Há exatamente vinte anos ele chegava em casa, em Guarulhos, região da Grande São Paulo. Já fazia muito tempo que o antigo amigo tinha partido deixando saudades num garotinho de nove anos, ele nunca esqueceu a cena do querido “Volks” sair da garagem com seus olhos acesos, essa seria a última vez que ele o veria, foi duro e o garotinho não conteve as lágrimas na despedida.
Esse garoto foi crescendo e conhecendo a vida, mas, nunca esqueceu do seu antigo amigo, a saudade de passear ao colo do pai nas estradinhas de terra ainda estava presente na sua lembrança.
Passou o tempo e esse garotinho cresceu, estudou muito, andou muito por estradas de terra ou lama e toda vez que saia da escola lembrava de quanto valor tinha aquele amigo que o ajudara a não pisar na lama e raramente o deixava na mão.
O garoto agora moço com sua carteira de trabalho assinada e com uma profissão aprendida com muito custo em uma escola profissionalizante se orgulhava de ser auxiliar técnico.
Com o comprometimento com o trabalho e muito esforço juntou na poupança uma pequena quantia em dinheiro. Queria criar asas, afinal um moço só se torna homem quando aprende a dirigir, ou melhor, quando pratica aquilo que teoricamente já está na sua mente, pois seu velho amigo já havia explicado teoricamente como as coisas funcionavam, foi assim de tanto observar seu pai e o antigo amigo “Volks”, ele tinha certeza que sabia como fazer.
Certo dia da vida o moço conheceu um senhor chamado Hélio, um pedreiro de mão cheia que acabara de fazer uma pequena reforma numa casa, que como pagamento recebeu um “Volks” um tanto surrado pelo tempo. Como seu Hélio não gostava de carro pequeno, logo ou colocou à venda e o destino encarregou de colocar o querido carrinho na trilha do moço que queria virar homem. Fecharam negócio com uma quantia em dinheiro e um videocassete usado.
Chegou o grande dia do garoto encontrar um velho novo amigo “Volks”, ele se lembra como fosse hoje. Pediu para seu Hélio o tirar da garagem e deixá-lo na rua. Entrou no carro, sentou-se, ajeitou o banco e sorriu, o cheiro era o mesmo de sempre, os olhos encheram-se de lágrimas, respirou fundo , ajeitou os espelhos, conferiu se estava no ponto-morto e deu a partida. Estava lá o velho som do motor, engatou a primeira, baixou o freio de mão e saiu sem sustos ou engasgo. Pura felicidade dele e do “Volks” surrado que encontrava um novo amigo, o “Volks” agora chamado de Amarelinho.
Nunca o decepcionou e ambos desenvolveram uma grande amizade. Já passaram vinte anos juntos e felizes, o moço agora um jovem senhor e o “Volks” rejuvenescido e feliz por encontrar um grande amigo.
ESD