São impressões, apenas o que ficou gravado mais fortemente na memória. Por isso achei por bem não me ater a dados técnicos e somente dar a imagem final que cada carro deixou. As matérias completas de cada um estão no AE.
VW up! TSI
Um espetáculo! Esse motor de 3 cilindros 1-litro turbo é, a meu ver, a mais interessante novidade lançada no ano. O up! equipado com esse motor, além de ser o mais econômico carro nacional, é um dos mais entusiasmantes de guiar. Como anda! O motor é impressionantemente elástico. Pelo velocímetro, sua 1ª marcha vai a 60 km/h, a 2ª vai a 100 km/h, a 3ª a 160 km/h e a 4ª atinge a máxima de 184 km/h (álcool). E todas elas ele engole rápido. A 5ª é para descanso, só que ele “descansa” em 5ª, mas basta o giro estar ao redor de 2.000rpm que basta uma acelerada para ele ganhar velocidade com um vigor delicioso.
Na cidade, essa tremenda elasticidade, conjugada com marchas longas, resultam em poucas, bem poucas, trocas de marcha.Na estrada, então, nem se fala. Em pista simples as ultrapassagens são incrivelmente rápidas e, portanto, seguras. Despacha meio mundo. Acho que os outros, dirigindo “carrões”, não entendem bem como é que aquele carrinho some feito uma bala. Fora que ele é impressionantemente silencioso, tanto quanto ao motor como quanto a ruído aerodinâmico. Pouco se ouve do motor e o que se ouve é bom.
Esse motor cairia muito bem também em carros mais pesados. Por exemplo, o Fox e até mesmo o Golf. Ele dá conta deles, fácil.
Defeitos do carro: a quase impossibilidade de se fazer o punta-tacco. O velocímetro é obliterado pelo volante. O conta-giros é muito pequeno. Não tem regulagem da intensidade da luminosidade dos mostradores. Não reparei em mais nada que me desagradasse, talvez por estar tão encantado com suas qualidades. É daqueles carros que não cansamos de guiar. É ágil, leve, ótima visibilidade, confortável para quem vai na frente, suspensão macia, no ponto, e agarrado e equilibrado nas curvas. Para viajar em dois não se precisa nem se deseja mais do que ele facilmente oferece.
Na estrada, andando rápido, sem lhe dar folga, fez 17 km/l quando com gasolina e 13 km/l quando com álcool. O interessante é que na cidade deu o mesmo consumo que na estrada, sinal que na estrada andei meio forte mesmo, e na cidade, como sempre, andei devagar. Outro ponto que se destacou foi que esse foi o carro em que mais senti diferença de desempenho quando com um combustível ou outro. A pegada com álcool é maior.
Pena que esse motor só equipe as versões de 4 portas, ao menos por enquanto. Basta isso, ter só duas portas, e trazê-lo para a altura de rodagem alemã, a original, que teríamos aí um hot hatch de babar. Ao que parece, a fabricante não quer associar a imagem desse motor à esportividade, mas sim à eficiência. Tudo bem, Volkswagen! Já entendemos! Ele é eficiente pacas! Agora já pode soltar o hot hatch para a rapaziada!
Estou com ele há uma semana e agora vou ficando meio tristonho por ter que devolvê-lo. Nenhum outro carro cairá tão bem na minha rotina.
Renault Sandero R.S. 2,0
Finalmente um legítimo R.S. por aqui. O motor, além de econômico, é um canhão, e ele associado a um câmbio de marchas próximas dá um resultado dos mais esportivos. É meter marcha atrás de marcha e ter uma aceleração empolgante, de respeito. O ronco é dos bons, encorpado. Além disso, o acerto de suspensão é primoroso. Faz curva como ele só, praticamente neutro, sem tendência subesterçante, como a têm seus irmãos Sanderos “comuns”.
Ótimo para pegar uma estrada e bom para a cidade, já que não chega a ser muito duro de suspensão, e está pronto para entrar na pista para um track day.
O melhor custo-benefício do mercado, quando se entende o prazer ao volante como o benefício.
Não me lembro dos defeitos. Eu teria que consultar o que escrevi sobre ele na ocasião do teste. Se os achei, não devem ser de importância maior.
Ford Focus hatchback Titanium 2.0
O mais bem acertado modelo médio nacional. Tem um “chão”, uma dinâmica, comparável ao dos melhores importados. Em estabilidade, suavidade ao rodar, freios, pouco ou nada fica a dever aos melhores importados de mesmo porte.
O difundido sistema de eixo de torção na suspensão traseira evoluiu, sim, e muito, porém o sistema independente multibraço, se bem acertado como este do Focus, faz diferença, sim, é bem melhor, principalmente nas curvas de alta combinado com alguma ondulação.
O motor rende muito bem, acelera muito, porém o carro roda tão bem, tem tão boa estabilidade, tão agradável suavidade, tão bom isolamento acústico, que não se nota a quanto estamos, daí alguns acharem que ele não anda tanto. Mas acontece que ele anda, sim, e muito. Só que ele faz com graça e facilidade o que os outros fazem com dureza, suor. Em suma, ele é o que mostrou o melhor conjunto. É a minha referência na categoria.
Defeitos: o espaço para as pernas dos que vão atrás poderia ser só um pouquinho maior. Só isso.
Honda Civic LXR
Foi um teste meio que a título de despedida desse excelente sedã, pois neste ano dele só vai sobrar o nome. O novo Civic vem de um projeto totalmente novo, e, como destaque, terá o que há de mais moderno em questão de motorização: motor 1,5-litro turbo e injeção direta. Com isso, espera-se mais potência e em giro mais baixo, e menor consumo. Os concorrentes que se cuidem.
No teste do “antigo” se constata que ele está se aposentando que nem o Pelé, em plena forma. É um belo de um motor conjugado a um excelente câmbio automático: uma silenciosa e eficiente perfeição mecânica japonesa. Tem um excelente chão, é ótimo para viajar, muito rápido e seguro, e só peca por ter a suspensão desnecessariamente dura, principalmente por ele ser um sedã familiar. É certo que a marca objetiva lhe dar um caráter mais esportivo, daí, talvez, admitirem essa dureza de suspensão, mas carros como o citado Ford Focus provam por A mais B que hoje é possível ser ótimo de chão mantendo o conforto. Na estrada, tudo bem, sua rigidez não incomoda, mas na cidade, sim. É um dos melhores estradeiros que peguei. Viaja que é uma beleza e o motor é econômico.
Espero que o novo venha com melhor isolamento acústico.
Renault Duster Oroch 2,0
Uma bem-vinda novidade. Particularmente, os suves e as picapes não me atraem, a não ser quando necessários, ou seja, quando temos que pegar terra e/ou quando temos que carregar grandes tralhas.
A Oroch entrou sendo mais barata, prática e agradável de dirigir que as picapes médias de cabine dupla — tipo Amarok, Hilux, Ranger etc.—, cuja guiada está mais próxima da que um caminhão do que a de um bom automóvel. Dirigir a Oroch é como estar ao volante do suve Duster, praticamente igual, portanto, mais macia, mais leve, mais ágil, mais próxima de um automóvel, ou seja, mais agradável para o motorista e ocupantes.
Outra vantagem sobre as médias é o maior espaço interno para todos os ocupantes. Todos viajam melhor. E sobre as pequenas de cabine dupla ela tem a vantagem de levar com o devido espaço e conforto até cinco passageiros.
Testamos só a 4×2 com motor de 2 litros, que é excelente, muito elástico e potente (148 cv com álcool), e econômico para o trabalho que exerce, que é levar em viagem um veículo nada aerodinâmico e mesmo assim fazendo ao redor de 9 km/l de álcool. O câmbio manual de 6 marchas, com comando a cabo, é muito bom, com trocas precisas e leves, mas, pelas características do modelo, o mercado há de estar pedindo um câmbio automático, que deverá vir logo.
Em subidas na terra a tração dianteira não é ideal. A versão 4×4 é esperada para breve.
Falta testar a Oroch com motor de 1,6 litro. Esse motorzinho é um show faz tempo e vai dar bem conta do recado. O Bob dirigiu-a no lançamento e gostou.
Kia Picanto manual
Delicioso compacto. Simples, design de bom gosto, confortável para duas pessoas, e até que leva bem mais duas no banco traseiro. Viaja muito bem. Motor 3-cilindros de 1 litro extremamente econômico e cumpridor. Dá para viajar bem a 140 ou 150 km/h. Vai silencioso e estável.
Suspensão um pouco dura, mas isso é aceitável devido ao porte do carro, se bem que o up! e o Ka, de mesmo porte, são tão estáveis quanto e mesmo assim mais macios.
Ponto alto é a excelente ergonomia que oferece ao motorista. Carro que se dirige o dia inteiro e não cansa. Ah! O trambulador do câmbio, a cabo, está entre os melhores.
Chevrolet Camaro SS
Motorzaço, claro! É um canhão. O que incomoda é ele ser um carro muito grande, principalmente muito largo, para uma cidade como São Paulo. E tudo bem, porque quem aqui mora não vai comprar um Camaro SS para ir ao trabalho ou à feira. Aqui não é Los Angeles. Aqui temos um piadista de mau gosto com poderes para infernizar a vida dos motoristas. O que consola é que em breve, na Papuda, ele terá o troco.
É um tremendo esportivo, excelente de freios e de curva, mas, cá entre nós, para pegar uma estrada prefiro esportivos menores, mais leves.
Senti falta de um câmbio manual. O câmbio automático, o único modo como é importado, é bom, muito bom, trabalha muito bem, mas trocando marchas num câmbio manual o som dessa troca ficaria muito mais legal. Só o som emitido nas trocas dos automáticos já basta para “me cortar o barato da coisa”, já basta para me dar uma esfriada, o sangue não esquenta. Não adianta. Pode ser qualquer automático ou automatizado, robotizado etc. Se não tiver câmbio manual, meu sangue não esquenta.
Save the manuals!
Chevrolet Spin LTZ 1,8
Grata surpresa. Seu aspecto alto, longo e estreito sugere que seu comportamento estaria mais para o de uma Kombi do que de uma minivan moderna, mas me surpreendi com o quanto ela é gostosa de guiar. Suspensão macia e boa de chão, estável. Inclusive na estrada peguei até que fortes ventos laterais e, mais uma vez, contrariamente ao que sugere o seu aspecto — grande área plana vertical — ela se saiu bem nisso também. Rola muito pouco nas curvas, o que contribui para amenizar bastante o incômodo que os veículos altos costumam provocar com oscilações laterais.
O motor, de 1,8 litro e 8 válvulas, já está um pouco antiquado, mas cumpre bem o seu papel, sendo que boa parte disso se deve à ajuda dada pelo bom câmbio automático, epicíclico, de 6 marchas. Só em giro alto é que o motor se torna um pouco ríspido e ruidoso, mas em velocidade cruzeiro vai suave e silencioso.
Ela viaja bem. Leva bem famílias numerosas e respectivas bagagens. É útil e confortável. É incrível o que cabe de coisa nessa minivan. Só o banco traseiro poderia ser mais acolchoado, mais macio e confortável, maior e com encosto reclinável, o que seria algo fácil de fazer.
Com o tempo, o convívio, cada vez mais vamos gostando dela, porque ela é prática, útil, leve, fácil de guiar, boa visibilidade geral, tem interior claro e arejado; em suma, uma boa minivan familiar. E com o tempo, devido à sua simpatia, até que vamos achando alguma beleza nela.
Chevrolet Cruze Sport6 LT
Seu ponto alto é a ergonomia. Para mim, particularmente, é perfeita. O carro é também melhor do que esperava. O motor rende muito bem e o Cruze, modelo hatch, dá sensação de leveza, que somada a ele ser bom de chão confere prazer ao dirigi-lo. É outro carro que não cansa dirigir.
O câmbio manual, de 6 marchas, tem ótimo trambulador, a cabo, e seu escalonamento me pareceu correto.
Bom espaço também para quem vai atrás, com liberdade para as pernas e bom encosto, além de amplo porta-malas.
Só lhe falta um melhor isolamento acústico, tanto do motor quanto da suspensão. Vale lembrar que nos hatches é comum essa maior intromissão do barulho da suspensão traseira. Nos sedãs ela fica mais isolada.
Sua suspensão é mais para dura, mais para o lado firme, mas como ele é um hatch com um apelo mais esportivo isso se torna tolerável. Mesmo assim ela é um pouco mais macia que a do Civic, por exemplo.
Não chega a ser um hatch-foguete, mas anda bem e tem bom chão.
Conclusão: além destes carros citados, testei outros, andei em outros, inclusive clássicos antigos, porém creio que já dei um variado apanhado. Foram bastantes os elogios e poucas as críticas, sinal que, das duas, uma, ou ando muito bonzinho ou os fabricantes andam fazendo bons carros e só estou sendo justo.
Agora, quanto aos preços, é desnecessário dizer que nossos carros estão e sempre foram muito caros.
AK