Peruas, ou station wagons, são vistas pela cultura geral como um “carro de mãe”, para ir ao supermercado, ao shopping e outros lugares do cotidiano que podem ser bem chatos. Viagens em família também são uma ligação imediata quando se fala sobre peruas. Dificilmente se imagina um carro assim como algo que desperte vontade de dirigir. Mas sabemos também que há peruas que não são prejudicadas por terem massa extra na parte traseira em relação aos carros de que derivam, sem balanços desconcertantes ou excesso de peso digno de nota.
O Subaru Outback é um exemplo perfeito desse carro moderno, bem-feito e muito útil, que transforma qualquer pequena atividade em uma corridinha empolgante para quem gosta de carros grandes que se comportam como se fossem menores. A versão vendida aqui é única, de topo, Limited, de seis cilindros e 3,6 litros, sem haver emblema que o denuncie. Só descobri vasculhando o site da Subaru nos Estados Unidos. Lá existe também a versão de quatro cilindros e 2,5 litros e são três os níveis de acabamento, sendo que a única seis-cilindros é a Limited que é importada para o Brasil.
O nome Outback se refere ao interior desértico australiano, de terra vermelha e de área gigantesca, e Subarus sempre tiveram um bom mercado na Austrália, seja por estarem relativamente perto do Japão, terra natal da marca, seja pelo volante de direção no lado direito, como naquele país. Mas do que se tem certeza prática é a confiabilidade que um carro precisa para circular pelo Outback, que tem altas temperaturas como de desertos de outros tipos, e poucas estradas asfaltadas. Capacidade de andar bem fora do asfalto é mandatório por lá, e isso essa perua faz com tranqulidade.
E que carro, leitor!
O motor é o maior que a Subaru fabrica atualmente. Designação EZ36D, é um boxer de seis cilindros, bloco e cabeçotes de liga de alumínio, 3.630 cm³, diâmetro 92 mm e curso 91 mm, taxa de compressão de 10,5:1, quatro comandos de válvulas acionados por corrente, quatro válvulas por cilindro, variador de fase na admissão e escapamento, alimentação por injeção no duto, resultando em 260 cv a 6.000 rpm e 35,7 m·kgf a 4.400 rpm, mas com 31 m·kgf entre 2.000 e 6.000 rpm. Esse motor vai apenas no Legacy e na Outback. Na ficha técnica divulgada pelo importador é indicado 256 cv, mas essa é a potência em hp. No nosso sistema, em cavalos-vapor, são 260 cv mesmo.
O câmbio é CVT (relações continuamente variáveis) com seis pontos de parada das polias para simular marchas, sendo a “sexta” bem longa. Pode-se deixar no modo manual e trocar de marcha nas aletas no volante, subindo-as na da direita, reduzindo-asna da esquerda, o padrão mundial. As aletas são solidárias ao volante. Uma perfeita explicação sobre essa caixa está em palavras e vídeo na avaliação do Forester, há pouco mais de um ano.
Se a alavanca for deixada em D, a relação varia de 3,105:1 a 0,482:1, uma faixa de 6,442:1, bem ampla, permitindo rotação confortável em velocidade de estrada. De forma alguma tem algo que desagrade, ao contrário do que a maioria dos críticos diz quando se fala em um câmbio de variação contínua sem os degraus das marchas. O carro empolga, e não só a mim, já que o Paulo Keller o dirigiu bastante no dia da gravação do vídeo e ficou satisfeito com o que sentiu.
Há três modos de condução, que escolhem mapas de trabalho de motor e transmissão, o Intelligent, o Sharp e o Sport Sharp (nada a ver com o editor-chefe do AE, é adjetivo que significa ‘acentuado’, ‘realçado’ nesse contexto), como explicado no Forester, mas aqui no Outback não existe a simulação de até 8 marchas no modo Sport Sharp, ficando nas 6 nos dois modos — o que não é problema algum, já que não existe falta de força nem buracos em acelerações. No Intelligent, a economia é priorizada, e funciona como um CVT padrão, sem degraus, e é bem confortável e agradável para todo o tempo.
Para a força do motor chegar ao solo de forma civilizada, o Outback tem vetoração de torque ativo, uma melhoria além do VDC, vehicle dynamic control, que é o mesmo que um controle de estabilidade. Ele aplica freio na roda do lado de dentro da curva quando se abusa da velocidade. Isso mantém o carro na trajetória escolhida pelas rodas, e percebi o funcionamento em diversas vezes, forçando o carro em curvas de baixa velocidade com chuva, em algumas esquinas. Quando havia a possibilidade de uma derrapagem, o sistema era acionado automaticamente, a luz de controle de estabilidade piscava no painel, e o carro permanecia na trajetória.
Mas Subaru é sinônimo de tração e estabilidade, e o sistema simétrico trabalha dividindo torque da frente para traseira através de diferencial central que é uma embreagem de transferência, continuamente baseado em aceleração, ângulo de volante e sensores que medem a guinada (yaw) ou seja, a rotação no eixo vertical, para evitar rodas patinando e desequilíbrios.
O X-Mode otimiza a potência que sai do motor e a posição das polias do câmbio, melhorando o engate da tração nas quatro rodas e a aplicação do VDC. Esse modo tem o assistente de partida em rampas e o controle de descida, que atuam assim que se aciona o sistema. O assistente de rampas, acionado por tecla no console, funciona em subidas e descidas, com o carro não se movendo quando se tira o pé do freio, assim permanecendo por 2 a 3 segundos, sempre útil em manobras com pouco espaço. Os 213 mm de altura livre do solo brindam o motorista com a tranquilidade em pisos ruins e nas malditas valetas e lombadas. A Outback pode ser considerada um misto de utilitário todo-terreno com carro de rali.
Com essa altura de rodagem e os ângulos de entrada 18,6º e de saída 23,1°, não consegui raspar a parte inferior em nenhum lugar. Para proteger caso ocorra contato, há placas de proteção de plástico no assoalho se sobrepondo ao metal da carroceria. Não cobrem toda a parte inferior, já que colocar peças plásticas muito próximo do escapamento não seria apropriado. Molduras laterais com desenho inteligente para segurar o barro a baixa altura, como já se tornou prática de projeto em muitos modelos, e sempre bem-vindas para manter as boas aparências mesmo quando se chafurda por aí no barro.
A direção de pinhão e cremalheira conta com assistência elétrica e tem relação baixa, 14,1:1, bem rápida. São 2,82 voltas entre batentes e diâmetro de giro de 11 metros entre guias, manobrando facilmentel em espaços apertados. A sensação que passa para as mãos é muito boa, sendo possível saber para onde estão apontadas as rodas.
Para a frenagem, quando se aplica muita força como em sustos e semissustos de um trânsito cada vez mais caótico, a assistência à frenagem amplia a força ao máximo para total atuação do ABS e parada no menor espaço possível. Os discos de freio, ventilados, são de 316 mm de diâmetro na frente, com pinças de dois pistões, e 300 mm atrás, com pinças normais de um pistão.
Na frente uma McPherson muito eficiente, com braço inferior em L, dupla articulação no subchassi, barra estabilizadora e muito conforto e estabilidade. A traseira é por triângulos superpostos, também com barra estabilizadora. Molas helicoidais e amortecedores pressurizados são um padrão que nem precisa mais ser comentado.
O isolamento do subchassi com a carroceria é muito bem-feito, e foram melhorados nesse modelo que foi lançado em 2014. A vibração sentida dentro do carro é mínima, mesmo em pisos ásperos, e ruído de rodagem de pneus é tão baixo que nunca chega a incomodar. Perfeito para viagens longas rodando sobre asfalto muitas vezes áspero.
O impressionante também é o acerto do conjunto de motor, tração, transmissão, direção freios e suspensão. Não dá para criticar o funcionamento de nada disso. Os pisos “podres” são tirados de letra, sem sofrimento do carro nem dos ocupantes. Ajudam nisso, claro, os pneus 225/60R18, que poderiam até ser de perfil mais alto. Que evolução, se lembrarmos de carros de apenas uma década atrás. A Outback é de impressionar a fundo quem gosta de dirigir.
A estabilidade não condiz com a altura livre do solo. Nos primeiros minutos toma-se mais cuidado do que o necessário, e o limite vai sendo aprendido e percebido como sendo muito alto. Parece um carro muito mais baixo. Impressionante e digno de nota.
Quando estava escrevendo a matéria, a revista americana Road & Track publicou uma de suas interessantes listas no site, dessa vez com carros que não parecem, mas que são entusiásticos, e a Outback está nela. E tudo isso num carro grande e nada leve: são 1.675 kg em ordem de marcha. Com motorista vai se a pelo menos 1.750 kg, passando fácil dos 1.850 kg com mais um adulto a bordo e alguma bagagem. E nada de sustos, só tranquilidade. Para aliviar um pouco o peso, o capô do motor é de alumínio.
Mas há alguns detalhes que são peso extra. Vi dois suportes, um do filtro de ar e outro de um módulo eletrônico, que poderiam ser mais leves, ou não existir, outra solução podendo ser encontrada sem muito esforço. Claro, é pouca coisa em um carro deste porte, mas dá para perceber que é possível reduzir massas de componentes se formos analisar a fundo.
Nas dimensões externas, 4.817 mm de comprimento e 2.065 mm de largura nos espelhos deixam claro que não cabe em qualquer lugar, e isso ajuda por dentro, onde não ocorrem apertos. Espaço perfeito para cinco pessoas em todos os sentidos, vertical, para as pernas e ombros, com o grande entre-eixos de 2.745 mm e bagagem bem acomodada em 560 litros ou 1.005 litros até o teto, até um total 1.801 litros com o banco traseiro baixado (até o teto também).
Para bascular os encostos, há gatilhos ou maçanetas nas laterais do porta-malas, evitando que se tenha que dobrar o corpo ou raspar as pernas no para-choque traseiro, item muito prático quando se observa o tamanho do porta-malas.
A cobertura enrolável tem lugar para ser guardada sob o tampão do piso do porta-malas, junto do estepe — perfeito, já que não se precisa deixá-la em casa caso seja necessário removê-la.
A porta de carga pode ter a altura aberta limitada para evitar que bata em tetos baixos de garagens, comandado por tecla no painel.
O conforto é complementado pela segurança de faróis excelentes. Os baixos são de xenônio, e emitem uma luz muito branca e definida, ajudando muito o trabalho do motorista à noite. Há definição entre área iluminada e escura, bem notável, e devido à passagem da luz branca pela lente, um arco-íris de forma nessa transição, fácil de ver no carro que vai à frente, principalmente quando esse é de cor clara. Bom para distrair crianças pequenas.
Há algumas luzes de LED que ajudam a praticidade. Uma delas no teto, iluminando o console, e outra no porta-objetos à frente da alavanca de câmbio. Ambas são azuis, bem como a iluminação nos puxadores das portas. A chave tem a função de abertura por proximidade, muito prático na chuva, por exemplo, já que a porta destrava sem precisar pegar a chave no bolso.
Há também o aviso de ponto cego, com luz nos espelhos e aviso sonoro. Como já disse certa vez, o aviso visual deveria ser no centro dos instrumentos, ou mais eficiente ainda, separado, em cima do painel, em um casulo exclusivo. Não há como olhar o aviso de luz no espelho direito com a rapidez necessária em uma situação de emergência. Deixei ele desligado a maior parte do tempo, já que a todo momento alguma moto o acionava, algo que incomoda.
Para quem gosta de escutar rádio ou seus CDs, há entrada para esses no sistema de som Harman Kardon de 575 watts de potência, que tem 12 altofalantes e uma qualidade impressionante em qualquer volume, desde o nível “civilizado” até o “trio elétrico”, passando pelo “só quero ouvir música” e pelo “ainda não sou surdo mas chego lá”.
Vamos aos consumos observados com o computador de bordo, sempre médio, zerando nas trocas de tipo de trajeto e os percorrendo pelo menos por uns 20 quilômetros para um cálculo mais confiável:
– Urbano pesado, para-anda constante, quarteirões curtos e semáforos a todo instante: 6,0 km/l
– Avenidas limitadas a ridículos 50 km/h, com frequentes diminuições devido a motoristas que conseguem andar mais lentos que isso, e semáforos: 8,8 km/l
– Avenidas marginais de São Paulo, 70 km/h de limite, e também tendo que diminuir frequentemente: 12,5 km/l
– Estrada com muitas subidas e descidas de pista simples e limite de 90 km/h: 10 km/l
– Autoestrada com limite de 120 km/h, algumas esticadas até 130 km/h: 14 km/l
Como se nota, o motor é bastante eficiente, consumindo pouco pelo porte do carro. O Outback prova que o CVT ajuda o consumo de forma muito positiva.
Interior
No interior, os Subarus passaram por uma evolução de qualidade de acabamento em todos os sentidos, nos últimos anos. Na Outback esse padrão é o mais elevado entre os modelos à venda. Os materiais são muito bons, tanto aos olhos quanto ao tato, não se registrando desequilíbrios visuais e táteis entre os componentes e seus detalhes. Tudo é bem combinado. Os cantos das peças são muito precisos e bem encaixados, sem irregularidades. Há cores e texturas ótimas em tudo que está ao redor dos ocupantes.
No painel, os instrumentos têm possibilidade de troca de cor dos aros de velocímetro e conta-giros, num total de 11 opções. Fotografei todas, e há dois azuis que são muito próximos, mas é um recurso divertido e válido de qualquer forma.
A tela central de multimídia também pode ter mudança de cores de fundo, para agradar a todos. Pode parecer um excesso, mas isso trás ao carro a característica de poder se renovar um pouco, deixando o dono mais satisfeito com o tempo, e é uma ótima brincadeira para quem gosta de recursos eletrônicos. Os fãs de luminotécnica se deleitam…
O que não combina com o carro de forma alguma é levantar a placa do porta-malas e ver um triângulo de segurança dentro de um saco plástico transparente, liso e escorregadio. Uma simples bolsa de carpete já resolveria o problema e tudo ficaria de acordo com o capricho evidente em todos os detalhes da Outback. Outros carros mais baratos tem esse tipo de bolsa, e tenho certeza de que o importador irá reconsiderar.
Há sete airbags: dois frontais, dois laterais, dois duplos de cortina e um de joelho para o motorista. Toda estrutura é bem-projetada e muito resistente a torções, nenhum ruído foi percebido proveniente de portas ou porta de carga em nenhum momento, seja em ruas ou andando na terra e brincando de torcer o carro. Nas fotos onde o coloquei em montes de terra as portas abriam e fechavam da mesma forma que no plano.
Se você tem os R$ 169.900 pedidos, estará muito bem servido com esse carro. Sua versatilidade é fascinante, e o prazer ao dirigir é de automóvel, melhor do que o comportamento padrão dos suves. Se o estilo não lhe agrada, pouco posso dizer, mas pense que é um carro discreto como está, algo importante como fator de segurança contra agentes externos mal-intencionados.
Um tremendo carro. Devolvê-lo foi bastante chato.
JJ
FICHA TÉCNICA SUBARU IMPREZA OUTBACK 2016 | |
MOTOR | |
Tipo | EZ36D, boxer, gasolina |
Instalação | Dianteiro, longitudinal |
Material do bloco/cabeçote | alumínio/alumínio |
N° de cilindros/configuração | 6/contrapostos 3 a 3 |
Diâmetro x curso | 92 x 91 mm |
Cilindrada | 3.630 cm³ |
Aspiração | Natural |
Taxa de compressão | 10,5:1 |
Potência máxima | 260 cv a 6.000 rpm |
Torque máximo | 35,7 m·kgf a 4.400 rpm |
N° de válvulas por cilindro | 4 |
N° de comando de válvulas/localização | 4, sendo 2 por bancada /cabeçote/ acionamento por corrente |
Formação de mistura | Injeção no duto |
TRANSMISSÃO | |
Rodas motrizes | Tração integral com distribuição de torque variável |
Câmbio | Automático CVT com simulação de marchas (6) Divisão ativa de torque com embreagem hidráulica central, distribuindo torque entre dianteira e traseira baseado em aceleração, ângulo de direção e ângulo de guinada. |
Relações das marchas | Modo automático De 3,105:1 a 0,482:1; faixa 6,442:1; Modos manual Intelligent, Sport e Sport Sharp 1ª 3,105:1; 2ª 1,983:1; 3ª 1,454:1; 4ª 1,057:1; 5ª 0,779:1; 6ª 0,542:1 Ré 3,018:1 |
Relação de diferencial | 4,111:1 |
FREIOS | |
De serviço | ABS, distribuição eletrônica das forças de frenagem, assistência à frenagem |
Dianteiro | A disco ventilado de Ø 316 mm |
Traseiro | A disco ventilado de Ø 300 mm |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, McPherson, braço inferior em L, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora, com subchassi |
Traseira | Independente. triângulos superpostos, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora, com subchassi |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira com assistência elétrica, relação 14,1:1. 2,82 voltas entre batentes. |
Diâmetro mínimo de curva | 11 m |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Alumínio 7Jx18 |
Pneus | 225/60R18 |
PESOS | |
Em ordem de marcha | 1.675 kg |
CARROCERIA | |
Tipo | Monobloco em aço, 4 portas,5 lugares |
DIMENSÕES EXTERNAS | |
Comprimento | 4.817 mm |
Largura sem /com espelhos | 1.840 mm /2.065 mm |
Altura | 1.673 mm |
Distância entre eixos | 2.745 mm |
Bitola dianteira/traseira | 1.570/1.580 mm |
Altura do solo | 213 mm |
AERODINÂMICA | |
Coeficiente de arrasto (Cx) | 0,34 |
Área frontal calculada | 2,46 m² |
Área frontal corrigida | 0,83 m² |
CAPACIDADES | |
Porta-malas | 560 litros (1.080 litros até o teto) |
Tanque de combustível | 60 litros |
DESEMPENHO | |
Velocidade máxima | 235 km/h |
Aceleração 0-100 km/h | 7,6 s |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL OBSERVADO | |
Cidade (pior média) | 6,0 km/l |
Estrada (melhor média) | 14,0 km/l |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 na última marcha | 63,5 |
Rotação do motor a 120 km/h em 6ª | 1.888 rpm |
Rotação do motor à vel. máxima em D | 3.700 rpm |
PREÇO | R$ 169.900 |