No mês em que o Brasil assistiu ao segundo impeachment do chefe de estado de sua história, sendo ambos separados por menos de 25 anos, até que abril não foi um desastre total. Ao menos para o setor automobilístico.
Enquanto a sociedade percebe uma deterioração constante da economia e do emprego, o comércio pequeno, médio e grande nos quatro cantos do país com menos clientes e estes com menos consumo, os compradores de automóveis e comerciais leves que seguiram adquirindo veículos mantiveram o ritmo de negócios que vem se observando desde janeiro.
Comercializaram-se ao todo 162.939 veículos automotores, sendo 157.821 leves e 5.118 pesados. O setor de caminhões sentiu um impacto negativo de 13% sobre as vendas de março, mas de minhas consultas ao mercado ouvi que esse mesmo setor de brutos já recebe sinais de reação da outra ponta da cadeia. Se a falta de confiança afeta fortemente tanto automóveis como os veículos comerciais, os frotistas enfrentam crédito ainda mais restrito, zero Finame, zero PSI, mãos atadas para fazerem as suas encomendas, enfim, o novo governo que terá início esta semana enfrentará desafios colossais.
Os emplacamentos diários de automóveis e comerciais leves seguiram praticamente inalterados, 7.891/dia vs. 7.881 do mês anterior. Da tabela notamos que desde janeiro esse fluxo de negócios diários oscila entre 7.500 e 7.900, ou seja, um novo patamar estabilizado mas desconfortavelmente baixo. Há de se considerar que os 20 dias úteis de abril não foram bem 20, pois a sexta-feira pós-feriado de Tiradentes é útil para poucos e estou seguro nesse dia pouco se vendeu.
O volume de vendas de veículos leves nos últimos 12 meses já é inferior ao que a Anfavea previu para o ano de 2016, 2,24 contra 2,3 milhões. Talvez uma revisão da previsão já esteja a caminho, porém na apresentação que a entidade fez aos jornalistas no último 5 de maio, o novo presidente, que assumiu no 25 de abril, Antônio Megale, ainda não teve tempo para agir muito e na sua mensagem tratou apenas de ratificar o que já vinha sendo dito nos encontros mensais anteriores, a confiança e estabilidade política serão chave para uma reação do mercado e retomada das vendas.
Um novo capítulo em nossa história política
Se o Brasil já andava imprevisível ultimamente, muitos esperavam a confiança e a previsibilidade começassem a se restabelecer após o impeachment da doutora, que avançou no 17 de abril com a aprovação do processo na Câmara dos Deputados. Como num longo pesadelo que esta e sua tigrada e comissários impõem aos brasileiros, ao invés de eles reconhecerem a nova realidade e iniciarem uma recomposição de forças políticas, lutam contra os fatos e a realidade com todas as suas forças na expectativa de fazer o improvável real e retomar o poder a qualquer custo e a instabilidade prosseguiu sem dar tréguas por mais quatro semanas até a véspera de o impeachment ser sacramentado pelo Senado, o que se espera ocorrer nesta quarta-feira (11). Nessas horas, apanho emprestado uma frase dita pelo jornalista Elio Gaspari, “saber o que vai acontecer é coisa de cartomante”.
Mas após o doze de maio, se a cartomante entrar de férias, o consumidor, os frotistas e a sociedade terão um alívio pós-tempestade perversa e poderão voltar se planejar como vinham fazendo até o furacão Dilma varrer a nossa economia. Com várias empresas à deriva, em botes salva-vidas ou arrumando seus barcos, as que não estão ainda em recuperação judicial podem ter melhores chances de evitar o conflito com credores e aproveitar da onda de otimismo que deve seguir. Não se espera uma volta rápida aos tempos de alegria, mas tem se depositado enormes esperanças no grupo que sucederá a Dilma e trupe quanto à arrumação fiscal, que pode significar mais aperto monetário por um tempo, mas eles sabem que terão de implementar medidas de salvação não populistas ao país e esse aperto não pode se estender por muito.
Natural, portanto, que a melhor hora de refazer contas e replanejar é a partir da nova gestão do país, esperemos novos números da Anfavea para o ano no mês que vem. Até o momento, o mercado doméstico segue 20% inferior ao que se projetara; comparando com 2014 a queda beira os 50%. Bom dizer são números da média, pois a crise afetou todos de forma desigual.
Ranking do mês, o que aconteceu com a Fiat? E com o Jeep Renegade?
O Mobi foi lançado e suas vendas tiveram início em seguida, mas a Fiat figurou novamente em 4º lugar no ranking dos automóveis, Hyundai tomando o seu posto, uma surpresa. Fiat Palio, que disputou a liderança do mercado com o Chevrolet Onix por todo 2015, figurou em 10º, com 4.110 unidades, o Uno em 15º, com 3.124.
Na liderança o Chevrolet Onix, com 10.607 vendidos, seguido de perto pelo Hyundai HB20, VW Gol em forte retomada após o face-lift e nova motorização, com 6.533 unidades. Toyota Corolla e Honda HR-V seguem se alternando entre 4º e 5º lugares. Renegade ficou fora do ranking dos 10 mais vendidos, mas ainda creio que o efeito Fiat Toro deve ser um dos fatores que causaram isso.
As quatro grandes, GM, Fiat, VW e Ford também seguem perdendo participação, juntas representaram 58,1% das vendas em 2015 e neste ano as quatro maiores têm 55,1%, só que a 4ª é a Hyundai e não a Ford (se contar com Ford, a soma dela com as três maiores fica em 54%).
Fiat mostra a sua força nos comerciais leves, com Strada em 1º (5.427) e Toro em 2º (3.954). As renovações estéticas e de trem de força na Ford Ranger e S10 devem atrair mais compradores para competir com a Hilux renovada. Duster Oroch segue figurando bem num mercado difícil.
Tivemos em abril novidades que devem reforçar as vendas. Hyundai nos apresentou a motorização 3-cilindros 1,0-L turbo; Peugeot foi discreta mas lançou o 208 com motor 1,2-L de três cilindros, mais econômico e de desempenho similar ao 1,45-L que substitui, e o 208 GT com características de um ótimo esportivo; e a Toyota trouxe a renovação do Etios em interior, motores e câmbio, ganhando um manual de seis marchas e um automático de quatro. A acompanhar.
Até o mês que vem!
MAS