tem a clara e desagradável impressão de se dirigir um “carro véio”. Não antigo, velho mesmo.
Após alguns anos, vários donos e muitos quilômetros, os carros tendem a ter um sabor diferente ao volante, ficando pouco obedientes e chatinhos de dirigir. Mesmo com a manutenção básica em dia, isso vai se acentuando com o tempo. E às vezes o dono nem percebe, pois o “envelhecimento” vai acontecendo ao poucos, ao longo dos quilômetros.
E tudo isto está relacionado com o que toca ao dirigir, aos comandos básicos para colocar o carro para rodar, volante com folga, acelerador duro, alavanca de câmbio com engate em “Z”… por aí vai.
Mesmo que seu carro seja moderninho, com mais avisos (de painel) do que vôo da TAM (Caramba! Os caras tem tara por aviso chato e/ou inútil), nenhuma luz vai se acender, nenhuma irregularidade aparece. Mas, o gosto de carro velho está ali, ao alcance das suas mãos, percebido pelo seu tato. E você até se acostuma com isso.
Vale a pena mexer nestes detalhes? Com certeza vale. Dá um certo trabalho, mas o prazer ao dirigir aumenta e o maior prova disso é quando um amigo seu dirige o seu “querido sobre rodas” e declara: “Puxa, parece carro novo, não dá para dizer que tem mais de 10 anos”.
Vamos por partes, passo a passo nos itens que vão rejuvenescer seu “usadinho”.
Volante: É, sem dúvida, o principal item. Volante gasto, faltando pedaço, soltando espuma dá o mesmo prazer de segurar que uma tampa de privada suja. Existem várias soluções, a começar pela troca. Se existem volante original (ou boa cópia), troque o volante. Hoje não é tão simples, já que os carros com airbag complicam esta substituição. Se o carro não tem os “sacos de ar” é mais fácil, e um volante esportivo de bom gosto já resolve o problema. Se quiser recuperar, também existem formas decentes. Começa com uma tinta especial para volante, que você mesmo pode aplicar com uma esponja. Disfarça bem desgastes mais leves.
Outra maneira é feita artesanalmente por especialistas, cobrindo o volante com curvim ou couro. Se o profissional for habilidoso, fica bem bonito e dá um toque de classe quando se recobre com couro (mesmo o sintético). Outros já “cozinham” o volante a quente, refazendo a camada externa com plástico idêntico ao original. Veja em classificados (como Mercado Livre e OLX) em “recuperação de volante”, onde existem várias ofertas em praticamente todo o País. Alguns recuperadores vão à sua casa ou trabalho e realizam o serviço sem retirar o volante.
Existe ainda um quebra-galho não recomendado que é a capa de volante, encaixada com uma certa pressão. Fica um lixo esteticamente e a pegada é bastante muito prejudicada.
Claro, além da aparência do volante, se houver folga de direção o problema é maior. Dirigir se preparando para a próxima curva (“comendo a folga”) é um saco, o maior dedo-duro de carro podrão. Persiga a folga até eliminar. A maioria das caixas de direção tem regulagem, terminais de direção devem ser vistoriados e trocados e, além de tudo, é um típico reparo que envolve segurança.
Cambio: “Nunca deixo meu carro com manobrista”. Claro, o coitado nunca vai achar a primeira e muito menos a ré. Alavanca de câmbio com folga — no velho estilo do Fiat 147 que tinha “câmbio maaaais ouuu meeenos aíííí” — é um horror. E geralmente a alavanca só merece atenção quando não mais engata as marchas. Em qualquer sistema (cabo ou varão) existem várias buchas e alavancas de plástico, vendidas com kit, que devem ser trocadas. O kit é barato, a mão de obra nem tanto, pois é trabalhoso e o mecânico precisa ter capricho para executar bem a troca desta buchas e regular bem o engate de marchas.
Além disso, veja também o estado da manopla (pomo) da alavanca: se estiver gasta ou (pior) esfarrapando, seu carro está beirando a mendicância sobre rodas. A sensação ao pegar uma manopla dessas é a mesma de catar coco de cachorro na calçada. Custa pouco e você mesmo pode trocar: as manoplas são rosqueadas ou encaixadas. O mesmo vale para a coifa, aquele “saco” de courvin ou couro que complementa a alavanca. Tem pronto (para carros mais comuns) ou qualquer tapeceiro resolve.
Pedais: Para dirigir, o que não é tocado com as mãos é pressionado pelos pés. E aí o papel dos pedais de acelerador, freio e embreagem são fundamentais para se ter aquela sensação de 0-km mesmo em carrinho bem rodado. O acionamento deve ser macio, sem rangidos. Embreagem dura pode ser causada pelo cabo gasto ou seco, o que pode ser resolvido com lubrificação, feita por um bom mecânico. Pouco adianta jogar óleo em spray nas extremidades. É necessário retirar a ponta que vai na caixa de cambio e jogar óleo com paciência, até que chegue na outra ponta, junto ao pedal. Se isto não resolver, provavelmente o platô e disco de embreagem estão em final de vida, e vai-se gastar um pouco.
Aproveite e lubrifique a articulação dos pedais, para acabar com os nhéco-nhéco. Alinhe os pedais de freio e embreagem, já que a posição deste último geralmente tem um encosto que permite modificar sua posição de descanso.
O pedal do acelerador merece atenção especial, pois a sua pressão deve ser bem calibrada: nem muita resistência e não tão mole. Se a mola for muito dura, cansa o pé direito e, quando se acelera para sair, é difícil controlar a aceleração. Se a mola tiver pouca pressão, cansa o pé em trajetos mais longos. Vale o mesmo conselho da embreagem. Se o acelerador estiver travando, é necessária uma lubrificação mais caprichosa do cabo.
Em carro com acelerador “por fio” (drive by wire), o procedimento é mais complicado, pois a mola de retorno fica no próprio acelerador, que pode ser lubrificado por quem realmente entenda do assunto. Do contrário, se inutiliza o componente, geralmente caro.
Periféricos: Além destes componentes fundamentais, pois são tocados ou pressionados pelos pés, outros aspectos também influenciam na sensação de carro novo, principalmente por estarem no campo visual do motorista. O painel e seus instrumentais são fundamentais. Luzes queimadas, alavanca de seta que não retorna, comandos de vidros elétricos enroscando… tudo isso merece atenção.
Para completar pode-se dar um toque gourmet: peça para algum amigo trazer da “matriz” um perfume de carro novo (New Car Smell), encontrado em qualquer Walmart dos EUA. Tem um cheiro meio estranho de plástico, mas até lembra o cheiro de um Zero-Bala. Uma vez comprei por engano, mas usei até o final. Tem até com cheiro de couro (Leather Scent).
São trabalhinhos chatos, não é qualquer mecânico ou eletricista que topa fazer bem feito, mas vale a pena. Ter um carro velho obediente e gostoso de pilotar vai te deixar mais feliz ao volante, até mesmo quem dirige na “São Paulo 50 km/h” do nosso querido prefeito Malddad Suvinil.
JS