Vai passar um tsunami pelos cofres da Volkswagen. Quebrar ela não vai, pois o governo alemão não deixa. Mas seus acionistas…
A GM não quebrou: quando chegou à beira do abismo, o governo americano veio em seu socorro. A Chrysler também não: empresas desse porte, se quebram, vira comoção social. E a Volkswagen? O rombo no cofre com a maracutaia do diesel é incalculável:
1 – Ela está sujeita a multas pesadíssimas dos governos de diversos países, pelos danos ambientais causados por 11 milhões de carros com motores diesel preparados para trapacear nos testes de emissões. Só nos EUA, onde vendeu 480 mil deles, as multa pode chegar a US$ 18 bilhões (US$ 37.500 por automóvel). A Suíça já ameaçou não renovar a licença destes carros em 2016.
2 –Vai ter que tirar do cofre mais algumas dezenas de bilhões de dólares para indenizar todos os consumidores que entrarem na justiça contra a empresa. Advogados americanos e europeus já mandaram cartinhas para os donos e garantem levar pelo menos U$ 5.000 por automóvel em ações de perdas e danos. Basta alegar o “mico” na garage, o carro que perdeu valor de mercado e se tornou quase invendável. Sem contar que muitos dos proprietários recusarão o recall, pois não concordam em ter a potência reduzida e consumo aumentado, única forma de reduzir as emissões de um motor diesel. A conta poderá chegar a US$ 55 bi (US$ 5.000 x 11 milhões).
3 – Outra encrenca judicial a ser enfrentada por Wolfsburg são as milhares de empresas que adquiriram seus carros a diesel. Optaram pela marca para respeitar o código de ética da própria companhia, que proíbe incorporar à frota automóveis com elevado índice de emissões. Podem processar a fábrica que os induziu a burlar seu próprio regulamento interno. Entre os frotistas, governos de vários países também foram iludidos ao comprar automóveis supostamente “limpos”.
Fora todo este imbróglio judicial, não será baixo o custo para reparar estes automóveis. A engenharia da Volkswagen pesquisa soluções há quase dois meses, mas ainda não descobriu como resolver o problema de forma simples, rápida e barata. Soluções existem, mas nenhuma terá custo inferior a US$ 1.000 que, em 11 milhões de carros, levam a conta para além dos US$ 10 bi.
Não se sabe também o tamanho do rombo para ressarcir os prejuízos sofridos pelas centenas de concessionários com milhares de automóveis invendáveis nos pátios. E dos fornecedores que tiveram seus pedidos de peças e componentes cancelados na última hora.
Tudo somado, um tsunami que poderá superar US$ 100 bilhões, valor que abala as finanças de qualquer empresa, até da poderosa Volkswagen, pois os números se aproximam de seu valor de mercado.
Quebrar ela não vai, mas seus acionistas estão temerosos com o progressivo derretimento de suas ações à medida que o buraco vai ficando mais lá embaixo. De março deste ano, quando chegou ao seu valor máximo, até a semana passada, elas despencaram para menos da metade. Se o cofre esvaziar, o governo alemão fará gigantescos aportes para salvá-la e, depois de alguns anos, com a situação estabilizada, uma oferta de novas ações (IPO) ao mercado. Ao contrário da GM e Chrysler que quebraram por incompetência de gestão sem prejuízo de seu produto ou imagem, a Volkswagen foi flagrada trapaceando o consumidor e o meio ambiente. Dois dos mais execráveis crimes da atualidade e que podem interferir, mais cedo ou mais tarde, em sua imagem corporativa.
BF