É claro que administrar metrópoles não é uma tarefa fácil. Mas também é fato que, pelo menos no Brasil, ninguém é obrigado a fazer isso se não quiser. Assim, os prefeitos são candidatos porque querem, os secretários de Transportes aceitam ou não as indicações e assim por diante. E todos eles são remunerados para isso. Por isso eu não aceito o argumento de que devemos dar sugestões em vez de criticar. Podemos, sim, criticar. E dar sugestões é apenas algo voluntário. Faz quem quer, se quiser.
E, pragmaticamente, tenho que dizer que acho que não é por falta de ideias que as cidades são mal administradas. Para isso qualquer prefeito e secretário têm montes de assessores que, assim como nós simples mortais, têm acesso à internet e podem pesquisar soluções em outras metrópoles. E evidentemente têm acesso a jornais e publicações que em suas reportagens e editoriais fazem críticas, fornecem informações sobre “como é lá fora”, etc. etc. Ou seja, basta informar-se. Mas, como diz o Bob, isso dá um trabalho danado…
Alguns quando pressionados dizem que estão dispostos a rever medidas adotadas e que se mostraram erradas, mas dificilmente o fazem. Mesmo quando confrontados com os desastres resultantes dessas ações.
Ando muito pelo bairro paulistano de Higienópolis, que já foi um dos mais bonitos da cidade. Plano, bem planejado, com muito verde, hoje é como quase toda a cidade: um monte de ruas esburacadas, sinais desregulados, ciclofaixas destruídas e em sua maioria com traçado que deve ser inútil, pois só vejo (pouca) gente andando no final de semana – ou seja, nada a ver com melhorar a mobilidade. Se é pelo lazer já há parques dentro e fora do bairro para isso.
Outra iniciativa que está totalmente abandonada é o alargamento das esquinas para pedestres (foto de abertura). Sei que em alguns países há medidas como esta, mas nunca vi algo tão abandonado como os postinhos de Higienópolis. Quando foram implantadas, há um par de anos, o objetivo declarado era dar melhor fluxo aos pedestres – ou algo assim. Na prática, não servem para nada, até porque em várias esquinas foram colocadas onde não há tanto fluxo de pedestres que justifique invadir a rua para isso. Isso sem falar na falta de manutenção.
A solução utilizada foi a mais simples e barata. Apenas pintar o asfalto e em alguns casos colocar uns postinhos que teoricamente dariam mais segurança aos pedestres. Pelo estado dos mesmos vê-se que dificilmente dariam alguma proteção a quem quer que seja.
A legislação brasileira permite que em vias de grande concentração de pedestres pode-se estudar a possibilidade de alargamento do passeio ao longo da via. Mas, claro, devem-se fazer também estudos de capacidade da via para se verificar um consequente comprometimento do fluxo veicular. Mas, outra vez, isso dá um trabalho danado….
É claro que as esquinas são os pontos de maior concentração de travessias e por isso mesmo são locais críticos para se elaborar estudos e intervenções para evitar atropelamentos. Na teoria, o alargamento das calçadas nas esquinas permitiria:
– A redução do tempo e distância dos pedestres no percurso da pista de rolamento
– A redução da velocidade dos veículos devido ao estreitamento da via e próxima das esquinas pela diminuição do raio de curvatura da geometria
– O aumento do espaço para os pedestres facilitando sua movimentação e melhorando o nível de serviço destinado a ele sem prejudicar a fluidez do trânsito.
Vejam, caros leitores, que eu escrevi “permitiria”, assim, no condicional. Porque na prática não é o que vemos. Em alguns lugares o alargamento simplesmente aparece do nada, obrigando os veículos a mudarem de faixa de rolamento às vezes em ângulos de 90 graus.
Na teoria, segundo pesquisei em diversos trabalhos acadêmicos, o alargamento das calçadas é recomendado nos seguintes casos:
– em cruzamentos (pontos de maior concentração de pedestres) de calçadas estreitas que acaba induzindo os pedestres a ocuparem parte da pista de rolamento;
– em locais onde há estacionamento irregular de veículos;
– em locais onde a visibilidade entre condutores e pedestres é comprometedora;
– em locais onde se pretende restringir ao máximo o uso de veículos;
– em locais onde se concentram a presença de elementos urbanos como postes, caixas de correio e telefones públicos dificultando o deslocamento dos pedestres.
Mas em todos eles estamos partindo do princípio de que ocorrem fatos que não deveriam. Por exemplo, por que se permitiria o estacionamento irregular de veículos? Então vamos fazer o pedestre ir para o meio da rua em vez de impedir o estacionamento em local proibido? Se a visibilidade está comprometida, não é mais lógico desobstruir o campo de visão e permitir que pedestres e motoristas se enxerguem? E quanto a restringir o uso de veículos…bem, sem comentários.
Por princípio, as esquinas devem estar sempre desobstruídas. Bancas de jornais deveriam ficar a 15 metros de distância, o estacionamento é proibido e o mobiliário pequeno ou médio (como telefones públicos ou caixas de correio) deveriam estar a 5 metros de distância. Ou seja, já deveriam permitir um maior fluxo de pessoas.
Ainda assim, não há um alargamento padrão. Em Higienópolis ele é bem na quina. Mas encontrei em Ourinhos um alargamento mais sui generis. Mas pelo que vi, as faixas da direita já eram de estacionamento permitido. Problema é para quando não houver carro parado e alguém estiver dirigindo por essa faixa da av. Altino Arantes, pois subitamente vai dar de cara com um espaço interditado e terá de jogar o carro para a esquerda. Idem para quem vem pela rua Silva Jardim:
Pessoalmente, não gosto de “exceções” no trânsito, pois acho que levam a maus hábitos. Por isso também não curto estes alargamentos com pintura de faixa no chão, que induzem o pedestre a aguardar já na rua para atravessar em vez de na calçada, como seria a praxe. Pelo mesmo motivo não gosto da faixa verde para pedestres que foi pintada no asfalto da av. Liberdade a título de “alargamento” da calçada. Para mim lugar de carro é na rua (sou contra estacionamento sobre a calçada, como é comum no Rio de Janeiro) e de pedestre na calçada. E se for para alargar calçada, oquei, que seja feito o alargamento, com meio fio e tudo.
Mudando de assunto: Faz tempo que acho que a Fórmula 1 está muito engessada em termos de manobras. Não permitir que se mude de trajetória mais de uma vez? Acho besteira, cada um deveria poder defender sua posição como quisesse. Aliás graças a isso tivemos corridas fantásticas como a de Dijon em 1979, Jarama em 1981, entre muitas outras. Mesma coisa em relação a coisas como abrir não traçado nas curvas para dificultar ultrapassagens. Acho bobagem punir o Nico Rosberg por “espalhar” o Mercedes para dificultar a passagem do Hamilton, especialmente porque não significaria risco de acidente para o inglês. Se continuar assim, daqui a pouco haverá coisas tão politicamente corretas na F-1 como cotas para pilotos, escuderias e outros. E não haverá mais competitividade.
NG
A coluna “Visão feminina” é de total responsabilidade de sua autora e não reflete necessariamente a opinião do AUTOentusiastas.