Na vitória sem sal de Lewis Hamilton, o choque entre Kimi Räikkönen e Valtteri Bottas, esperado há algum tempo, celebrou a disputa entre o veterano e o novato e garantiu o título de construtores para a Mercedes. Brasileiros pontuaram (Massa foi quarto e Nasr, sexto) em corrida que pavimentou o terceiro título do inglês. Agora, só falta pintar as faixas…
Nico Rosberg até que se esforçou: conseguiu a pole-position e liderou enquanto os deuses da eletrônica estiveram a seu lado. A alegria durou pouco, sete voltas: durante a intervenção do Safety Car para agilizar a correção dos estragos e detritos oferecidos pelo balé de Nico Hulkenberg e Marcus Ericsson, num passo digno de Rudolf Nureyev (1938-1993), os problemas do acelerador do seu carro se complicaram e sua participação em Sochi terminou como a morte do cisne. Como desgraça pouca é bobagem, Sebastian Vettel (segundo colocado) agora tem 236 pontos e Hamilton 302. Comparar esses números com os 229 pontos que Rosberg somou até agora, dá uma boa idéia do que serão os dias do filho de Keke até a próxima etapa, dia 25, em Austin, no Texas.
Para Hamilton a vitória em Sochi significou também passar Ayrton Senna no quesito número de vitórias — 42 a 41 para o inglês. Verdade que no tempo do brasileiro as temporadas eram mais curtas, mas os frios números sempre renderão comparações que mencionarão Hamilton à frente de Senna nesse quesito. Para o líder da temporada, porém, o significado deste número suplanta a estatística: a pintura original do seu capacete foi inspirada na que decorava o usado por Ayrton, o que mostra quem lhe inspirou.
Briga de fundo de quintal
Se o resultado da corrida deu o tom já conhecido na disputa interna da Mercedes, o choque entre Kimi Räikkönen e Valteri Bottas foi um grande borrão, algo já esperado e que, diga-se de passagem, demorou um pouco para acontecer. Dez anos mais jovem (26/8/89) que o compatriota Räikkönen (17/10/79), Bottas é quase tão arrojado e é o próximo finlandês voador na F-1 moderna. Pode-se comparar ambos a Senna (Kimi) e Prost (Valtteri), guardadas as devidas proporções e diferenças de épocas e, sem dúvidas, um é sucessor do outro.
Cotado para substituir Räikkönen na Ferrari, Bottas acabou ficando na Williams depois que as propaladas negociações não tiveram o fim que todos, exceto a equipe inglesa, esperavam. Dizer que isso inflamou os ânimos da disputa finlandesa em asfalto russo pode soar como exagero, mas não há como negar que a rivalidade entre ambos aumentou após o incidente que tirou o terceiro lugar do companheiro de Felipe Massa.
“Não foi um acidente de corrida, simplesmente alguém bateu no meu carro. Era para eu ter conquistado o terceiro lugar e volto para casa sem marcar pontos…”
O desabafo de Bottas deixa claro sua opinião sobre o choque, que segundo Räikkönen foi, sim “um acidente de corrida”, um acidente de corrida que acabou garantindo a conquista do segundo título de construtores da Mercedes. Os comissários desportivos determinaram que Räikkönen foi culpado e o penalizaram com 30 segundos no tempo total de prova, o que o fez cair de quinto para oitavo, resultado que consolidou o título para os alemães com quatro corridas de antecipação: a temporada 2015 ainda terá corridas nos EUA, México, Brasil e Abu Dhabi.
O futuro promete: se o finlandês mais velho é famoso por sua capacidade de ignorar tudo ao seu redor e concentrar-se em seu trabalho, o mais jovem é menos fechado e mais comunicativo, daí esperar-se que o acidente/incidente tenha novas versões nas próximas oportunidades que ambos disputarem posição. Em uma F-1 onde as emoções estão cada vez mais raras, vale a pena esperar por isso, especialmente pelo momento em que ambos vivem em suas carreiras.
Brasileiros voltam a marcar pontos
Um erro estratégico na prova de classificação determinou que Felipe Massa largasse em 15o lugar, três posições atrás de Felipe Nasr. Ao final da prova, o brasileiro da Williams ficou em quarto lugar e o da Sauber em sexto, beneficiado com a punição imposta ao finlandês da Ferrari. Resultados que ajudarão em muito o futuro dos dois Felipes: Massa mostrou que vive e Nasr pontuou após algumas apresentações menos afortunadas, resultado que tem valor importante na distribuição de prêmios e bônus financeiros, algo por demais importantes para uma equipe pequena como a suíça Sauber.
Checco celebrado
O terceiro lugar conquistado pelo mexicano Sérgio Pérez a duas corridas do GP que marca o retorno do seu país ao calendário da F-1 foi celebrado como vitória, aliás, com todo o direito. Equipe com orçamento muito mais reduzido que as quatro principais (Mercedes, Ferrari, Williams, e Red Bull), a Force India viveu sentimentos opostos em Sochi: enquanto “Checco” subia ao pódio, Nico Hulkenberg cimentou mais um tijolo na parede que o separa da consagração como piloto top na F-1.
“É muito bom conquistar meu segundo pódio com a Force India, um resultado especial que aumenta minhas expectativas pra a corrida de Austin e, principalmente, a do México.”
O alemão — vencedor deste ano em Le Mans, com um Porsche 919 Hybrid —, rodou sozinho na primeira volta e reconheceu que a temperatura ainda baixa dos pneus acabou causando o travamento das rodas traseiras e a rodada. Nessa manobra acabou levando junto Marcus Ericsson e, por tabela, Romain Grosjean, que saiu da pista para evitar o acidente. Após uma parada nos boxes para reparar o seu carro, o franco-suíço da Lotus acabou desistindo quando perdeu o controle do seu carro; até ontem não se sabia se o acidente foi consequência direta com o incidente da primeira volta, quando ele tocou ligeiramente o carro de Sérgio Pérez.
Pirelli afasta retorno da Michelin
A Pirelli e Bernie Ecclestone acabaram renovando o contrato de fornecimento de pneus dos borracheiros de Milão (atualmente controlados pelos chineses) até 2019. A notícia adia por pelo menos três anos a volta da Michelin à categoria. É provável que em 2017 os pneus tenham novas dimensões, com a adoção de aros de 18 polegadas e perfil baixo.
Resultados
1º) Lewis Hamilton, Mercedes 1h37’11”024
2º) Sebastian Vettel Ferrari, a 5”953
3º) Sergio Perez, Force India-Mercedes, a 28”918
4º) Felipe Massa, Williams-Mercedes, a 38”831
5º) Daniil Kvyat, Red Bull-Renault, a47”566
6º) Felipe Nasr, Sauber-Ferrari, a 56”508
7º) Pastor Maldonado, Lotus-Mercedes, a 1’01”088
8º) Kimi Raikkonen Ferrari, a1’12”358 (inclui 30” de penalização)
9º) Jenson Button, McLaren-Honda, a 1’19”467
10º) Fernando Alonso McLaren-Honda, a 1’26”210
Campeonato
1º) Lewis Hamilton, 302 pontos; 2º) Sebastian Vettel, 236; 3º) Nico Rosberg, 229; 4º) Kimi Räikkönen, 123; 5º) Valtteri Bottas, 111; 6º) Felipe Massa, 109; 7º) Daniil Kvyat, 76; 8º) Daniel Riccardo, 73; 9º) Sérgio Pérez, 54; 10º) Romain Grosjean, 44
13º) Felipe Nasr, 25
Campeonato de Construtores
1º) Mercedes AMG Petronas, 531 pontos (campeã) 2º) Scuderia Ferrari, 359; 3º) Williams Martini Racing, 220; 4º) Infiniti Red Bull Racing, 149; 5º) Sahara Force India, 92; 6º) Lotus F1 Team, 66; 7º) Scuderia Toro Rosso, 45; 8º) Sauber F1 Team, 34; 9º) McLaren Honda, 19; 10º) Manor Marussia F1, zero ponto.
WG