Os carros da Volkswagen do Brasil contam com a imbatível manufatura germânica, mas a marca não pára de despencar no ranking.
Está lembrado do Santana (foto), um ótimo sedã produzido no Brasil entre 1984 e 2006? Descontinuá-lo no Brasil foi uma bela trapalhada da VW, que não o substituiu e abriu um vácuo entre Voyage e Jetta. Ainda vende bem até hoje na China, onde é produzido com entre-eixos alongado. Os “gênios” da VW entregaram este segmento “de bandeja” para a concorrência, mesmo cientes de que, só entre taxistas, perderiam milhares de clientes que o a-do-ra-vam. Foram os mesmos “gênios” que exibiram a linha Audi no Salão do Automóvel (Anhembi, 1992) e anunciaram sua importação. Meses depois, desistiram de trazê-la alegando que prejudicaria o VW Santana. A família Senna agradeceu, penhorada, mais essa trapalhada. E cobrou caro, depois, para devolver a marca…
A Volkswagen liderou durante dezenas de anos o mercado brasileiro e o Gol foi campeão de vendas durante 27 anos. Mas entregou ambos os títulos para a Fiat, que assumiu a liderança do mercado em 2002. E o Palio tomou o título do Gol no ano passado.
A própria Fiat deixou de investir nos últimos anos e sua linha tornou-se anacrônica, pois colocou quase todas suas fichas nos modelos de Pernambuco. O Palio corre o risco de entregar para o Chevrolet Ônix o podium do mais vendido de 2015. Aliás, enquanto a GM investiu e renovou sua gama nos últimos três anos, a VW insistia em manter a produção do Polo, típica decisão de alemães distantes e indiferentes às tendências do nosso mercado. A GM, menos arrogante, não hesitou em eliminar Agile e Sonic que vendiam mal e faziam estrago dentro da própria família Chevrolet.
Se a VW fez trapaça com o motor diesel em outros países, fez aqui tantas trapalhadas mercadológicas que despencou para a terceira posição (atrás da Fiat em primeiro, GM em segundo) e conseguiu derrubar o Gol, de líder em 2014 para a 12ª. posição no ranking em setembro. Assistiu, impassível, a subida meteórica dos utilitários esportivos e não se mexeu para concorrer com o EcoSport lançado em 2003. Além do Duster, HR-V, Renegade, 2008 e outros que vieram surgindo. Fez-se de cega, surda e muda com o Logan, primeiro sedã com preço de compacto e tamanho de médio, sucesso da Renault logo ameaçado por Chevrolet Cobalt, Fiat Grand Siena e Nissan Versa. E nem assim se preocupou com a lacuna entre Voyage e Jetta.
Picape? Os italianos deitaram e rolaram com a Strada e só muitos anos depois os alemães reagiram com a Saveiro. A VW Amarok (epa, quatro cilindros diesel!) custou a emplacar até que os “gênios” concordaram em equipá-la com câmbio automático.
Ranking nacional? Entre os dez mais vendidos do Brasil em setembro, a Volkswagen conseguiu emplacar um mísero oitavo lugar com o Fox, muito atrás do Ônix na ponta, seguido do HB20 (fenômeno de mercado) e Palio em terceiro.
A Volkswagen não vai bem sequer no segmento de sua especialidade, o de entrada: o up! tem a imbatível manufatura germânica e, entre os nacionais, é o de menor consumo (etiqueta do Inmetro), tem a mais moderna tecnologia, nota máxima de segurança em crash test (pelo Latin NCAP) e menor custo de reparo, segundo o Cesvi. Mas, sabe-se lá por quê (design, campanha de publicidade?), suas vendas crescem lentamente e ainda se debate no 16º lugar no ranking.
Como a matriz da VW está hoje totalmente focada em corrigir suas trapaças ecológicas, pode ser que a filial brasileira tenha — agora — autonomia para corrigir suas trapalhadas mercadológicas…
BF