Importado e montado em Manaus, suas vendas aqui no Brasil começaram em abril e seu único defeito, para os apreciadores dos modelos scooter, é o preço salgado: R$ 23.600. Se tivesse ao menos parte de sua fabricação com componentes nacionais, teria um preço mais atraente, porém como nossa economia e política andaram meio esquizofrênicas, é provável que Honda tenha avaliado mais prudente primeiramente só montá-lo para sondar o mercado, para depois decidir por nacionalizá-lo ou não.
A experiência de uns dias com ele foi boa. Gostei do conjunto e, apoiado na tradição de qualidade da marca, a conclusão é que para ter maior sucesso seria bom irem preparando as ferramentas para a sua nacionalização, já que, como disse, seu único porém é diferença de preço perante quem domina o nicho há anos, o Citycom 300i da Dafra, que desde 2010 nada sozinho nessa praia. Ele também é bom e é ao redor de 25 % mais em conta, pois custa entre R$ 17.900 e R$ 18.500, dependendo da versão. A Honda conta com a confiança que inspira. Por outro lado, a Citycom 300i, ao longo desses anos de quase exclusividade, conseguiu também boa fama, está também bonita e é até um pouco mais potente.
Por sinal, uma das melhores matérias que li sobre veículos de duas rodas foi uma justamente uma sobre um Citycom 300i. O autor era um rapaz que começava dizendo que “levara um pé” da noiva e, desconsolado, para esquecer a mágoa resolveu pegar seu scooter, um Citycom, e se mandar até onde acaba o mundo, que, dizem, é o extremo sul da América do Sul: Ushuaia, na Argentina. E assim segue a reportagem/história com o solitário rapaz enfrentando um frio de rachar, neve, gelo e lama da desolada Patagônia grudados no scooter, rumo ao fim do mundo.
Bom, segundo ele, de problemas só teve um pneu furado, o que comprova a confiabilidade do modelo. Portanto, se a Honda pretende ter grande naco desse nicho, que por anos deixou de lado, terá que conquistá-lo também a custa de menor preço.
Abrindo cá um parêntese: como viajar de moto faz bem para a cachola de um sujeito!
O motor do SH 300i raramente é acelerado à toda, pois tem pegada forte e o câmbio CVT varia menos. Em saídas de sinal, com pouca aceleração e sem esforço ele dispara à frente da massa de automóveis. Freia bem, tem ABS controlando os freios, que são a disco perfurados, e por ter bastante peso na traseira o freio de trás coopera relativamente mais que o das motos costuma cooperar. A suspensão traseira, como em todo scooter, recebe parte do peso do motor e transmissão, o que a deixa lenta em seu curso. Isso faz com que a suspensão traseira não acompanhe tão bem o solo, daí que, como em todo scooter, há que ter cuidado extra em curvas de piso irregular. As rodas aro 16 já são bastante grandes para encarar o asfalto ruim brasileiro. Pesa 162 kg.
O arrefecimento do motor monocilíndrico de 279,1 cm³ é a líquido. O comando é no cabeçote, tem 4 válvulas e a taxa de compressão é de 10,5:1. Usa injeção eletrônica PGM-FI e gera 24,9 cv a 7.500 rpm e 2,59 m·kgf a 5.000 rpm. O câmbio CVT está muito bem casado com o motor. Ele, se valendo da boa potência que o motor oferece desde baixa rotação, está projetado para pouco variar, já que não é necessário giro alto para que venha potência consistente, então agrada bastante nos vermos livres do grande descompasso entre elevação de rotação e ganho de velocidade, o que é muito comum nos scooters de menor potência. O motor, transversal, está na horizontal e funciona suave e silencioso. Pouco sente quando se leva garupa; que, por sinal, também vai bem acomodada num selim amplo e macio.
O para-brisa é alto e de tão protetor chegamos a estranhar a falta de vento. Particularmente, por gostar de vento, se tivesse um SH 300i só usaria o para-brisa no inverno ou em viagem, se bem que scooter não é a melhor pedida para viagens sobre duas rodas. O quadro é bem rígido para um scooter, cuja estrutura é só inferior, mas é bem estruturado. Mesmo assim não pode ser equiparado ao de uma moto, que se vale da estrutura que também o amarra na parte superior.
Há um bom porta-objetos sob o selim, onde cabe um capacete e mais alguma coisa, e nele há uma conveniente tomada de força para carregar a bateria dos inseparáveis eletrônicos. A chave é presencial. Basta a termos no bolso e virar uma tecla no painel para ligar o scooter. Bom farol.
Os fãs de scooters têm aí mais uma boa opção para o transporte urbano. Mais detalhes sobre o SH 300i, vale ler também a matéria do Josias, que viajou com ele, coisa que não tive a oportunidade de fazer.
AK