Em tempo de Olimpíadas discutimos novamente até que ponto a tecnologia pode influenciar os esportes. Diversas modalidades já utilizam corriqueiramente recursos de vídeo para confirmar ou não decisões dos juízes. Tem aqueles que se opõem a isso, dizendo que o erro faz parte do esporte. Como corinthiana e torcedora do Boca (pouparei meus caros leitores do nome que temos para os que são fãs do time argentino) não posso concordar já que o jogo entre os dois pela Libertadores em 2013 foi um show de “erros” da arbitragem que mais pareciam de propósito para prejudicar os brasileiros.
Se esporte envolve paixão, finanças devem ser friamente analisadas — e nesse sentido há muitas possibilidades. Especificamente na área de seguros há muitas coisas novas que podem ser aplicadas com ajuda da tecnologia.
Nos Estados Unidos há seguradoras que fazem apólices totalmente individualizadas em função não apenas da idade e de alguns hábitos genéricos dos motoristas — como parar em estacionamento fechado, morar em bairros com maior ou menor incidência de roubos ou pelo histórico de acidentes em que a pessoa se envolveu.
Com a ajuda de modelos analíticos, pode-se chegar ao ponto de estimar como o motorista dirige. Se ele freia bruscamente várias vezes ao dia, se ele faz conversões em velocidade muito elevada, etc. Big brother? vocês perguntarão. Certamente, pois envolve a instalação de dispositivos nos veículos que permitem o total acompanhamento das manobras. É claro que com o uso de GPS já se sabe onde estamos (ou melhor, no caso do Brasil onde está nosso carro, que não necessariamente está onde nós estamos, mas às vezes onde o ladrão o levou) a cada momento, mas agora falamos de saber exatamente como dirigimos. Pode haver questões particulares para não se querer isso, e pelo menos por enquanto não é obrigatório aceitar que sejam conhecidos esses detalhes da nossa vida. Mas aqueles que aceitam podem ter vantagens se dirigirem cuidadosamente pois as empresas costumam brindá-los com apólices de custo mais baixo do que os mais imprudentes. E aí cada um decide se quer partilhar (para usar um verbo muito na moda no mundo corporativo) essas informações ou não.
Tenho um amigo que paga seguro mais alto por não aceitar que a empresa instale um dispositivo de rastreamento. Ele prefere gastar mais para que a seguradora não saiba onde ele está a cada momento. Não que seja milionário ou tenha medo de sequestro — nada disso, apenas diz que é uma questão de privacidade. O fato é que privacidade é algo que temos escassamente, vide o elevadíssimo número de câmeras que registram nossa presença, sabendo ou não nós de sua existência. Se você vai a um restaurante é muito provável que esteja sendo filmado pelo circuito interno. Se passa na rua provavelmente será flagrado por diversas câmeras de segurança dos prédios. Se vai ao caixa automático sua presença será registrada pelo banco. Se cruza um sinal no vermelho, será fotografado por um radar que constatará sua presença no local. E isso sem falar nas outras pessoas que filmam ou fotografam com seus celulares e ocasionalmente captam suas imagens. Eu já me vi no Facebook de outras pessoas que colocaram fotos nas quais eu aparecia sem nem saber que isso seria feito. Mas tem gente, como meu amigo, que faz questão de manter alguma privacidade, mesmo sabendo que será flagrado por câmeras de pedágio, de segurança, radares e outros. Como ele diz “o que eu puder fazer para manter minha privacidade, eu farei”.
É claro que as seguradoras usam da tecnologia para diversos outros fins. A coleta de dados e especialmente seu bom uso permitem que a companhia avalie melhor os sinistros nos quais o segurado se envolveu. Assim é fácil descobrir que uma mesma testemunha está citada em acidentes na Zona Norte e extremo da Zona Leste em várias ocasiões — o que pode ser um indício de fraude, de “testemunha profissional”. Ou que uma mesma oficina é responsável pelo conserto de um volume excessivo de carros ou que envolvem um mesmo sinistrado em várias ocasiões. E por aí vai.
Toda essa tecnologia faz com que as apólices possam ter custo menor pois são feitas especificamente para aquele usuário e criadas em função de seus hábitos e rotinas. Assim, alguém que dirige imprudentemente acabará pagando mais do que outro motorista que respeita as normas de trânsito pelo simples fato de que corre mais riscos de se envolver em sinistros. Já foi um grande passo quando as seguradoras começaram a criar grupos em função da idade, do perfil e até mesmo de características, como o fato de ser usado estacionamento fechado em vez de deixar o carro estacionado na rua. Individualizar totalmente as apólices parece ser o próximo passo.
A redução nas fraudes, pelo maior controle graças ao cruzamento de dados, faz com que as empresas não lancem eventuais gastos que acabam não se confirmando e que apenas elevam o custo dos prêmios. Mas às vezes o preço a se pagar é a perda da privacidade.
Mudando de assunto: Recentemente passei em Higienópolis no local que mencionei em outra coluna sobre o alargamento de esquinas para pedestres. Vejam só o estado deplorável dos postinhos que dariam mais segurança às pessoas bem como da tinta que demarca o local onde eles poderiam estar parados esperando atravessar. Vejam as duas fotos, de um ano atrás e agora e tirem suas próprias conclusões. Vocês parariam sobre os asfalto esperando atravessar?
NG