A Mercedes-Benz está praticamente acabando de renovar toda a sua linha de produtos. Agora foi a vez do GLK e do ML, respectivamente substituídos pelo GLC e GLE, que se juntam ao hatch anabolizado GLA e ao grandão GLS, a ser lançado ainda este ano. Dessa maneira a nova nomenclatura nos facilita a vida para entender qual o segmento, ou classe, dos suves da marca. O GLA corresponde a classe A, e assim por diante. Não necessariamente os suves usam as plataformas dos sedãs correspondentes. Caso do GLE que deriva do ML e não do Classe E, pois tem uma capacidade maior para o fora-de-estrada, além de ser fabricado nos Estados Unidos.
Agora todos suves Mercedes adotam a nova e agradável identidade da marca, com grade dianteira grande, linhas suaves, porém esportivas, e interior moderno e mais jovial. O GLK teve um desenho controverso. Eu particularmente gostava dos cantos retos e linhas mais quadradas, mas parece que a maioria não gostou. Acho que com o GLC isso acabou de vez, pois o carro ficou muito mais gostável. E também proporcionou um Cx de apenas 0,31, excelente para um suve.
O GLC tem um perfil mas alongado, e parece mais baixo do que os 1.644 mm de altura sugerem, e assim é menos abrutalhado, porém sem perder um aspecto robusto. É competidor do BMW X3 e briga direto com as peruas da série C. Na verdade praticamente aniquila as vendas de peruas. Justamente pela altura e porte, desejo dos consumidores modernos.
No Brasil ele está disponível em duas versões, a GLC 250 4MATIC por R$ 222.900 e a GLC 250 4MATIC Sport por R$ 264.900. Ambas com o 4-cilindros turbo de injeção direta e 211 cv a 5.500 rpm e torque de 35,7 m·kgf desde 1.200 até 4.000 rpm. A caixa é a 9G-TRONIC de fabricação própria e a tração é 4X4 permanente com distribuição frente/traseira de 45%/55%. Com 1.735 kg, pesa 80 kg menos que o GLK graças ao uso de alumínio em partes da carroceria e chassi e caixa de transferência, agora com carcaça em magnésio. Isso com certeza melhorou o desempenho e a agilidade. São 7,3 s de 0-a-100 km/h e 222 km/h de velocidade máxima.
No teste em estrada dirigi a versão Sport que tem rodas 19″ e suspensão esportiva como únicas diferenças mecânicas (tem mais o Kit de aparência AMG e equipamentos adicionais como teto solar e sistema de assistência a estacionamento, entre outros). O motor tem uma resposta muito boa, rápida porém progressiva e até suave. O casamento com a caixa é perfeito, assim como a operação dela. Eu sou fã das caixas de dupla embreagem, mas essas epicicloidais modernas estão chegando a um nível de excelência impressionante. E se elas ainda não igualaram o tempo de troca da de dupla embreagem, ganham em conforto durante as trocas.
As rodas de 19″ mais a suspensão esportiva sugerem até um desempenho ainda melhor. Mas esse 4-cilindros está muito bom. Curioso é que com as rodas 18″ e a suspensão normal o carro deve ser mais confortável e ainda assim permitir uma tocada esportiva. Mas como sabemos, a maioria abre mão do conforto por uma aparência mais oisada.
O GLC tem o Dynamic Select onde pode-se escolher entre cinco modos de condução: Eco, Comfort, Sport, Sport+ e Individual. Esse controle faz aquilo que já conhecemos: ajusta comportamento do motor, pedal do acelerador, pontos de trocas de marchas, peso da direção e ajustes do ar-condicionado de acordo com o modo escolhido. Nota-se bem a diferença entre o modo Eco e o Sport+. Um deixa o carro tranquilo e o outro, bem nervoso.
A caixa de 9 marchas tem a vantagem do consumo (não medido e não informado) pois em 9ª a 120 km/h o motor está a menos de 2.000 rpm. A sexta tem relação 1:1, direta portanto, e todas as próximas relações decrescentes, ou seja, estão lá apenas para melhorar o consumo e o conforto. Uma suavidade só. Mas brincar com 9 marchas nas borboletas já fica mais complicado. Tem muita marcha!
O interior lembra muito o da série C. Impecável. E muito mais jovial que os Mercedes de gerações anteriores feito, assim para afastar o estigma da marca em atender a consumidores mais velhos (ou maduros para ser mais elegante). Aqui há uma outra polêmica que realmente eu não sei como surgiu mas é praticamente uma unanimidade. A tela do sistema de infotenimento é destacada como nos outros Mercedes. Alguém disse que isso parece um iPad. Até aí tudo bem, pois parece mesmo. Mas esse alguém disse que isso é feio ou é um grande problema. Agora em qualquer lugar que apareça uma foto de interior de Mercedes esse é praticamente o único comentário que aparece. Impressionante como o pessoal adora uma crítica.
O mais importante é que a tela é bem posicionada, na mesma altura dos instrumentos do painel, não atrapalha a visão para frente e tem uma ótima resolução. Além do capricho de todo interior. Nessa versão Sport há muitos detalhes imitando aço escovado ou alumínio. O volante tem uma pega muito confortável. E todos os comandos são muito suaves e equilibrados nos esforços de acionamento. Há partes em “black piano” que eu aprendi aqui nos comentários que muita gente reclama que fica muito marcada com o contato das mãos e com poeira. É verdade.
O GLC 250 é uma proposta interessante e deve agradar muito aos consumidores da marca e atrair novos consumidores.
Agora a tacada da Mercedes para trazer mais emoção e consumidores ainda mais jovens (de idade e espírito) é o GLE Coupé. E aqui eu também aproveito para um comentário.
Os sedãs formam o segmento mais vendido no mundo. Até pouco tempo atrás um sedã era a representação de um automóvel. Um classudo E500 podia ser considerado um desejo no imaginários das pessoas. Mas isso mudou para a massa. Hoje a maioria sonha com um suve. A principal razão é a sensação de segurança, seja pela robustez ou pela altura, e também pelo imaginário de aventura (que a grande maioria nunca vai fazer). Aproximadamente 30% dos mais de 1,8 milhões de unidades vendidas pela Mercedes em 2015 foram suves. Daí o investimento nos novos modelos. E com suves partindo de plataformas já desenvolvidas para sedãs, e portanto já amortizadas, acredito que as margens sejam um pouco melhores, pois os suves aceitam preços mais altos, enquanto os sedãs ficam na guerra de preços, salvo algumas exceções.
Nesta semana eu li duas notícias que me levaram a fazer esse comentário. A FCA descontinuando o Chrysler 200 / Dodge Dart e a Hyundai dizendo que vai descontinuar um de seu sedãs, provavelmente o Azera, para liberar mais capacidade produtiva para seus suves. Portanto o mercado está mudando o entendimento sobre o carro e um suve está se tornando o padrão.
Reconheço que os suves tem suas vantagens como a própria sensação de segurança, muitos com tração integral, espaço interno (mesmo que raramente usado), versatilidade e estilo. Como desvantagem o maior peso, e assim o maior consumo, o próprio tamanho e o preço mais elevado. Mas os crossovers, ou CUV, de crossover utility vehicle, os suves mais leves, estão minimizando as desvantagens. Exemplos desses são o próprio GLA e o HR-V da Honda.
E depois que a BMW começou a fazer monstros M com seus X5 e X6, uma nova e contraditória vertente apareceu, a dos suves esportivos, utilitários esporte esportivos…
Bem, tudo isso para explicar o GLE Coupé. Um grandalhão que tem no desenho seu principal atrativo. Ser bacana, diferente, descolado, grande, potente, superior, bonitão, ser “o cara”. Por isso eu escolhi ele para dar uma escapada do test drive e fazer o vídeo.
O GLE Coupê está chegando ao Brasil com os modelos 400 4MATIC por R$ 415.900 e 400 4MATIC Night por R$425.900 (que tem como diferenciador acabamentos externos em preto). Esse coupé chama atenção pelo porte, o que chamamos de size impression, ou impressão de tamanho. São quase 5 metros de comprimento, 4.900 mm e mais de 2 metros de largura incluindo os espelhos, 2.129 mm. Mas a altura é que impressiona mais, 1.731 mm. Daí a contradição, uma vez que coupés são sempre mais baixos.
Mas eu gosto de ver como os fabricantes tratam essas contradições. Sentado ao volante o dono desses GLE devem se sentir no topo do mundo, bem superior, pois o assento é muito alto mesmo. Existe também o GLE SUV, com carroceria suve tradicional, a ser lançado também no Brasil, a diesel. E esse é o que substitui o ML. É importante ressaltar que este modelo substitui o ML porque este foi o segundo suve da Mercedes (o primeiro foi o G, de 1979). E quando foi lançado o primeiro ML em 1997, ainda com chassi e carroceria separados, ele tinha uma incrível capacidade off-road , foi feito para encarar dificuldades. E isso foi herdado, ainda que em algumas versões, e o coloca em um patamar bem diferente do GLC.
Para começar, ele não tem o modo Eco de condução, substituído pelo modo Slippery (escorregadio) que ajusta os parâmetros para evitar o escorregamento em terrenos difíceis. Os outros modos são Comfort, Sport, Sport+ e Individual. A suspensão, pneumática e com regulagem de altura também se ajusta de acordo com o modo desejado. Junte isso com rodas AMG enormes, de 21″, com pneus 315/40 na traseira e 275/45 na frente, mais a tração integral, e eu quero ver alguém conseguir sair dos trilhos. Eu bem que tentei.
O motor é o V-6 3-litros biturbo de injeção direta e 333 cv de 5.250 a 6.000 rpm e torque de 48,9 m·kgf já a 1.600 rpm se mantendo até 4.000 rpm. Suficiente para levar seus 2.180 kg a 247 km/h de velocidade máxima e acelerar de 0 a 100 km/h em apenas 5,9 s. A caixa é exatamente a mesma do GLC, com relação do diferencial apropriada.
No começo, todo esse tamanho e massa me causaram certa desconfiança. Mas depois que aprendi a baixar a suspensão e me acostumei (não muito) com a altura, imprimi um ritmo mais forte numa estrada sinuosa e com piso não muito bom, Logo ganhei confiança e entendi que a Mercedes fez a lição de casa ao anular a contradição. O carro encolhe de tamanho e engole as curvas com facilidade e pouquíssima inclinação. E o mais impressionante é que a suspensão não maltrata os ocupantes, mesmo no modo Sport+. Então seus donos podem se achar além de bonitões, também poderosos. Mesmo que não tenham coragem para usar todo o potencial do GLE. Às vezes apenas saber se se pode fazer algo já nos basta. Eu senti falta de um ronco mais encorpado nesse modo Sport+.
O interior do GLE está bem acima do GLC. É muito mais luxuoso, com um quadro de instrumentos até que simples no conceito, mas que parece um relógio de marca na execução, e revestimento em couro em toda a parte superior do painel. Um ambiente muito prazeroso.
Em ambos os modelos a alavanca de seleção do câmbio é na coluna. Embora tecnicamente não haja problemas, essa posição me lembra carros antigos e sem apelo esportivo. No GLE o modo manual fica no console, longe da alavanca, completamente perdido. Porém o ajuste da caixa é primoroso. Eu achei que pudesse andar no modo Sport+ o tempo todo. Mas esse modo serve apenas se o motorista estiver concentrado em dirigir e quiser de fato extrair mais desempenho do conjunto. caso contrário ele segura demais as marchas e acaba trazendo uma certa tensão. Mas o bom é que no modo Comfort o carro fica suave e bem gostoso para se curtir um passeio com a família. O espaço interno é excelente com três lugares atrás (pelo que me lembro no X6 são 2 apenas) e um porta-malas de 650 litros.
Já que é para ter um suve, que seja um GLE Coupé!
PK
Video GLE Coupê 400 4MATIC Night:
Galeria GLE Coupê 400 4MATIC Night:
FICHA TÉCNICA MERCEDES-BENZ | GLE 400 4-MATIC Coupé | GLC 2504-MATIC Sport |
MOTOR | ||
Instalação | Dianteiro, longitudinal | Dianteiro, longitudinal |
Material do bloco/cabeçote | alumínio / alumínio | alumínio / alumínio |
Configuração / n° de cilindros | Em V / 6 | Em linha / 4 |
Diâmetro x curso | 88 x 82,1 mm | 92 x 103,6 mm |
Cilindrada | 2.996 cm³ | 1.991 cm³ |
Taxa de compressão | 10,5:1 | 9,8:1 |
Potência máxima | 333 cv de 5.250 a 6.000 rpm | 211 cv a 5.500 rpm |
Torque máximo | 48,9 m.kgf de 1.600 a 4.000 rpm | 35,7 m.kgf de 1.200 a 4.000 rpm |
N° de válvulas por cilindro | Quatro | Quatro |
N° de comandos de válvulas | Dois por bancada | Dois |
Combustível | Gasolina | Gasolina |
Formação de mistura | Injeção eletrônica direta | Injeção eletrônica direta |
Aspiração | Forçada por turbocompressor (2) com interresfriador (2) | Forçada por turbocompressor com interresfriador |
TRANSMISSÃO | ||
Câmbio | Daimler-Benz 9G-TRONIC automático epicicloidal | Daimler-Benz 9G-TRONIC automático epicicloidal |
Número de marchas | 9 | 9 |
Relações de transmissão | 1ª 5,50:1; 2ª 3,33:1; 3ª 2,31:1; 4ª 1,66:1; 5ª 1,21:1 6ª 1:1; 7ª 0,86:1; 8ª 0,72:1; 9ª 0,60:1; Ré 4,93:1 | 1ª 5,50:1; 2ª 3,33:1 3ª 2,31:1; 4ª 1,66:1:1; 5ª 1,21:1; 6ª 1:1; 7ª 0,86:1; 8ª 0,72:1; 9ª 0,60:1; Ré 4,93:1 |
Relação dos diferenciais | 3,69:1 | 3,27:1 |
Tração / câmbio | 4-MATIC 4×4 permanente | 4-MATIC 4×4 permanente |
SUSPENSÃO | ||
Dianteira | Independente, triângulos superpostos, mola pneumática, altura ajustável | Independente, multibraço, mola helicoidal amortecedor pressurizado, ajuste esportivo |
Traseira | Independente, multibraço,mola pneumática,altura ajustável | Independente, multibraço, mola helicoidal amortecedor pressurizado, ajuste esportivo |
DIREÇÃO | ||
Tipo | Pinhãi e cremalheira, assistência elétrica | Pinhãi e cremalheira, assistência elétrica |
Diâmetro mín. de curva | 11,8 m | 11,8 m |
Relação de direção | n.d, | n.d, |
N° de voltas entre batentes | n.d. | n.d. |
FREIOS | ||
Dianteiros | Discos ventilados | Discos ventilados |
Traseiros | Discos ventilados | Discos ventilados |
RODAS E PNEUS | ||
Rodas | Alumínio | Alumínio |
Pneus | diant. 275/45R21 tras.315/40 R21 |
235/55 R19 |
PESOS | ||
Em ordem de marcha | 2.180 kg | 1735 kg |
CONSTRUÇÃO | ||
Tipo | Monobloco, 4 portas, 5 lugares | Monobloco, 4 portas, 5 lugares |
DIMENSÕES EXTERNAS | ||
Comprimento | 4.900 mm | 4.656 mm |
Largura | 2.129 mm | 1.890 mm |
Altura | 1.731 mm | 1.644 mm |
Distância entre eixos | 2.915 mm | 2.873 mm |
CAPACIDADES | ||
Porta-malas | 650 – 1.720 litros | 650 – 1.600 litros |
Tanque de combustível | 93 litros | 66 litros |
DESEMPENHO | ||
Aceleração 0-100 km/h | 5,9 s | 7,3 s |
Velocidade máxima | 247 km/h | 222 km/l |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL | ||
Cidade | n.d | n.d |
Estrada | n.d | n.d |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | ||
v/1000 em 9ª | 64,7 km/h | 69,2 km/h |
Rotação em 9ª a 120 km/h | 1.850 rpm | 1.750 rpm |
Rotação em vel. máx. | 5.470 rpm (7ª) | 5.400 rpm (6ª) |