Assim como a maioria dos motoristas brasileiros, meu primeiro carro foi um Fusca. Na verdade não era meu, era da minha esposa, mas era o carro da família. O Fusca não foi o primeiro carro que dirigi, nem o único até aquele momento. Meu pai teve diversos carros, de diversas marcas, que dirigi e aprendi a gostar. Lembro com muito gosto da VW Variant II, dos Chevrolet Opala Silverstar e as duas C- 10, entre outros.
Mas no sentido de um carro para o meu dia-a-dia, o Fusca foi o primeiro. O nosso era um modelo novo, da safra pós-renascimento do carro na era Itamar Franco. Esse valente besouro nos acompanhou em parte muito importante das nossas vidas. Porém, após tantos serviços prestados, resolvemos trocá-lo e compramos um Fiat Uno.
Foi uma mudança enorme! Saímos de um carro projetado na década de 30 para o conceito de carro mundial da década de 1980.
Sendo assim, lembro-me com clareza a sensação que tive ao dirigir o Uno a primeira vez. Era um modelo básico, não tinha absolutamente nada além do necessário, mas eu me sentia em um Mercedes última classe ou num Bentley! Tamanha era a diferença para mim.
Em primeiro lugar, me recordo bem da sensação de espaço interno, que era enorme, comparado com o Fusca. Depois a visibilidade em todas as direções. Como alguém já disse, o Uno era um aquário, e em relação ao claustrofóbico Fusca a sensação era ampliada. Algo que me chamava atenção, e até me divertia, era a distância que o pára-brisa ficava dos ocupantes. Era algo incrível, aquele vidro lá bem longe de mim. O do Fusca, reto, quase ia colado no meu nariz (que não é nada pequeno).
Após me sentir em um ginásio de esportes dentro do Uno, a coisa que mais me chamou atenção foi o silêncio e maciez ao rodar. Era coisa do outro mundo! Os pequenos pneus radiais proporcionavam grande conforto.
Em seguida eu me impressionei com a estabilidade, em todos os aspectos. Lateral, longitudinal e o comportamento em curvas. Excelente. O Fusca, na estrada, dançava feito uma bailarina louca. O Uno mantinha-se preso ao asfalto, contornando as curvas de forma obediente e tranquila.
E seguimos com minhas descobertas e sensações ao dirigir o Uno. Apesar da falta de regulagem de altura e distância do volante de direção, e o banco do motorista ter apenas a regulagem de distância, a posição de dirigir era muito confortável no auge dos meus vinte e tantos anos. Naquela idade não havia mesmo nada que me incomodasse. Mas de qualquer forma era mesmo uma qualidade do pequeno Fiat.
Além disso, os comandos estavam todos à mão. O sistema de pequenas alavancas em caixas quadradas em torno da direção era, em minha opinião, muito, muito superior em ergonomia a tudo que se tinha ao alcance de um simples brasileiro à época. Com um simples estender dos dedos alcançava-se as pequenas alavancas para comandar os faróis, limpadores e outros, sem tirar as mãos do volante.
Os freios assistidos, a disco na dianteira, eram outro aspecto maravilhoso do Uno.
Minha filha era bem criança, e me recordo de nossas viagens, nas férias de fim de ano, à casa dos avós em São Paulo, a bordo do valente Uno. Toda a bagagem acomodada no minúsculo porta-malas, cadeirinha do bebê fixada à moda da época no banco traseiro e lá íamos nós numa felicidade só. Não raro pegávamos trechos de muita chuva nessa época do ano no sudeste e o Fiat se comportava muito bem na chuva.
O pequeno motor de 994 centímetros cúbicos sofria na minha mão! Eu queria tirar tudo que o coitado não tinha nas subidas e ultrapassagens!
Gostamos tantos que após esse primeiro Uno vermelhinho, duas portas, tivemos mais dois, depois um Prêmio e por fim uma Elba (daí por diante migramos para outros carros da marca, que á época oferecia inúmeras inovações). Todos excelentes carros para sua época.
Um dos últimos Unos que tivemos, era um luxo. Era a versão EP, com ar-condicionado, painel já bem mais moderno e muitas outras melhorias, além ter quatro portas.
Talvez nem todos concordem com minhas sensações ao dirigir o meu primeiro Uno, mas há que se comparar sempre com as características do Fusca, um gigante, sem dúvida, um ícone da indústria automobilística, mas uma concepção de carro pertencente a uma outra era.
Tentei ressaltar aqui as enormes distâncias entre esses dois projetos exitosos separados por 40 a 50 anos de diferença. Neles vemos retratados a evolução, os avanços e conquistas, sob vários aspectos, desse fantástico ramo industrial que é o da indústria automobilística.
JTV