Branco, bonito e bacana, e a intenção é daqui a três semanas acrescentar a este trio de bês um quarto B, o de bom. Não será difícil tendo em vista o que a marca das quatro argolas tem feito nos últimos tempos. Se a primeira impressão é a que vale, ao entrar no Audi A3 Sedan que ora estreia em nosso Teste de 30 dias, a impressão foi das melhores.
Tive o privilégio de ter passado alguns bons momentos ao volante dos Audi nos últimos anos: dos potentes RS 8, 6 e 4 ao pequeno A1, nenhum deles deixou de me impressionar. Pela fúria, pela tecnologia, pela sobriedade ou pelas boas soluções práticas ou estilísticas. Como disse, o primeiro momento neste A3 fabricado no Paraná foi uma espécie de flashback olhando cá e lá, reconhecendo detalhes do marcante DNA Audi.
Este A3 é um automóvel de novíssima geração. Foi lançado no Brasil no final de 2015 e na Europa dois anos antes. Em minha opinião, trata-se do mais feliz sedã derivado de hatches que existe pois, invariavelmente, ao acrescentar o terceiro volume a um design nascido com dois é bem difícil acertar. Exemplos vemos aos montes pelas ruas, especialmente neste momento de nosso mercado onde os sedãs estão em alta.
Beleza ao branquíssimo Audi (branco Geleira metálico) realmente não falta. O design é fluido e nada espalhafatoso, concilia alta dose de sobriedade com uma pitada esportiva que, suponho, será capaz de agradar ao tiozão e ao garotão. Destaco a frente musculosa com a característica grade trapezoidal que a rasga de cima a baixo e a traseira curta, conectados por uma lateral de cintura alta com vincos que lhe dão força.
Há quem sentirá falta do “rodão” tão em voga atualmente, já que em vez dos aros 18 polegadas ou maiores, o A3 nesta configuração Ambiente, mais cara que a de entrada, a Attraction, vem com rodas aro 17 montadas com pneus 225/45R 17 W (Pirelli P7). Outra ausência que frustrará seguidores de tendências é a falta de faróis auxiliares, que em quase todo Brasil vem inexplicavelmente sendo usados em detrimento aos faróis baixos.
Compensações? Sim há, e muitas. O farol de xenônio tanto no facho baixo como no alto, as luzes LED de uso diurno e as lanternas traseiras iluminadas com a mesma tecnologia. Outro charme é o teto solar panorâmico e a tela retrátil que domina o centro do painel, com o sistema MMI (Multi Media Interface) onde navegador, áudio, câmera de ré, sensores de distância e um completo sistema para gestão de telefone e de preferências de ajustes múltiplos divertirão quem se liga em alta tecnologia ou fascinarão quem gosta de mimos hi-tech. Injustificável é a falta de uma porta USB.
Acabamento black piano? Nein, e nem aquele imitando raiz de nogueira. A sobriedade germânica só permitiu discretos detalhes em tom de alumínio anodizado no preto dominante do painel. Bancos pretos (“couro” sintético) e teto cinza configuram sisudez mas também o ar de durabilidade, solidez aparente e ao tato que, por sua vez, não encontra o catálogo de texturas tão em voga em outras marcas. O recado é “aqui tem qualidade, sem desperdício.”
Girar a chave significa… mentir! No A3 nesta versão para fazer o motor acordar não se gira chave, se aperta um botão pois a chave é presencial. Sob o capô há um 4-em-linha TFSI – turbo fuel stratified injection – de 1,4 litro (mais exatamente 1.395 cm³), o conhecido EA211 que equipa os atuais Golf, o novo Jetta e outros carros do Grupo VW. O câmbio é automático, epicíclico, marca japonesa Aisin de seis marchas mais ré e é uma exclusividade deste A3 sedan nacional, já que todos os A3 made in seja onde for usam o robotizado de dupla embreagem de sete velocidades ou simplesmente câmbio manual. Outra exclusividade do “nosso”A3 é a suspensão traseira por eixo de torção e não multibraço.
Motor ligado, engato “D” e me mando para uma semana onde pouco pude rodar por muitos motivos e confesso que se me afastei 15 km de minha garagem foi muito. Com isso a realidade do contato inicial ficou restrita à montanhosa zona oeste da capital paulista em horários variados e malvados. O carro foi entregue com o tanque cheio, supostamente de álcool, mas por não saber qual a exata composição do que havia no reservatório decidi fazer o tanque secar o quanto antes, e após 271 km rodados parei ao lado da bomba aliviado uma vez que o aviso que faltavam apenas 5 km de autonomia haviam apagado ao menos dez quilômetros antes…
No tanque de “aproximadamente 50 litros” segundo o manual (50, pela ficha técnica oficial), entraram 53,37 litros, e agora sim tenho certeza de que o que está ali dentro é álcool. Com o líquido anterior (?) a média de consumo foi de 5,2 km/l. O computador de bordo é ao estilo VW, ou seja, duplo: um “zerável” quando você bem entender e outro que zera automaticamente quando o carro fica desligado mais de duas horas, e nele conferi a melhor marca de 7,4 km/l e a pior, de 4,1 km/l, esta última em uma saída onde o acelerador foi usado “à moda”…
Nesta breve mas intensa semana, algumas conclusões: o motor empurra muito, mais do que deixam imaginar os 150 cv declarados na ficha. O mérito disso é o torcão de 25,5 m·kgf esparramado entre 1,5 e 5 mil rpm. Mesmo tendo controle de tração (e toda a eletrônica que se espera presente em um Audi de última geração) ela é razoavelmente permissiva, deixando o A3 esfregar os pneus dianteiros com fé antes da luzinha no painel piscar e cessar a patinação.
As rotações — faixa vermelha às 6 mil rpm — sobem vigorosamente quando o pé afunda no acelerador, com o câmbio atuando de modo impecável e sem frustrar quem quer extrair o sumo da performance, ou seja, nada de mudanças antes da hora. Do jeito oposto, levando o A3 na pãodurice, na casquinha do acelerador, o ponteiro duramente passa da marca de 2 mil rpm, e as trocas de marcha são suaves, imperceptíveis. Completa a cena da empatia urbana do A3 paranaense direção (volante de quatro raios e não três, como a maioria hoje) suave mas não boba e, para quem quer saber se usei as borboletas para mudar marchas, a resposta é não. Não senti nem necessidade nem vontade. Mas usarei, claro.
Usei, e muito, os botões do console que atuam na gestão da tela central do painel que tem a elegância de se esconder não apenas quando o carro é desligado como, caso se deseje, apertando um botão no painel. Não sou chegado em centrais multimídia, conectividades e demais parafernálias apesar de achar lindo um som bom (e fácil de usar) assim como atender o telefone via teclas no volante ou achar alguma localidade via navegador. O Audi MMI é uma referência deste tipo de equipamento e nas semanas que virão vou explorar mais o sistema. Por enquanto destaco um “must”: a possibilidade de escrever com a ponta do dedo letras e números na face do botão central, o que facilita a vida totalmente.
O que acontecerá daqui para frente é o de sempre: rodovia variada, uso intenso em situações diferentes e a troca do álcool pela gasolina neste que é o primeiro Audi flex da história. Enfim, fazer tudo o que for possível para conhecê-lo a fundo. Apenas uma coisa eu já sei: um quinto “B”, de barato, não vai ser possível de acrescentar ao relato: seu preço público sugerido é de R$ 117.990.
RA
Audi A3 Sedan Ambiente 1,4 TFSI Flex Tiptronic
Dias: 7
Quilometragem total: 271,1 km
Distância na cidade: 271,1 km (100%)
Distância na estrada: 0 km (0%)
Consumo médio: 5,2 km/l
Melhor média: 7,4 km/l
Pior média: 4,1 km/l
Média horária: 16,0 km/h
Tempo ao volante: 16h54minutos
FICHA TÉCNICA AUDI A3 SEDAN AMBIENTE 1,4 TSI TIPTRONIC FLEX | |
MOTOR | |
Tipo | Ignição por centelha, 4 tempos, flex |
Instalação | Dianteiro, transversal |
Material do bloco/cabeçote | Alumínio/alumínio |
N° de cilindros/configuração | 4 / em linha |
Diâmetro x curso | 74,5 x 80 mm |
Cilindrada | 1.395 cm³ |
Aspiração | Forçada por turbocompressor com interresfriador, pressão 0,8 bar |
Taxa de compressão | 10,5:1 |
Potência máxima | 150 cv de 4.500 a 5.500 rpm |
Torque máximo | 25,5 m·kgf de 1.500 a 4.000 rpm |
N° de válvulas por cilindro | 4 |
N° de comando de válvulas /localização | 2 / cabeçote, com variador de fase de admissão e escapamento, corrente |
Formação de mistura | Injeção direta Bosch MED |
ALIMENTAÇÃO | |
Combustível | Gasolina e/ou álcool |
SISTEMA ELÉTRICO | |
Tensão | 12 V |
Gerador | Alternador 140 A |
Capacidade da bateria | 59 A·h |
TRANSMISSÃO | |
Rodas motrizes | Dianteiras |
Câmbio | Automático epicíclico Tiptronic |
N° de marchas | 6 à frente e uma à ré |
Relações das marchas | 1ª 4,670:1; 2ª 2,530:1; 3ª 1,556:1; 4ª 1,130:1; 5ª 0,859; 6ª 0,686; ré 3,185 |
Relação de diferencial | 3,683:1 |
FREIOS | |
De serviço | Hidráulico, duplo circuito em diagonal, servoassistido, ABS com EBD |
Dianteiro | Disco ventilado Ø 288 mm |
Traseiro | Disco Ø 272 mm |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, McPherson com subchassi, braço triangular, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora |
Traseira | Eixo de torção, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora incorporada ao eixo |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira, assistência elétrica indexada à velocidade |
Diâmetro mínimo de curva | 10,9 m |
Relação de direção | 15,3:1 |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Alumínio 7,5J x 17 |
Pneus | 225/45R17W |
PESOS | |
Em ordem de marcha | 1.240 kg |
Carga máxima | n.d. |
CARROCERIA | |
Tipo | Monobloco em aço, sedã 4 portas, 5 lugares |
DIMENSÕES EXTERNAS | |
Comprimento | 4.456 mm |
Largura sem espelhos | 1.796 mm |
Altura | 1.416 mm |
Distância entre eixos | 2.637 mm |
Bitola dianteira/traseira | 1.555/ 1.526 mm |
AERODINÂMICA | |
Coeficiente de arrasto (Cx) | 0,30 |
Área frontal (A) | 2,12 m² |
Área frontal corrigida (Cx x A) | 0,636 m² |
CAPACIDADES | |
Porta-malas | 425 litros |
Tanque de combustível | 50 litros |
DESEMPENHO | |
Velocidade máxima | 215 km/h (G e A) |
Aceleração 0-100 km | 8,8 s (G e A) |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL INMETRO/PBEV | |
Cidade | 11,7 km/l (G) e 7,8 km/l (A) |
Estrada | 14,2 km/l (G) e 9,9 km/l (A) |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em 6ª | 47,4 km/h |
Rotação do motor a 120 km/h em 6ª | 2.500 rpm |
Rotação do motor à vel. máxima 6ª | 4.500 rpm |