A despeito das vendas no último mês de março haverem mostrado uma reação sobre fevereiro, em que foram 22% superiores, esses números confundem, pois tivemos quatro dias úteis a mais, 22 contra 18, por conta do Carnaval. Foram vendidos 179.219 veículos, sendo 173.389 automóveis e comerciais leves, 4.843 caminhões e 987 ônibus.
Quando observamos os emplacamentos diários de automóveis e comerciais leves, em março tivemos 7.881 e em fevereiro, 7.903, ou seja, os fluxos de compradores às concessionárias e de negócios realizados foram praticamente os mesmos.
Olhar para frente preocupa. Em um pronunciamento do presidente da Anfavea, Luiz Moan Yabiku Jr., em importante seminário do setor 21 de março último, ele admitiu que os números deste mês estavam abaixo das expectativas. Tradicionalmente contido em suas palavras por obrigação do ofício, talvez ele tenha sido contido pouco além da conta. Nos últimos 12 meses, emplacaram-se 2,3 milhões de veículos leves, que é o total projetado pela entidade para este ano. No entanto, a média diária de vendas do primeiro trimestre de 16 tem sido inferior a 7.800 leves, enquanto a média dos nove últimos meses de 2015 foi próxima de 9.900. Isso significa que, a partir de 1º de abril, teríamos de voltar ao volume de vendas diário de 9.900 unidades e nessa média permanecer até 31 de dezembro para atingir os 2,3 milhões que se projetavam para 2016. Não atingiremos. Não há nenhum sinal que isso vá acontecer e não se trata somente de uma meta não atingida. Pronto, refaçam as suas contas, seus planos, informem as suas matrizes que este será mais um ano de perdas.
Há cerca de 40 mil trabalhadores em lay-off temporário ou no PPE (Plano de Proteção ao Emprego) aguardando o mercado voltar e como há indicadores mais que suficientes que este não deve voltar no curto prazo, a ameaça de engrossar as fileiras do desemprego nunca esteve tão iminente. Se considerarmos que a relação trabalhadores autopeças/fabricante é de cerca 1,5 vezes, estamos falando de cerca de 100.000 empregos a serem extintos em 2016. Noutros tempos, os executivos dos fabricantes já haveriam sentado com representantes do governo por seguidas vezes e tentado novas soluções até consegui-las, que sabemos quais são. Mas como faz cinco meses que o poder executivo nacional tem a sua agenda tomada exclusivamente por ações contra o impeachment, o ex-executivo da Anfavea Mauro Marcondes preso por suspeita de envolvimento em vendas de MPs, assim como a sua sócia e esposa, essa agenda que seria premente não está ocorrendo. É como se todos estivessem sentados esperando as mudanças que se prenuncia devem ocorrer nas próximas semanas. Ou não.
Da quase prisão do ex-presidente ao quase impeachment
A nação vem assistindo a um agravamento da crise político-institucional ao longo dos últimos cinco meses, que traz consigo uma piora gradual e constante na economia e em todos seus indicadores, a cada mês têm sido fechados cerca de cem mil postos de trabalho no país.
No início de março nosso ex-presidente teve sua prisão solicitada por um promotor da justiça estadual com a acusação de ocultar ilicitamente propriedade num condomínio no litoral paulista, que por sua vez estava relacionada às fraudes do Bancoop, caso este que foi remetido à esfera federal devido à outras investigações em curso contra o mesmo ex-presidente na vara de Curitiba. Dias depois, nossa presidente toma um avião rumo a São Paulo para prestar-lhe solidariedade (sic) e na semana seguinte prepara a sua posse para um ministério, numa flagrante tentativa de livrá-lo da vara da justiça federal de Curitiba e conferir-lhe status de foro privilegiado, quando somente poderia seguir sendo investigado pelo STF. Essa posse está suspensa ou em vias de ser definitivamente cancelada pelo mesmo STF em mais alguns dias.
Aqueles que esperavam um mandatário da república governando para seu país, não escondem o choque e frustração ao vê-la lançando acusações e impropérios à oposição e aos que delatam na justiças os crimes vários, atribuídos a ela e à sua tigrada, em discursos proferidos de palanques montados dentro do Palácio do Planalto de improviso, com torcida seletiva e organizada na plateia. Essa mesma torcida faz também ameaças à sociedade e tudo fica por isso mesmo.
O ineditismo dessas ações só faz confirmar o pouco respeito às leis e regras que a presidente tem por elas na desesperada tática do vale-tudo.
Vemos estarrecidos um debate político que não só confirma temos um nível baixíssimo de educação entre políticos (como confirmam as ligações telefônicas grampeadas com autorização da justiça), como também que a doutora demonstrara reiteradamente não ter intenção nenhuma por dar rumos positivos ao país para sairmos do caos e paralisação econômica em que nos encontramos e sim por somente se apegar ao poder. Se de boas intenções o inferno já estava cheio, este que se prepare para receber uma leva de outras de péssimas atitudes e intenções.
O mercado parou a espera de uma mudança no governo, cujas chances variam ao sabor de chicanas jurídicas pretendidas pela AGU (Advocacia-Geral da União) e de ofertas de verbas públicas e de cargos nos ministérios do primeiro ao último escalão. Como nada está tão ruim que não possa piorar, nestes dias ouvimos a Petrobrás pretende derrubar o preço da gasolina. Detalhe, bem na semana da votação do impeachment. Que país é este?
Somente uma mudança de governo, leia-se impedimento da atual mandatária da nação, seria capaz de reverter as coisas para melhor. Todo o empresariado e a sociedade que consome automóveis sabem disso. Mesmo assim, o retorno do otimismo e dos níveis de confiança a patamares aceitáveis teria vida curta se o novo governo que eventualmente assumisse não implementar medidas emergenciais e impopulares. Estas que deveriam estar a cargo e em plena execução pelo governo atual, como retomar o hoje abandonado controle fiscal, mas que, por sua ânsia de se segurar o poder, abandonou todas e o país à própria sorte e manteve na agenda somente ações para barrar o impeachment. Se a ideologia da doutora e trupe os levou a desacreditar em Deus, certamente há entre eles quem esteja clamando por nosso Senhor neste momento. Para os demais, Deus está entre eles e louco para assumir um ministério.
Acomodações no ranking dos mais vendidos
Onix segue consolidando a sua liderança, seguido do HB20 e do Ford Ka. Em 4º lugar surpreende o HR-V, que não tomou conhecimento de seu rival direto e emplacou quase 1.800 unidades a mais que o Renegade em março. Primeiro trimestre de 16 no bolso, mas quem merece explicação, ou melhor reação, é a queda de licenciamentos do Jeep compacto, logo ele que tem a mais que o Honda a motorização diesel e tração 4×4 no leque de opções e o ultrapassara em vendas no fim do ano passado. Do forte embalo de então percebemos vem perdendo terreno para o HR-V desde janeiro, mas essa ótica não diz toda a verdade. O mercado ganhou mais um concorrente, que pertence a outra lista, a dos comerciais leves. O Fiat Toro tem quase tudo do Jeep, exceto o IPI que é menor, 10% contra 25%, o que lhe permite oferecer as opções a diesel mais em conta, bem mais se levarmos em consideração que o Renegade diesel só pode ser 4×4 enquanto a Toro a diesel pode ser 4×2, desde que acompanhada de uma suspensão traseira mais dura para suportar a obrigatoriedade da 1 tonelada de capacidade de carga.
Assim, não seria um exagero concluir que o Renegade pode também estar perdendo compradores para seu primo irmão Toro, ambos da FCA, ambos com muitos itens comuns e propostas distintas, mas entrega similar. Uma análise lógica parecida poderia ser atribuída à dupla Renault Duster, o suve e a Oroch. Acredito há compradores que entraram na concessionária Renault dispostos a levar um e saíram com o outro. Melhor para a marca. São as novidades causando uma reacomodação dos competidores, num mercado fortemente retraído como um todo, porém aquecido para os veículos da faixa de preços superior a 80 mil reais. Completamente atípico entre os cinco mais vendidos haver dois modelos de mais de 80 mil reais tomando a frente de outros que custam pouco mais que a metade, exceto no Brasil da Dilma, cuja política econômica desastrosa vem sacrificando em maior escala os consumidores de carros de entrada. Fiat Palio em 9º lugar, Uno em 12º, up! em 14º configuram a distorção. Para o leitor que não viveu a era Sarney, 30 anos atrás, o Chevrolet Monza, que em termos de classe social de consumidor se assemelha aos compradores do Honda HR-V de hoje, foi o queridinho da classe média-alta da época e líder absoluto de mercado por três anos seguidos (1984/5/6). O HR-V, Corolla e Renegade+Toro, Hilux, figurarem no topo das vendas podem estar nos dizendo vivemos um déjà vu social oriundo de um caos político.
Gol pulou três posições e volta a se posicionar entre os compactos mais vendidos, a remodelação lhe fez bem e a seus clientes também, o AE falou dele aqui. A renovação de cabines com novas centrais multimídia que oferecem espelhamento de smartphones parece vem dando o tom ao mercado. Se pessoalmente estou entre aqueles que priorizam na escolha por um carro novo o conjunto mecânico e sua entrega em termos de desempenho, equilíbrio e consumo de combustível, sou obrigado a me render à preferência do consumidor por interatividade e entretenimento. Reconheço também os modelos que disputam o comprador situam-se algo próximos nos aspectos dinâmicos, o diferencial de hoje está no ‘mirror-lynk’ com iPhone ou Samsung, se eles permitem o uso do Waze, do Facebook, WhatsApp na tela de 5, 6, 7 ou mais polegadas situada bem no meio do painel… Em outros tempos isso seria impensável. Cabe ressaltar, não é exclusividade destas terras.
Apenas para efeitos de comparação, se apanharmos a lista dos mais vendidos no continente europeu no ranking do último mês de fevereiro, o VW Golf lidera por décadas a fio, mas em seguida vem sete veículos compactos, do segmento B deles, que tem Ford Fiesta, Peugeot 208, Citroën C3 bem semelhantes aos produzidos e vendidos aqui, que por sua vez, em termos de classe social de compradores estaria equivalente aos nossos consumidores de Onix/Gol/Palio/HB20/Ka. O Peugeot 308 francês, competidor direto o Golf, aparece em 9º do ranking europeu, o Passat, um segmento acima (segmento D), em 12º e o Audi A3, primeiro premium da lista, em 15º.
Voltando ao Brasil, Ford EcoSport se recuperou um pouco, com 2.327 unidades e à frente do seu competidor direto Renault Duster, 2.187, em 23º posto. O face-lift fez bem também ao Chevrolet Cobalt, que emplacou 2.488 unidades, numa bela reação.
Nos comerciais leves, já citado o novíssimo Toro, 3ª picape mais vendida, com 3.080 unidades em seu primeiro mês de vendas cheio, o Duster Oroch se estabilizou em 7º, com 1.222 unidades e potencial para bem mais que isso. A Renault ainda é novata no segmento de picapes, Toro já teve seu terreno parcialmente preparado pela Strada, líder da categoria há bons anos.
No ranking por marcas, Fiat enfrentando dificuldades inéditas, em 4º lugar dentre os automóveis e na vice-liderança na soma destes com comerciais leves, posições incomuns a uma marca que liderou nosso mercado nos últimos doze anos. O iminente lançamento do Fiat Mobi, substituto do Palio de entrada e Uno Vivace deve mudar o panorama.
Tempos de mudança.
Até o mês que vem.
MAS