Conforme o planejado, a terceira semana de convívio com o Citroën C4 Picasso foi variada e muito intensa. Trajetos urbanos truncados, uma boa dose de congestionamentos e, no meio disso tudo, um bate-e-volta ao litoral com direito a tempestade pelo caminho e um trecho no retorno onde para cumprir míseros 30 quilômetros foram necessárias quase quatro horas…
E começarei por aí mesmo, por este insano trecho rodoviário entre as litorâneas Ubatuba e Caraguatatuba onde uma obra de ampliação da rodovia massacra os usuários da via indiscriminadamente, sejam eles turistas ou cidadãos das localidades cortadas pela SP-055 (ou BR-101) para se locomover. Planejamento não é o traço forte de nossas administrações, sabemos, mas quem passa pelo trecho onde a rodovia foi reduzida a mão simples por cerca de 700 metros ficará pasmo em ver que espaço para fazer três ou até quatro pistas não faltaria. O que falta, muito, é critério para evitar um balizamento cruel que desconsiderou (?) que no mês de janeiro o fluxo de veículos cresce desmesuradamente.
Mas, como diz o ditado, alguns males vem para bem e estar no C4 Picasso nestas torturantes horas foi quase uma bênção. O conforto e a docilidade desta minivan nesse para-e-anda reduziu em muito o estresse e o sofrimento. Houve tempo — até demais — para estudar atentamente cada detalhe interno e lapidar o conhecimento sobre este veículo. Um deles, verificar que o ar-condicionado entrega o que promete, deixando o calorento motorista selecionar 18 ºC e a acompanhante, 23 ºC. Notar que a recepção do rádio FM é bem acima da média e que emissoras que em outros veículos “somem” no trecho percorrido, no Picasso não perdem a voz. Perceber que o limpador de para-brisa ligado não resulta naquele hipnotizante ruído incômodo agravada pela situação de engarrafamento desesperador. Festejar as duas portas USB provedoras de energia para os onipresentes telefones e… o melhor de tudo, contar com poltronas bem desenhadas, e dotadas de massagem para a região lombar.
Superado o inferno, a subida de serra apressada. Se na semana passada pressa não havia, desta vez ela não faltou. Mesmo com as ridículas restrições de velocidade — 30 km/h em certos locais! — a rodovia dos Tamoios foi engolida grandiosamente pelo Citroën que fez ver que, sim, a carroceria rola. Aliás, como deve ser em um carro familiar, até mesmo para avisar ao supostamente pacato cidadão que o dirige que a velocidade é elevada. Porém, tal inclinação não é tão exagerada quanto a maciez das suspensões fazia supor e — nota obrigatória — plenamente favorecidas pelos excelentes pneus Michelin Primacy HP, que basicamente ignoraram o piso que passou de muito molhado a apenas úmido, entregando aderência e a necessária “leitura”, avisando perfeitamente quando o limite se aproximava.
Repetir a bela marca de consumo para esta mesma viagem obtida na semana anterior, 12,6 km/l, pertencia ao reino dos sonhos visto que no malfadado trecho de congestionamento na baixada vimos 5,6 km/l no computador de bordo. A marca na chegada a São Paulo foi de 10,5 km/l, cifra que confirmou ser este motor 1,6-litro turbo do C4 Picasso bem parcimonioso.
No resto da semana, a vida como ela é: trechos curtinhos principalmente no sobe e desce danado na zona oeste de São Paulo. E finalmente a atitude de baixar o aplicativo Link MyCitroën e se maravilhar com os dados obtidos. O aplicativo é bastante simples e uma vez baixado e conectado via Bluetooth ao carro, toda vez que é realizada uma viagem (ou melhor, a cada vez que o motor é ligado e desligado) dados como data e hora da viagem, distância percorrida, duração do trecho e média de consumo e horária são armazenados. Por vezes o aplicativo “empaca”, demorando para atualizar os dados. Porém, mesmo passando algum tempo e gerando ansiedade sobre estar ou não funcionado, aprendemos que ele não perde nada, apenas não carrega os trechos quando você quer e sim quando ele bem entende. Nada grave.
O pior dos resultados observados nos quatro dias em que usamos o Link MyCitroën a marca pior foi de 4,7 km/l em um trecho de 2,7 km (a uma estonteante média de 12 km/h) e a melhor foi de espetaculares 15,9 km/l em um trecho de 33 km feito entre a região de Pinheiros e o Aeroporto Internacional de Guarulhos, trecho feito em horário com tráfego relativamente livre e com mais de 50% da distância em via expressa. Mesmo assim, muito bom.
Neste intenso uso urbano os 4,5 metros do C4 Picasso parecem encolher. Para estacionar o auxilio das câmeras e sensores torna simples qualquer manobra. Usamos o sistema de auxilio ao estacionamento e, sim, ele funciona. Mas pretensiosamente achei que não preciso dele: o que ele faz, eu faço talvez não tão precisamente, mas mais rápido. Só que no rock’n’roll das ruas paulistanas o aparentemente volumoso C4 parece um C3, mérito de uma direção justa e rápida, da plena visibilidade que inclui os excelentes espelhos retrovisores e também ao sistema que alerta a proximidade de um veículo te ultrapassando. Quando isso ocorre, uma pequena luz laranja se acende na extremidade do retrovisor. Acostumar o olhar a perceber essa luzinha demora um pouco, mas quando o hábito se estabelece, o sistema se comprova bem útil. No entanto, a tal luzinha deveria/poderia ser maior pois de dia em situação de forte luminosidade ela praticamente some.
Agora, para a semana final do C4 Picasso conosco, a previsão é visitar o Alberto Trivellato, na Suspentécnica, para o costumeiro papo sobre as escolhas dos engenheiros e tudo mais, assim como emendar a essa visita o vídeo com o Paulo Keller, que desta vez prometeu me deixar falar quanto eu quiser. A conferir…
CITROËN C4 PICASSO
Dias: 21
Quilometragem total: 1.595,8 km
Distância na cidade: 713,8 km (44.8%)
Distância na estrada: 882,0 km (55.2%)
Tempo ao volante: 57h27min
Velocidade média: 27,8 km/h
Consumo médio: 8,3 km/l
Melhor média: 15,9 km/l
Pior média: 4,7 km/l