O carro com fuel cell (célula, ou pilha, a combustível, no caso hidrogênio) tem seus problemas, entre eles o custo de obtenção, armazenamento e distribuição do gás. Mas já estão sendo produzidos em série alguns modelos com esta tecnologia. O primeiro deles é o Mirai (futuro, em japonês), da Toyota, que dirigi na pista de Fuji, autódromo ao lado do monte de mesmo nome e que já foi palco de famosas corridas de F-1.
Não há diferenças sensíveis entre dirigir um elétrico movido a bateria ou com célula a hidrogênio. Ambos com um “senhor” desempenho pois, ao contrário do motor a combustão, basta encostar o pé no acelerador para surgir um torque abundante (34,1 m·kgf em qualquer rotação…). E, sem embreagem nem caixa de marchas para atrapalhar os 154 cv de potência. Apesar do peso (1.850 kg), ele arranca bem: 9,4 segundos de zero a 100 km/h, segundo a fábrica. Máxima declarada de 178 km/h. A suspensão é tradicional, McPherson na dianteira, braços duplos na traseira. Motor e tração na dianteira. Mas o Mirai é bom de curva principalmente por seu centro de gravidade baixo, pois a célula, baterias e tanques de hidrogênio (dois, um de 60 e outro de 62,4 litros) ficam sob o assoalho (veja no desenho abaixo). Como só rodei no bom asfalto da pista de Fuji, não dá para imaginar se o carro será confortável em pisos menos privilegiados…
O Mirai é grande e tem dimensões semelhantes às do Mercedes Classe E. Acomoda quatro passageiros com muito conforto. Internamente é bem acabado, sem grandes sofisticações. Mas tudo muito moderno, com painel digital, comandos bem posicionados e sensíveis ao toque. Para o tamanho do carro, o porta-malas deixa a desejar com reduzidos 361 litros, semelhante ao de um VW Golf. O carro tem uma bateria de hidreto de níquel que se recarrega pelo sistema de regeneração de energia durante as frenagens.
A Toyota anunciou o preço do Mirai: 57.500 dólares. Mas disse esperar que nove entre cada 10 compradores prefiram o arrendamento (leasing), com 3.649 dólares de entrada e pagamentos mensais de 499 dólares.
Desnecessário lembrar que o carro é absolutamente silencioso, pois o ruído do motor elétrico é insignificante. Necessário lembrar porém que, ao contrário do carro elétrico a bateria, o Mirai tem escapamento. De onde sai exclusivamente vapor de água…
Comentário 1: Será que vai dar?
Imagine que você tenha um carro elétrico e esteja levando seu filho para o aeroporto, para uma viagem internacional. Conferiu no painel a carga da bateria e, dos 300 km de autonomia, o ponteirinho indica 1/3 de disponibilidade, ou seja, o carro ainda roda cerca de 100 km. Da sua casa para o aeroporto são 40 km, um total de 80 km na ida e volta. Mas, no meio do caminho, seu filho percebe ter esquecido o passaporte em casa. Tempo para voltar e buscá-lo não seria o problema. Mas, o pânico instalado a bordo é pela bateria não ter carga suficiente para voltar em casa e ainda enfrentar todo o percurso de ida e volta para o aeroporto. Nem pensar em recarregá-la em casa, pois são necessárias umas duas a três horas para uma carga rápida. E aí seu filho perde o avião.
Por esta limitação de autonomia, a tendência do carro elétrico, segundo os fabricantes japoneses, é de adotar o sistema da célula a hidrogênio, que pára no posto e recarrega o tanque entre 3 a 5 minutos. Elon Musk, dono da Tesla, continua apostando na bateria.
Comentário 2: Elétricos, duas vertentes
Existem duas vertentes para o carro elétrico. A primeira é movimentar os motores com a carga de uma bateria. É tão antiga que existiu antes mesmo de se inventar um automóvel com motor a combustão, em 1886. Mas sempre apresentou o problema da autonomia: ao contrário dos nossos automóveis, não dá para encostar num posto e recarregá-la pois a operação demora horas. Mas a bateria vem sendo desenvolvida, está cada vez mais leve e eficiente e permitiu o lançamento de dezenas de modelos elétricos. A marca mais famosa é a Tesla, dos EUA, que já produz automóveis que rodam até 400 km. O carro elétrico mais vendido no mundo é o Nissan Leaf.
Entretanto, como a autonomia continua sendo um empecilho para o carro elétrico, uma segunda alternativa é a célula a combustível, a fuel cell A energia elétrica é produzida no próprio automóvel a partir de uma reação química do hidrogênio armazenado no tanque com o oxigênio disponível na atmosfera. Quando o tanque esvazia, é só parar no posto e abastecê-lo novamente, como é feito hoje nos carros a gás natural veicular.
BF