Quando alguém diz “primeiro carro” geralmente se refere ao primeiro carro que comprou, certo? Se nós formos ver por outra perspectiva, tem outras formas também: o primeiro em que andou ou dirigiu também contam.
O primeiro carro em que andei, ao sair da maternidade, foi um Chevette SL 1983 branco, que o meu avô Rubens comprou novo no ano em que se aposentou (forçadamente, para dar emprego a um jovem, como queria o sindicato). Um sedã, com motor 1,6-L a álcool, com ignição eletrônica de série e câmbio de 4 marchas.
Cresci ao lado dele, aprendendo com o meu avô (e principal professor) a como usar ferramentas, conceitos de elétrica e mecânica, na oficina que ele tinha no quintal de casa o que alguns pais considerariam até perigoso para uma criança. Apesar das chaves, alicates, serras, torno, compressor, furadeira de bancada… não me lembro de ter me machucado, mas aprendi a usar todas elas, e começar as manutenções nos carros também.
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Enquanto não podia dirigir carros em escala 1:1, treinava com meu Jeep a pedal (na foto, com a capota homemade, afinal garoava). Mas bem que ensaiava no volante de verdade.
Cuidar da lataria também fazia parte.
O Chevette não rodava tanto assim, e era sempre considerado o “carro 0-km” da casa. Para usar mais regularmente havia sempre outro carro pronto para as tarefas rotineiras — foram Corcel, Fusca e Marajó. Mas de vez em quando participava de algumas viagens, como esta a Paraty, no Estado do Rio de Janeiro.
Quando estava aprendendo a dirigir, a ferramenta do meu aprendizado foi também o Chevette. Embora muito diferente do que veria nas aulas práticas e exame, os conceitos são aplicados da mesma forma.
E ele acabou se tornando o meu primeiro carro, quando após o falecimento do meu avô os familiares entenderam que eu gostava do Chevette e o que ele representava para mim— e eu para ele! E alguma porção em lembranças também.
Além de tudo o que ele fez em família nos 25 anos até então, ele estava pouco rodado e foi o meu passo para ir para à faculdade e ao estágio. Foram alguns anos assim, sem nenhum acidente ou incidente. Tem marcas do tempo sim, mas com orgulho. Restauração nenhuma desfaz o que o tempo fez de bom, mesmo que com isso trouxesse algumas mossas ou pequenos riscos; a pintura original comprova isso. E até que não o usei tanto, a quilometragem continua sendo baixa até para um seminovo.
Desta forma, o acompanhei por muitos anos na família, mesmo ele sendo mais velho que eu. Hoje ele aparenta ser o mais novo de nós.
FCM
Santo André – SP