Na semana final do teste de 30 dias o Honda Fit EXL cumpriu apenas roteiros urbanos. Neste período final rodou pouco mais de 300 km e reafirmou sua vocação para a economia, fechando o teste com a média de consumo de 8,6 km/l, considerada ótima para as condições nas quais foi usado. No total, rodou 2.167,7 km dos quais apenas 252,4 km (11,6%) usando combustível de origem vegetal.
Ao mencionar este dado, o consumo, cabe fazer um comentário que serve tanto para o pequeno Honda como para qualquer outro carro que passe pelo teste. A praxe nos testes de 30 dias é “vigiar” a cifra exibida pelo computador de bordo, sempre confrontando-a com os dados obtidos pelo jurássico sistema de verificação “na unha”, ou seja, dividir a quilometragem indicada no hodômetro pelos litros apontados na bomba.
De cara, no primeiro abastecimento, o computador do Fit se revelou levemente otimista, tendência que foi confirmada sucessivamente nos restantes abastecimentos. Assim sendo, as cifras divulgadas na tabelinha ao final dos textos foi sempre obtida através da continha e não publicando os dados do instrumento, que porém julgo razoavelmente confiável – o maior erro apresentado foi de 8%, com desvio médio de 3,5%, ou seja, um nadinha.
É claro que o leitor sabe que mesmo esse sistema que se vale das informações do hodômetro e da bomba apresentará margem de erro, todavia é a maneira que acho mais correta no sentido de equalizar os diversos testes de 30 dias que são feitos aqui no AE: usar a mesma bomba sempre que possível e “vigiar” os dados do computador de bordo.
Posto isso, aos fatos, e que fatos! A visita à Suspentécnica para enfiar o nariz nas entranhas do Fit acompanhados pelo “capo” da oficina, Alberto Trivellato, foi, como sempre ansiosamente aguardada. Na chegada Trivellato faz questão de afirmar que “gosta muito” dos Honda, enaltecendo a fina engenharia aplicada à fabricação de seus automóveis. No giro pelas redondezas da oficina que sempre precede a verificação do carro no elevador, Alberto lembrou o trabalho que fez em 2012 e em 2014 para preparar, respectivamente, um Civic e um Fit para serem Pace Car de competições de velocidad. O Civic foi mostrado em matéria aqui no AE em junho de 2012 e o Fit, em agosto de 2014.
O Civic cumpriu esta tarefa na etapa brasileira da Fórmula Indy em 2012, substituto do Civic Si que deixara de ser fabricado no ano anterior. Como a Indy tem exigências específicas em relação a potência mínima e capacidade de manter um ritmo forte em pista em caso de necessidade, um Civic teve que ser preparado para tal fim. O trabalho coordenado por Alberto deixou a Honda tão satisfeita que, por ocasião do lançamento da nova geração do Fit em 2014, a empresa decidiu preparar um para ser o Pace Car das provas de motociclismo na qual a empresa é patrocinadora e protagonista. O resultado foi um furioso Fit com motor de mais de 200 cv e o aparato restante para segurar tal onda, sem trocadilhos: freios mais potentes, suspensão elaborada, gaiola de proteção, bancos especiais, cinto de quatro pontos e outras especiarias típicas de carros preparados para a pista.
Ao comentar este trabalho o profissional destacou tanto o resultado final excelente quanto o fato de tal ter sido conseguido por conta da base competente. Civic e ainda menos o Fit não são esportivos, mas segundo Alberto a excelência mecânica da Honda tornou a tarefa de “esportivizá-los” muito fácil e prazerosa. E enquanto dirigia o Fit e rememorava deste trabalho, Trivellato comentou sobre a natureza da estrutura do Honda, um monobloco de elevada rigidez apesar de leve, e que em parceria com a suspensão, que tende a ser bem firme, dá ao carro boas características de estabilidade e, na contramão do conforto de marcha, um rodar levemente áspero.
O conforto de marcha em pisos ruins não é nada ajudado pelos pneus Bridgestone Turanza ER300 185/55R16. Na segunda semana do teste expressei minha opinião sobre a inadequação desta medida de pneus à realidade de nossas cidades, que em geral tem pavimentação deteriorada.
Na visita à Suspentécnica o colaborador introduziu um novo elemento ao tema: segundo ele os Turanza quando chegam à meia vida – caso dos pneus deste Fit ora avaliado – ficam especialmente duros e ruidosos. Com essas características é relevante notar que o Fit do teste, que começou esta avaliação com hodômetro marcando pouco mais de 16 mil km e terminou com 18.241 km, tinha até poucos ruídos internos mostrando que a qualidade do plástico, demais materiais de acabamento e seus devidos encaixes é de boa qualidade.
É exatamente a palavra “qualidade” que marca a observação da parte inferior deste Honda. A primeira parte a destacar é o excelente “fechamento” da parte inferior do Fit na dianteira, a área do motor, praticamente encapsulado. Para Trivellato, mais do que proteger cárter e demais componentes de choques contra irregularidades, a extensa peça plástica tem função aerodinâmica e de manter a estabilidade térmica do conjunto motor-transmissão.
Logo atrás desta “capa” que esconde a alma do Fit há outra peça que Alberto define como exemplo claro da engenharia Honda e sua busca pela funcionalidade sem deixar a excelência de lado. Trata-se do “subframe”, ou subchassi, a estrutura fixada ao monobloco e que sustenta os elementos inferiores da suspensão dianteira e outros componentes. Para ele elementos simples como as bandejas têm não apenas um desenho, mas também uma realização que não é comum ser vista em carros desta categoria. Há, segundo Trivellato, “horas e horas de engenharia” aplicadas a vários elementos que se veem na parte inferior deste Fit.
Um destes o distingue especificamente dos demais concorrentes, que é o tanque de combustível, mais exatamente seu posicionamento. Normalmente situado logo à frente do eixo traseiro, no Fit o reservatório está mais avançado, em posição intermediária, quase que equidistante dos dois eixos, o que coincide com a área diretamente abaixo dos bancos dianteiros (curiosamente, como nos Jeep Willys CJ). Tal solução permitiu adoção do genial sistema de rebatimento dos assentos posteriores que dá ao Honda uma versatilidade ímpar no transporte de cargas de diferentes – e difíceis – dimensões. Outra vantagem colateral é a vantagem de ter o tanque de 46 litros em posição centralizada. Desta maneira, cheio ou vazio, ele interfere minimamente no equilíbrio do carro. Por conta deste tanque central, Alberto Trivellato aponta outra peculiaridade deste Honda que é o tubo de escapamento percorrer a lateral direita e não estar centralizado como na grande maioria dos automóveis.
Quanto à suspensão traseira, o eixo de torção do Fit é, na visão de Trivellato, outro exemplo de como fazer melhor algo que é naturalmente simples e que em tese não exigiria nenhum requinte. Para comprovar isso ele destaca o modo diferenciado como a chapa de aço foi dobrada. Ao mostrar a ancoragem do eixo ao monobloco, as molas tipo barril e amortecedores telescópicos, Alberto comenta ser uma receita manjada, mas de realização caprichada, admirável.
A análise termina com um olhar geral na carroceria, nas frestas regulares entre os componentes agregados ao monobloco — portas, capô e tampa do porta-malas — e no cofre do motor onde a organização dos mais diferentes componentes evidencia a assinalada qualidade, resultado, como faz questão de destacar Alberto Trivellato, de “horas e horas de engenharia”.
O Honda Fit EXL terminou a avaliação comprovando na prática a razão de seu sucesso comercial. Não há no mercado outro carro de sua categoria que reúna tantas qualidades importantes como a comprovada economia de combustível associada à competência dinâmica. Em relação à versão anterior exibe maior silêncio interno e a superioridade de funcionamento do câmbio CVT em comparação à unidade automática precedente.
O Fit é um carro verdadeiramente moderno e atual, anda bem na estrada e na cidade e o que consome para fazer isso é realmente pouco. Trata com carinho seus ocupantes através de uma ergonomia caprichada e de uma habitabilidade de referência (desde que o motorista não seja de elevada estatura…). Efetivamente é um ótimo carro ao qual faltam meros detalhes para a excelência. Quais? Incorporar os requintes que as versões deste mesmo automóvel ostentam em outros mercados, que vão desde os muito importantes controle de estabilidade e bolsas de ar de cortina aos talvez não fundamentais computador de bordo com mais funções, ar-condicionado digital e palhetas do limpador de para-brisa flat-blade. Defeito mesmo talvez tenha apenas um: o preço elevado. Porém, o fato de mesmo sendo caro vender bem indica que o consumidor brasileiro aceita pagar mais para levar “horas e horas de engenharia” para sua garagem.
RA
Assista ao vídeo:
HONDA FIT EXL
Dias: 30
Quilometragem total: 2.167,7 km
Distância na cidade: 1.116,7 km (51,5%)
Distância na estrada: 1.051,0 km (48,5%)
Consumo médio: 9,84 km/l (gasolina)
Melhor média: 14,00 km/l (gasolina)
Pior média: 7,00 km/l (álcool)
Litros consumidos: 220,29
Custo: R$ 611,50
Custo do quilômetro rodado: R$ 0,34
Leia a 3ª semana Leia a 2ª semana Leia a 1ª semana
FICHA TÉCNICA HONDA FIT EXL 2016 | |
MOTOR | |
N° e disposição dos cilindros | Quatro, em linha, transversal, flex |
Cilindrada | 1.497 cm³ |
Diâmetro e curso | 73 x 89,4 mm |
Potência | 115 cv (G), 116 cv (A), sempre a 6.000 rpm |
Torque | 15,2 m·kgf (G), 15,3 m·kgf (A), sempre a 4.800 rpm) |
Taxa de compressão | 11,4:1 |
Distribuição | 4 válvulas por cilindro, comando no cabeçote, corrente, variador i-VTEC de fase e levantamento conjugados |
Formação de mistura | Injeção no duto Honda PGM-FI |
TRANSMISSÃO | |
Tipo do câmbio | Automático CVT |
Conexão motor-transeixo | Conversor de torque |
Relações de marchas | Frente 2,526:1 a 0,408:1, ré 2,706:1 a 1,382:1 |
Relação de diferencial | 4,992:1 |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, McPherson, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora |
Traseira | Eixo de torção, mola helicoidal e amortecedor pressurizado |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira, assistência elétrica indexada à velocidade |
Voltas entre batentes | 3 |
Diâmetro mínimo de curva | 10,3 m |
FREIOS | |
Dianteiros | Disco ventilado Ø 262 mm |
Traseiros | Tambor Ø 200 mm |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Alumínio, 6Jx16 |
Pneus | 185/55R16 |
Estepe | Temporário, roda de aço 4Tx15, pneu T135/80D15 |
CONSTRUÇÃO | |
Tipo | Monobloco em aço, monovolume, 4 portas, 5 lugares |
DIMENSÕES | |
Comprimento (mm) | 3.998 mm |
Largura (mm) | 1.695 mm |
Altura (mm) | 1.535 mm |
Distâncias entre eixos (mm) | 2.530 mm |
Bitola dianteira/traseira (mm) | 1.482/1.472 mm |
Distância livre do solo (mm) | 145,3 mm |
PESOS E CAPACIDADES | |
Peso em ordem de marcha | 1101 kg |
Capacidade do porta-malas | 363 L (906 L c/banco rebatido, 1.045 L c/banco traseiro rebatido, dianteiros todos à frente |
Tanque de combustível (l) | 45,7 litros |
CONSUMO (INMETRO/PBE) | |
Cidade | 12,3 km/l (G), 8,3 km/l (A) |
Estrada | 14,1 km/l (G), 9,9 km/l (A) |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em D | 54,8 km/h |
Rotação a 120 km/h, D | 2.200 rpm |
(Atualizado em 28/06/16, correção do custo/km na tabela ao final)