Esta semana me lembrei de Pedro e o lobo, uma das minhas histórias infantis favoritas — para que vocês saibam, caros leitores, a primeira sempre foi Mogli, o menino da selva mas minha mãe sempre foi pródigo em ler histórias para nós, então tenho várias que curto muito. E por que lembrei dessa fábula? É que era sobre um menino pastor que chamava os lenhadores para que o ajudassem dizendo que o terrível lobo estava próximo e ele chegaria para atacar as ovelhas. Eles acudiam, mas era lorota. Uma vez, duas, três, até que se cansaram dos alarmes falsos e deixaram de ir prestar ajuda — e aí o lobo realmente estava atacando, mas Pedro se viu sozinho com a fera que devorou as pobres ovelhinhas.
Mas o que tem a ver fábulas infantis com autoentusiasmo? Tudo. As últimas semanas têm sido assim. Vai entrar em vigor a lei do farol baixo nas estradas. Não vai. Agora vai. Agora a Justiça bloqueou. Agora sim, e começam as multas. Bom, até o fechamento desta edição a Justiça havia suspendido de verdade a cobrança de multas até que as rodovias tenham claramente indicada a obrigatoriedade. Mas quem levou multa, babau. Não tem choro nem vela, tem de pagar. Mas já que no Brasil até a preposição “com” na Constituição agora tem nova interpretação… Na minha época de gramática ela era uma palavra invariável que ligava dois elementos da sentença, subordinando o segundo ao primeiro. Ora, ora…
O problema deste comportamento errático das autoridades é que acabam não surtindo o efeito que deveriam. É para obedecer ou não? É para prevenir acidentes ou para arrecadar mais com multas? Ou nenhuma das anteriores?
Como sempre digo, ainda não tenho certeza se a lei é boa ou não por absoluta falta de dados confiáveis que atestem isso. Faltam-me números. Mas não é por isso que vamos ser feitos de iô-iô com a legislação. Aliás, jamais entendi por que se divulgam leis de maneira precária e se fazem cumprir ainda que não estejam regulamentadas ou as partes que devem se ajustar o tenham feito. Na minha cabecinha lógica deveria estar tudo pronto e então ser anunciado: é hoje. Mas isso deveria servir para tudo. Por que publicar leis que não estão regulamentadas? Se nem somos nós, pobres mortais, leigos, que temos de fazer a regulamentação? Temos leis que aguardam regulamentação há anos, quase década. E fica a dúvida, vale ou não vale? E são reeditadas novamente de maneira temporária para valerem também de maneira precária o que sempre abre um flanco gigantesco de ações na Justiça contra e a favor. Lembra aquela frase do Nunes, do Flamengo, que disse: “Fiz que fui, não fui e acabei fondo”. Então tá.
Pois é, pensando melhor, em vez de historinha para crianças esta questão dos faróis ligados nas estradas mais parece animação de quadrilha de festa junina. Olha a cobra… é mentira! Olha a chuva… é mentira! E agora?
Os mais rápidos, ou mais acostumados com esse vaivém de leis, mandados de segurança e outros, ganharam dinheiro e saíram vendendo dispositivos para acender automaticamente os faróis dos carros ao ser dada a partida.
Sempre se diz que um país sério deve ter marcos regulatórios claros e estáveis e jamais escutei ninguém dizer o contrário. Até porque é muito lógico e serve para todos. Na minha infância quando meus pais diziam “não pode” era “não pode”. E não adiantava insistir. Eles pensavam muito, especialmente minha mãe, que ficou responsável sozinha por nossa educação durante quase todo o tempo, mas quando dava uma resposta era sim ou não. E não mudava para esse pedido. Se nos autorizava a ficar até mais tarde numa determinada festa, mesmo que depois ouvisse coisas como “mas é muito tarde, você tem certeza?”, ela mantinha o combinado. E se não podíamos ir a algum lugar era igual. Resultado disto? Minha irmã e eu somos pessoas muito seguras e autoconfiantes. Não arrogantes, mas seguras. E confiamos na nossa mãe. E, acima de tudo, sabíamos que o combinado não mudaria. Contra ou a favor do que queríamos. Isso é algo fundamental para a formação do caráter. É claro que cada pedido era analisado especificamente e a resposta mudava em função das variáveis: lugar, companhia, tipo de evento etc. E a resposta nunca era de afogadilho, demorava um pouquinho e precisávamos responder algumas coisas, especialmente quem estaria presente ou não, onde seria a festa etc.
Mas, voltando ao Brasil, qual é a segurança que se tem quando a aplicação das leis muda o tempo todo? Qual é o incentivo que um agente de trânsito tem para exigir a aplicação? “Olhe, condutor, é para sua segurança…” mas isso só na segunda-feira. Na terça, a segurança foi mandada para as calendas, pois a lei já não mais precisa ser aplicada. Mas talvez na quarta-feira volte a ser exigida. Ou não. Olha a chuva!
Mudando de assunto: fim de semana de TV ligada o tempo todo: Endurance no México (ótima corrida, torci muito pela equipe do Mark Webber), Moto GP (lindas manobras entre Marc Márquez e Valentino Rossi e um acidente horroroso que por sorte não teve consequências físicas para os envolvidos), Fórmula Truck (que chuva, hein?), Indy (excelente e histórica pista, mas corrida meio mais ou menos), e, claro, Fórmula 1. Tem comentarista que quando o Rosberg larga mal diz que ele errou, mas quando é o Hamilton acha que foi problema mecânico mesmo quando se vê o painel do carro sem acusar problemas. Sim, sei que a Mercedes disse que o problema foi mecânico, mas quem acredita? Ótima performance do sempre correto Jenson Button, as grosserias de sempre do Alonso com a própria equipe pelo rádio e fantástica ultrapassagem do Ricciardo sobre o Bottas. Pena que não teremos Felipe Massa na F-1, mas era meio natural que assim fosse. A Nascar vi muito de relance — afinal, tinha muitas corridas e eu tinha um monte de coisas para fazer.
NG