Antes de tudo, isto é uma lista pessoal. Carros têm “características”, equipamentos ou defeitos que não incomodam muita gente. Outros até enxergam estes detalhes como qualidades. Um motor que rende pouco, por exemplo, pode ser admirado por ser econômico ou durável, enquanto outros se irritam pela lerdeza em arrancadas ou ultrapassagens. Ou seja, não existe carro perfeito, muito menos modelos que agradem a todos.
Desta forma, cada um deve ter sua lista pessoal. O que vem a seguir é a minha lista, sem nenhuma ordem de importância ou relevância. Fique a vontade para discordar ou para fazer sua própria relação.
1) Carros que não andam reto. Lá vem um retão, asfalto bom, pista plana, sem vento… é só segurar o volante que o carro vai tranqüilo. Não é bem assim. Muitos carros exigem correção constante no volante, um pouquinho pra cá, outro pouquinho pra lá para continuar em linha reta. Isto pode ter muitas causas, desde uma simples falta de alinhamento até características construtivas, passando por pneus de baixa qualidade ou desgastados irregularmente. Isso me irrita, muito! Ainda mais que esta característica tem aumentado nos carros atuais, que contam com assistência elétrica no volante. Simplesmente um erro de projeto. Não existe o “centro do volante”, aquela posição de descanso do sistema que o carro anda reto.
Um fato estranho: isso ocorre mais em carros básicos ou baratos, que têm assistência elétrica de direção. Modelos mais chiques geralmente não sofrem desse mal. Ou seja, é possível que exista um auxilio elétrico de segunda linha que atrapalha andar em linha reta. Depois de “milhões de km de testes” antes do lançamento, será que ninguém percebeu isso como defeito?
2) Câmbio “curto” – “Brasileiro gosta de carro com boa arrancada” e toca-lhe câmbio com relações todas curtas. Você viaja a 100 km/h e o motorzinho parece de dentista. Mas de 3.500 rpm, gritando pela estrada. Caramba, se for verdadeiro que brasileiro gosta mesmo de ser campeão de arrancadas nas ruas, coloca as três primeiras marchas mais curtas, combinadas com a quarta e a quinta mais longas. Claro, fica um “buraquinho” entre terceira e quarta, mas isto não atrapalha ninguém. Não, encurtam todas as marchas pela relação final de coroa e pinhão e se tem um carro gritão na estrada, barulhento e ainda por cima, pouco econômico.
Felizmente esta tendência está diminuindo, com a adoção de câmbio com maior número de marchas (geralmente seis no manual e até nove em automáticos ou robotizados).
3) Excesso de eletrônicos – O terror do pessoal de marketing é que o carro tenha poucos recursos eletrônicos. “Não vende” para a garotada, a geração do celular. E aí surgem bobagens, como o recente “corretor de ventos laterais” em alguns modelos de luxo. Se bate um vento lateral, sensores percebem e corrigem o volante para o carro continuar em linha reta. SÓ QUE NÃO. A droga dos sensores percebe vento que não existe e o carro caí no primeiro caso: não anda reto, nem sem vento, nem com vento.
Cá entre nós: se alguém não consegue corrigir um ventinho lateral forçando um pouco o volante, fique em casa. Esse cara é um perigo na estrada.
Existem outros exemplos, como o limpador de pára-brisa com acionamento automático. Geralmente é maluco: com garoa. as palhetas trabalham full speed e com uma tempestade vai bem devagar ou são temporizadas. E tem o carro que estaciona sozinho. Que grande conquista para você que não tem a menor noção de onde começa e onde termina seu carro. Agora você será um exímio “fazedor de balizas”.
Claro, existe outro lado, a eletrônica que realmente faz diferença: os motores turbo amigos do meio ambiente, a geração downzised que combina torque e bom consumo são o melhor exemplo disso. Eles simplesmente não existiriam sem eletrônica.
3) Tudo na tela – Este item é quase uma continuação do anterior. O carrão tem uma tela touch, sensível ao toque, e o fabricante afirma todo orgulhoso que “está tudo na tela”. Fica bem simples: para mudar a estação do rádio bastam uns 10 toques na bendita tela, e uns dois minutos com olhos longe da estrada, e já se encontra a “lista das estações”. Se não estiver programada a estação procurada, melhor parar num posto. Vai se gastar uns 10 minutos para reprogramar tudo. O mesmo vale para diminuir a iluminação de painel: basta entrar em “programas”, depois “iluminação”, depois “painel”, depois “intensidade, depois… geralmente se deixa o painel do jeito que está, ofuscando o coitado do motorista.
4) Volante tapa-tudo – Geralmente o release do fabricante reza que o interior foi projetado com a última tecnologia em matéria de ergonomia. Qualquer cristão (ou não) vai achar a posição ideal para dirigir. E você abaixa um pouco o volante e ele cobre a parte superior do velocímetro. Nada importante, só não dá para ler velocidades entre 60 km/h e 140 km/h. Sei lá, a impressão é que o motorista-modelo para os “estudos ergonômicos” devia ter 1,50 m de altura. De novo a pergunta: milhões de km rodados em testes e ninguém reclamou? Só eu que sou chato?
5) Espelho fotocrômico – Este bendito espelho já tem umas duas décadas e continua funcionando mal. A idéia é bem legal: bate o farol e o espelho automaticamente corta a luminosidade. Só que não. Ele diminui só um pouco e, se for um farol forte na sua traseira, continua a incomodar. Não dá para melhorar? Funcionar tão bem quanto o velho espelho com a alavanquinha?
6) Proibido andar com a janela aberta – Hoje toda carroceria é estudada na tela de computadores poderosos com programas sofisticados. A melhora da aerodinâmica é evidente, auxiliando consumo e desempenho. Depois, tome túnel de vento, para aparar arestas e caprichar ainda mais nas qualidades para furar o ar. Só que o padrão é deixar os vidros fechados. Qualquer carro atual, quando se abre um vidro em velocidades um pouco maiores, a partir do 80/100 km/h surge um turbilhão interno, ondas sonoras que fazem seus tímpanos virarem tamborins e até provocam batucadas na tampa do bagageiro. Tem modelo que dá até mensagem para fechar os vidros para melhorar o consumo. Será? Com os vidros fechados, fica obrigatório ligar o condicionador de ar, o que aumenta o consumo. Como fica? E quem gosta de um ventinho na orelha?
7) Grades e escapes falsos – Quase sem comentários. Se é grade, tem de passar ar. Se tem jeitão de escape, tem de ser escape. Se for só para decoração, para ficar “estiloso”, é de uma pobreza horrível.
8) Encosto de cabeça genial – Felizmente está em extinção, mas muitas marcas adotavam encostos de cabeça nos bancos com dupla trava. Com uma mão se destrava um lado, com a outra mão se solta a segunda trava e, com os dentes você regula a altura do encosto. Simples, não?
9) Family face – Todos os carros da marca devem ter frente semelhante. Que triste! Você olha pelo espelho e não sabe se vem um Gol ou uma Amarok na sua traseira. Com certeza é o pesadelo dos designers. “Pode usar sua criatividade, mas a frente tem de ser assim, com grade dupla, faróis assim, pára-choque…”
Gente, é muito carro igual pelas ruas! Pára com isso!
10) Overboost de frenagem – De todos os recursos recentes de segurança, este com certeza é meu favorito em matéria de irritação. Tem vários nomes, de acordo com o fabricante, como BAS (Brake Assist), EBA (Emergency Brake Assist) ou AFU (Assistance au Frénage D’Urgence). Se o carro perceber que você pretende frear com vigor, ele automaticamente aumenta a capacidade de frenagem, tipo “pezão no fundo”. Gente, isso é um saco. Basta querer frear um pouco mais rapidamente e o carro estanca como se existisse um bando de velhinhas dois metros à sua frente. Deixe o motorista decidir. O melhor efeito do BAS ainda é uma pancada na traseira.
Bem, acho que está de bom tamanho, chega de reclamação. Vamos continuar convivendo com o “politicamente correto” — inclusive ao volante.
JS