Um novo carro entra na nossa série de teste de trinta dias, o Toyota Etios Sedã Platinum, versão mais equipada do modelo fabricado em Sorocaba (SP), e que no “Monte o seu” do site da Toyota tem preço anunciado de R$ 57.050, R$ 2.200 a mais que a versão XLS por ter um sistema multimídia com tela tátil que traz TV, navegador, câmera de ré, DVD player e rádio AM-FM.
A “distância” desta versão topo de linha para o mais essencial carro desta família de Toyota, o Etios Sedã X, é de R$ 9.920,00, todavia em termos de mecânica, nada de diferenças, pois ambos, seja o equipadão quanto o peladão, trazem o mesmo motor 1,5-litro flex, razoavelmente moderno, dotado de duplo comando acionado por corrente e 16 válvulas para o qual a Toyota declara 96,5 cv a 5.600 rpm com álcool e 92 cv, à mesma rotação, com gasolina. O torque máximo é de 13,9 m·kgf a 3.100 rpm, com qualquer combustível. É o único motor disponível para o Etios Sedã, enquanto o Hatch pode ter este e o 1,3-L.
A chegada deste Toyota para esta avaliação justamente na sequência do Nissan Versa não foi premeditada mas certamente será benéfica, pois permitirá uma visão comparativa de dois modelos que brigam em um mesmo segmento de nosso mercado, e cuja semelhança vai além do mero posicionamento e preço.
Aliás, uma consideração que fiz no encerramento do 30-dias com o Versa pode ser perfeitamente aplicada a este Etios Platinum, e diz respeito exatamente ao preço. No meu modo de entender, o Etios certo a ser levado para casa não é esse travestido de sedã de luxo, com tanto de banco de couro e mimos eletrônicos presentes via central multimídia, mas sim o “X”, custa dez mil a menos, mas que em termos de motorização e características gerais em nada se diferencia deste com o qual nesta semana inicial rodamos perto de 300 km.
Ponto de maior atenção nestes primeiros quilômetros? A elasticidade do motor. É tanta que chega a exigir um ajuste de hábito, pois quase sempre é possível rodar com uma marcha acima do que seria a natural para determinada condição de velocidade. Mesmo com giros próximos do mínimo, 1.000 rpm ou pouco mais que isso, afundar o pé garante resposta. É tão elástico que incita a provocações como, por exemplo, encarar ladeirões e apostar quando (e se) o motor vai “pedir penico”, ou seja, uma redução de marcha.
À elasticidade do 1,5-L soma-se, e colabora, o peso contido, uma surpresa: apenas 985 kg nesta versão de topo.
Outro bom aspecto do Etios é o câmbio. Não o escalonamento, julgamento que prefiro guardar para mais adiante, depois de um uso mais extenso e com esticadas rodoviárias, mas sim quanto à facilidade de troca de marcha e o tato da alavanca, em nível ótimo. E tal consideração merecem também os comandos de acelerador, freio e embreagem assim como a direção, com assistência elétrica, que ao menos em uso quase que 100% urbano sem mostrou adequada e agradável. Menos agradável é, porém, o revestimento do volante e da alavanca de câmbio: ao tato parece plástico, mas trata-se de couro. Duro demais, porém, o que contribui apenas para a aparência.
Neste quesito — aparência — o Etios sedã se alinha com o Nissan Versa, pois ambos em minha opinião (e na de muitos…) não nasceram de pranchetas em dia inspirado. Os volumes externos entregam que o projeto vem de um hatch que ganhou traseira mas talvez o que há de menos feliz no Etios não sejam as linhas de sua carroceria, mas sim que se vê quando sentado ao volante.
Não sou xiita, e com isso quero dizer que quadro de instrumentos deslocado para o centro do painel é algo que pode ser até interessante desde que haja um motivo, como, por exemplo, nos Citroën C4 Picasso. Optando por tal arranjo houve como dar espaço a práticos porta-objetos. No Etios esse quadro está no centro do painel, mas a área diante dos olhos do motorista não foi aproveitada para nada, e tampouco a do passageiro, que, aliás, tem um porta-luvas com uma tampa volumosa cuja abertura não tem exatamente o que chamo de boa solução. Idem o posicionamento das saídas do ar no painel. Duas estão onde deveriam estar, nas extremidades, e duas estão deslocadas à direita, uma sobre a outra, perto do porta-luvas. É estranho.
E estranho também é o contraste da fornida central multimídia — tem até TV! — com a total ausência de computador de bordo. Na mínima tela dedicada ao hodômetro total e dois parciais há apenas o marcador de combustível e relógio. Quanto ao painel, velocímetro e conta-giros são unanimemente considerados como dos menos felizes da indústria automobilística, tanto quanto à legibilidade (sofrível) quanto ao design, que para mim lembra o visual de máquinas de flipperama de três décadas ou mais para trás.
Se forma e função não parecem premiar positivamente o painel do Etios, menos mal vai a ergonomia. Bancos com revestimento misto — couro natural/couro sintético — apoiam razoavelmente o corpo. No do motorista há ajuste de altura e de inclinação do encosto bem fáceis de operar. A coluna de direção oferece ajuste em altura e a posição de dirigir ideal é encontrada rapidamente, com acesso aos controles ocorrendo de maneira natural.
Sem enfrentar grandes congestionamentos a primeira semana do Etios revelou um consumo adequado, 8,5 km/l. A inexistência de computador de bordo vai fazer com que seja necessário usar a informação “na unha”, capturada na bomba. Para minimizar erros, na medida do possível o Etios será sempre abastecido na mesma bomba, com o carro na mesma posição e deixando o abastecimento parar no primeiro desligamento automático do bico da mangueira.
A intenção para a segunda semana deste novo 30-dias é encarar a viagem padrão deste teste, a reveladora ida ao litoral norte de São Paulo com carro cheio, trajeto que oferece uma grande variedade de tipo de estradas, pisos e ritmos de viagem.
RA
TOYOTA ETIOS SEDÃ PLATINUM
Dias: 7
Quilometragem total: 273,1 km
Distância na cidade: 223,1 km (82%)
Distância na estrada: 50,0 km (18%)
Consumo médio: 8,5 km/l (gasolina)
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