A perua A4 Avant de quinta geração atende muito bem ao que seu proprietário precisa, que é, basicamente, transportar pessoas e sua bagagem com conforto e segurança. Mas o carro é mais que apenas isso e seu motor turbocomprimido de 2 litros e 190 cv. Mesmo sendo apenas tração-dianteira, não há o que criticar na dinâmica do carro, já que as rodas de 18 polegadas com largos pneus de perfil baixo 245/40R18Y ajudam muito na precisão de direção, sem prejudicar o conforto mesmo em pisos paulistanos da pior espécie. A famosa coleção de remendos encontrada em várias ruas e bairros, muitos que tiveram o último recapeamento há pelo menos 30 anos, não é suficiente para trazer desconforto aos ocupantes.
Esse foi sem dúvida o ponto alto do carro para mim. Ao ver os pneus imaginei que o carro se tornaria cansativo depois de algumas horas andando em cidade, e é por isso que a avaliação mais extensa é mandatória para conhecer bem um carro e não sair dizendo imprecisões. Eu me enganei com a primeira impressão visual, e gostei demais do comportamento dessa suspensão. É fácil esquecer o tamanho e peso do carro, se empolgar e começar a dirigir de forma entusiástica e ser correspondido pelo carro, recompensado por um comportamento muito bom com a habitual precisão e exatidão dos bons projetos de carros alemães.
O carro é todo caprichado, desde o estilo passando pelas soluções escolhidas pelos engenheiros, até chegar à fabricação e montagem. Tudo está no lugar, bem fixado, justo, e não apenas onde o cliente e usuário normal olha.
Há defletores de ar na parte inferior para diminuir ao máximo o arrasto, e sob o motor e câmbio há uma cobertura plástica bastante lisa, além de capas plásticas sob os braços da suspensão traseira, fechando o espaço onde se formaria turbulência. Essas capas tem aletas longitudinais para organizar o fluxo de ar. Na extremidade traseira do porão do estepe há outro pequeno defletor, visível na mesma foto em que se vê os dois silenciadores.
É necessário saber que a altura é de carro, não de suve, e portanto se reflete em espaço vertical um pouco restrito para quem é muito alto. Para mim, com 1,81 m, a cabeça tem bom espaço para o teto, mas se usar a altura do banco mais acima do que se deve, fica perto. Dá para notar também que a altura total interna não é exagerada ao se abrir o porta-luvas, que apesar do bom espaço, é bem baixo, e tem tampa também pequena na vertical, sendo um pouco trabalhoso visualizar a entrada de disco/DVD e as de cartões de memória.
Mas a compensação desse pequeno inconveniente é o estilo do carro, que faz imaginar velocidade mesmo parado, com a grande inclinação do vidro traseiro e as colunas respectivas exercendo sua função fortemente nesse aspecto.
Tecnicamente tudo no carro é igual ao A4 que o PK avaliou e publicou há menos de duas semanas, portanto é desnecessário repetir aqui. A matéria dele está nesse link, e mais dados técnicos sobre a perua estão nesse outro texto, quando o Bob Sharp descreveu o carro na apresentação. Veja essas duas matérias para complementar minha avaliação e entender melhor as grandes qualidades da linha A4.
O carro veio com o pacote S-Line, com grade em cinza escuro com molduras cromadas sobrepostas, defletores laterais nas soleiras, um defletor em preto junto da parte inferior da capa de para-choque traseira, e capa de para-choque de desenho exclusivo na frente. Emblemas exclusivos no para-lamas e a soleira iluminada também são do pacote.
Há entradas de ar que formam uma cortina de vento para as rodas dianteiras, recurso aerodinâmico presente em outros carros, como o Mustang, por exemplo. O ar soprado de forma vertical “corta” a turbulência das rodas, reduzindo o arrasto. Com rodas grandes o fenômeno é ainda mais acentuado.
Com isso e mais todos os outros detalhes, o Cx é 0,24, um ponto mais alto que o sedã, e que na prática é fácil de perceber pela ausência total de ruído de vento em estrada e a facilidade em manter velocidade de cruzeiro consumindo pouco combustível.
Vê-se em várias avaliações a crítica à tela multimídia central que se parece com um tablet espetado no painel, muito similar à do Mercedes C180 Estate que testei há três meses, mas em verdade isso não incomoda nem um pouco. É bem visível para todos dentro do carro e funciona perfeitamente, tendo ajuste de brilho para compensar excesso ou falta de luz natural que possa atrapalhar a visualização.
Bom mesmo é o sistema de de áudio Bang & Olufsen com 19 alto-falantes e potência de 755 watts. Ele custa, junto com o visor HUD, projetor de imagem no para-brisa, com informação de velocidade e do GPS, R$ 10.200, o que acho caro — até o momento em que conversei com uma pessoa bem informada sobre custos de trabalhos de instalação de equipamentos de som de alta qualidade em carros: fiquei sabendo que há clientes que chegam a gastar 60 mil reais para ter seu carro modificado e entulhado de alto-falantes e fios por todo lado. Claro que dá para gastar menos ou mais, mas esse valor é considerado comum para carros acima de 150 mil reais.
Entre ter meu carro maculado e um sistema colocado na fábrica por um sexto do preço, não tenho dúvida: o trabalho da fábrica é sempre mais confiável. Portanto, se você for comprar um Audi, não hesite em pedir esse equipamento.
Outro sistema que é percebido como de alta tecnologia é o Pre Sense Rear, que analisa velocidade e distância de veículos atrás da Avant, nas faixas adjacentes, para sinalizar se há risco em uma mudança de direção. A luz de aviso no espelho esquerdo está no campo de visão periférico, e avisa sem termos que desviar o foco da visão, mas na direita é melhor olhar para o espelho. Seria melhor essa luz de aviso à direita estar no espelho interno, do lado direito. Seria mais útil e menos um componente do lado de fora do carro, com todas as dificuldades (e custo) de isolamento de componentes elétricos.
O espaço para bagagem é bom, sem ser gigante. São 505 litros, que passam a 1.510 se o banco traseiro for rebatido. O encosto pode ser baixado em três partes, 40/20/40, sendo o central aquele espaço perfeito para cargas estreitas e compridas, que em países onde há neve pode ser usado para carregar esquis. Umas varas de bambu para pegar tilápias também podem ser colocadas ali.
Há alguns recursos ótimos no porta-malas. O encosto do banco pode ser solto por lá, por meio de alavanca na lateral. Ganchos para sacolas estão dos dois lados, bem como iluminação em LED de ótima qualidade. Há rede para prender carga no assoalho e outra, retrátil, para impedir que um cachorro grande passe para os bancos. Há elásticos nas caixas de rodas, que podem segurar garrafas em pé, por exemplo.
Simples e interessante é a tampa do assoalho, com carpete de um lado e a sua estrutura de plástico visível no verso, com bordas elevadas, funcionando como um bandeja e retendo líquidos. Fácil de limpar, essa tampa pode ser removida segurando-se pelas pegas em ambos os lados para não derramar o que houver ali. Pense numa compra com congelados que vão se degelando, naquele peixe comprado no mercado do litoral e outras coisas que podem afetar a integridade olfativa de seu carro e você logo entenderá. Até mesmo um sapato sujo de lama vai bem ali.
Há também uma luminária na tampa, para iluminar o chão atrás do carro quando a tampa abre.
Sendo um carro bastante silencioso por dentro, ao se retirar as capas laterais do porta-malas fica fácil descobrir que não há milagres. Há absorventes de ruído em profusão.
Também há luzes de cortesia nas quatro maçanetas para iluminar o piso junto do carro, o que evita pisar em algo perigoso ou apenas desagradável. Iluminação nos painéis de porta, porta-copos do console, maçanetas internas, teto tanto na frente quanto atrás, para-sóis com espelhos e iluminação, tudo isso trata bem do motorista e ocupantes, o que combina bem com o teto solar em duas partes, uma que bascula e abre e outra fixa sobre o banco traseiro. Uma cobertura única corre e se enrola na parte traseira do teto, sobre o porta-malas, e tudo é comandado pelas teclas no console do teto, onde estão as luzes de leitura.
Há alumínio em profusão no veículo todo, como capô, tampa traseira, braços de suspensão e mangas de eixo, sem esquecer do motor.
O motor é o mesmo do A4 avaliado pelo PK, 2 litros de 190 cv e 32,6 m·kgf . O quatro-cilindros tem variação do tempo de abertura e fechamento de todas as válvulas, coletor de escapamento integrado ao cabeçote e injeção tanto direta quanto indireta no duto, que atuam separadamente: no duto em carga (abertura de acelerador) parcial, direta em carga total, quando se exige potência. Portanto são oito injetores para permitir essa estratégia. Em carga parcial o motor funciona em ciclo Atkinson favorecendo o baixo consumo de combustível.
Num motor moderno como esse e por ser um carro importado, poderia-se imaginar que precise de gasolina de alta octanagem como a premium ou Podium, esta exclusiva da Petrobrás. Mas isso não é verdade, como atesta a etiqueta na portinhola do tanque. A perua roda com 95 RON, que é a nossa gasolina comum misturada com álcool, e consome muito pouco mesmo assim. Na etiqueta também vê-se que com a 91 RON também é possível fazer o carro funcionar bem, e essa octanagem, que não existe aqui, é a da gasolina ainda encontra nos países do Leste europeu.
Alguns exemplos de consumo: 40 quilômetros em autoestrada de 120 km/h em grande volume de trânsito, fazendo 17 km/l. Depois na mesma estrada em trecho de 30 quilômetros, trânsito só um pouco mais leve, chegando a 21 km/l sem passar dos 120 km/h. Estrada com muito trânsito, muitas subidas e descidas e velocidade de 90 km/h permitiu 17 km/l, mesmo procurando espaço entre os carros mais lentos, e na cidade, trânsito muito leve, 12 km/l em avenidas e 6 km/l saindo com motor frio logo cedo, aquecendo em ruas travadas e cheias de semáforos.
Claro que acelerar forte gasta mais, como em uma avenida de 6 quilômetros com cerca 25 lombadas, uma pura e irritante ignorância, quando resolvi ver quanto gastava acelerando bem entre uma lombada e outra: deu 5,5 km/l. Em congestionamento da marginal do Pinheiros em São Paulo, 55 minutos para andar 16 quilômetros, 8,5 km/l, com aceleração sempre suave.
Em um trecho curto, pouco mais de 5 quilômetros, com três acelerações a fundo para marcar o tempo de 0 a 100 km/h, passou de 10 km/l, algo ótimo.
Essas diferenças de consumo e os tipos de lugares e o quanto se acelera mostram claramente que não se pode falar em consumo de forma absoluta entre o mesmo carro dirigido por pessoas diferentes em locais diferentes. Tudo influencia, e para isso existem os valores normatizados de consumo, aqui no Brasil publicados pelo Inmetro, seguindo um método que se repete sempre, ditado pela norma brasileira NBR 7024. Só assim se consegue comparar com outros modelos do mercado. Para a A4 Avant os números oficiais são 10,5 km/l na cidade e 13,5 km/l, na estrada. Por ocasião da apresentação ainda não estava disponível o consumo oficial, por isso foi considerado o consumo do A4 Sedã Ambiente, um pouco menor, 11/14,3 km/l cidade/estrada.
Colaboram para a disposição da A4 Avant a faixa de potência máxima de 4.200 a 6.000 rpm e de torque máximo de 1.450 a 4.200 rpm. Os dados de desempenho informados pelo fabricante, aceleração de 0 a 100 km/h em 7,5 segundos e velocidade máxima de 238 km/h, dão ideia de como o quatro-cilindros move o carro com facilidade, apesar de na fase inicial de aceleração, mesmo com o câmbio selecionado em Sport haver um pequeno atraso para responder com força.
Quando se pensa que a maioria das pessoas com poder aquisitivo para comprar carros com boa capacidade de carga optam por carros mais pesados e maiores, em regra consumindo mais, fica-se pensando o porquê dessa opção, só justificada se a pessoa precisar realmente de altura livre do solo grande para transitar por locais mais inóspitos. De outro modo, uma perua como esta cumpre as tarefas com categoria, prazer ao dirigir e ainda gasta pouco combustível.
Não apreciar esse carro é difícil. Por mais que a pessoa se esforce procurando defeitos, vai encontrar apenas algumas coisinhas que podem incomodar alguns, como, por exemplo, as soleiras altas e largas, decorrentes de um projeto de estrutura de carroceria fortíssimo. Também pode-se criticar que a inclinação do vidro traseiro bem acentuada atrapalha para colocar cargas mais altas no porta-malas, mas deve-se lembrar que o banco traseiro tem três partes para bascular, o que resolve qualquer problema de espaço dentro de limites civilizados.
Dessa forma, a perua A4 Avant está naquela classe de carros que são muito mais próximos da perfeição do que afastados dela. Só se precisa poder pagar o preço de R$ 187.99o, básica, ou R$ 236.290 se dotada de todos os opcionais, e aí o carro que você terá em casa lhe dará muitos anos de eficiência e prazer.
E mais uma vez, SAVE THE WAGONS!
JJ
FICHA TÉCNICA AUDI A4 AVANT AMBIENTE 2017 | |
MOTOR | |
Tipo | EA888, ignição por centelha, 4 tempos |
Instalação | Dianteiro, longitudinal |
Material do bloco/cabeçote | Alumínio/alumínio |
N° de cilindros/configuração | 4 / em linha |
Diâmetro x curso | 82,5 x 92,8 mm |
Cilindrada | 1.984 cm³ |
Aspiração | Forçada por turbocompressor |
Taxa de compressão | 11,7:1 |
Potência máxima | 190 cv de 4.200 a 6.000 rpm |
Torque máximo | 32,6 m·kgf de 1.450 a 4.200 rpm. |
Corte de rotação | 6.500 rpm |
N° de válvulas por cilindro | 4 |
N° de comando de válvulas /localização | 2 / cabeçote, com variador de fase e de levantamento na admissão e escapamento, corrente |
Formação de mistura | Injeção no duto e direta |
ALIMENTAÇÃO | |
Combustível | Gasolina de 95 octanas RON |
SISTEMA ELÉTRICO | |
Tensão | 12 volts |
Gerador | Alternador 180 A |
Capacidade da bateria | 58 A·h |
TRANSMISSÃO | |
Rodas motrizes | Dianteiras |
Câmbio | Robotizado de duas embreagens |
N° de marchas | 7 à frente e uma à ré |
Relações das marchas | 1ª. 3,19:1; 2ª. 2,19:1; 3ª. 1,52:1; 4ª.1,06:1; 5ª. 0,74; 6ª 0,56; 7ª 0,42; ré 2,75:1 |
Relações de diferencial | 4,23:1 |
FREIOS | |
De serviço | Hidráulico, duplo circuito em diagonal, servoassistido, ABS com EBD |
Dianteiro e traseiros | Disco ventilado/disco |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, braços triangulares superpostos com 5 braços, subchassi de alumínio, mola helicoidal, amortecedor pressurizado eletrônico e barra estabilizadora |
Traseira | Independente, multibraço com subchassi de aço, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira eletroassistida indexada à velocidade |
Diâmetro mínimo de curva | 11,9 m |
Relação de direção | 16,3:1 |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Alumínio 8Jx18 |
Pneus | 245/40R18Y |
PESOS | |
Em ordem de marcha | 1.460 kg |
Carga máxima | 570 kg |
CARROCERIA | |
Tipo | Monobloco em aço, perua de 4 portas, 5 lugares |
DIMENSÕES EXTERNAS | |
Comprimento | 4.725 mm |
Largura sem espelhos | 1.842 mm |
Altura | 1.434mm |
Distância entre eixos | 2.820 mm |
AERODINÂMICA | |
Coeficiente de arrasto (Cx) | 0,24 |
Área frontal (A) | 2,18 m² |
Área frontal corrigida (Cx x A) | 0,523 m² |
CAPACIDADES | |
Porta-malas | 505 litros/1.510 com encostos rebatidos |
Tanque de combustível | 54 litros |
DESEMPENHO | |
Velocidade máxima | 238 km/h |
Aceleração 0-100 km | 7,5 s |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL INMETRO/PBVE | |
Cidade | 10,5 km/l |
Estrada | 13,5 km/l |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em 7ª | 69,2 km/h |
Rotação do motor a 120 km/h em 7ª | 1.730 rpm |
Rotação do motor à vel. máxima, 5ª | 6.000 rpm |