A visita para a análise das entranhas do Audi A3 encerrou nosso período de 30 dias ao volante do sedã feito no Paraná. Como usual, antes da inspeção mais aprofundada, Alberto Trivellato, “master” da oficina Suspentécnica, fez questão de percorrer seu percurso padrão.
No bem conhecido roteiro onde avalia não apenas os veículos-alvo do nosso 30 dias mas principalmente os carros de seus clientes, Alberto buscou sentir esta unidade do A3 entregue para nosso teste, já que o modelo é um velho conhecido dele, só que na versão anterior, a importada.
Imediatamente o colaborador mencionou a maciez das suspensões, mas não de maneira muito positiva. Para ele o Audi A3 nacionalizado ter perdido a suspensão traseira multibraço em favor do eixo de torção não constituiu um problema. Aliás, como já escrito aqui no AE em diversas outras ocasiões (e inclusive sobre o A3) as vantagens de uma suspensão tecnicamente mais sofisticada na traseira só será notada em situações limite, em uso esportivo em alta velocidade quando obviamente o sistema multibraço poderá oferecer maior precisão e comportamento de qualidade superior.
O que não agradou Alberto não foi a simplificação, mas sim o ajuste. Segundo nosso consultor técnico o A3 peca no amortecimento excessivamente brando da traseira. Mesmo com apenas três adultos a bordo e sem bagagem, a traseira de acordo com Alberto “dá uma balançada a mais” quando passa por lombadas, o que não é adequado, mas tampouco um pecado feio.
“O A3 em versão hatch ou sedã, os A4 e aliás toda a linha Audi são carros que conheço bem. Percebi que nesse A3 nacionalizado houve a intenção de deixar as suspensões mais parecidas com a de seus teóricos concorrentes, as versões mais equipadas do Toyota Corolla e do Honda Civic. Continua sendo um típico Audi, com os elementos elásticos que isolam de maneira muito eficiente as suspensões do monobloco, mas a maciez excessiva especialmente da traseira para mim não seria necessária, preferiria amortecedores com carga levemente mais alta. Mais Audi.”
No restante do trajeto, elogios à sobriedade do interior, uma manifestação sobre a dificuldade de achar o melhor ajuste entre volante — regulável em altura e distância— e o banco, e uma crítica ao revestimento, o “couro” sintético, aos olhos de Trivellato inadequado para o padrão esperado por quem compra um Audi, mesmo este que custa entre 110 e 140 mil reais de acordo com os opcionais escolhidos entre os quais não há o couro verdadeiro.
A altura de rodagem é outro ponto destacado, e mesmo “forçando a barra” nem frente nem traseira são vítimas das entradas de garagem mais extremas, lombadas e demais obstáculos do pavimento. Se raspará algo, o mais comum é a ponteira dupla de escapamento.
Com o A3 no elevador, o “passeio” do olhar pela parte inferior do sedã revela capricho. Cuidado com a aerodinâmica fez com que praticamente toda parte de baixo deste Audi seja fechada por painéis de plástico. De fato, apenas a suspensão traseira e sistema de escapamento estão à vista e tudo parece muito bem organizado e montado com cuidado. As poucas marcas de contato com o solo confirmam a impressão destes mais de mil quilômetros de teste em uso variado e na traseira o eixo de torção tem, segundo Alberto, um desenho moderno que, aliás, é a tônica da estrutura deste A3.
De paquímetro na mão, nosso colaborador conferiu o diâmetro da mola helicoidal traseira em busca de informação sobre alteração — mesmo se mínimas – nos diâmetros da peça, suspeita não confirmada, pois a mola tem diâmetro uniforme. Ao observar o amortecedor, surpresa: Made in Germany. Seria esta peça importada pelo fato deste A3 ser um carro de primeira fornada (seu chassi tem numeração 00006…) ou efetivamente o componente virá de fora? Independentemente da resposta, o comentário do especialista é que a existência de componentes fabricados fora do Brasil não é uma exclusividade deste Audi. Mesmo carros que ocupam faixa de mercado inferiores em preço exibem partes trazidas do exterior, efeito direto da globalização.
A modernidade do projeto deste A3 se verifica, inclusive, pela compacidade do conjunto mola-amortecedor, pelo elaborado desenho do braço transversal de suspensão dianteira e, segundo Alberto, pelo diâmetro dos discos dianteiros serem muito semelhantes ao dos traseiros, que de acordo com nosso consultor é uma tendência atual, uma vez que em projetos mais antigos a diferença entre disco dianteiros e traseiros era mais marcante.
Antes de baixar o A3 do elevador o comentário é acerca da opção tipicamente “Grupo Volkswagen” de utilizar elementos elásticos — coxins, batentes — de diâmetro generoso proporcionando o citado isolamento de suspensões da estrutura do carro, o que favorece o conforto de marcha. É uma arte conciliar a necessária precisão à geometria de suspensões com esta opção técnica. Quanto menores ou mais rígidos tais elementos, menor alteração de geometria da suspensão diante de esforços e, consequentemente, maior rigor de rodagem, o que pode trazer desconforto.
No Audi A3 sedã a fórmula foi bem realizada, à exceção da suspensão traseira cuja pouca carga não agradou mas que pode ser entendida como uma opção para atender uma parcela de usuários preponderante. Aliás, o mesmo pode ser considerado face à opção de substituir o câmbio automatizado de dupla embreagem que é padrão em todos os A3 feitos planeta afora em favor do epicíclico Aisin nesta versão paranaense: clientes dos A3 importados reclamavam de ruído da caixa robotizada e assim houve a adequação. Particularmente, não julgo tais ruídos excessivos e nem me agrada o A3 “molenga” mas, como o Alberto, entendo a posição da engenharia brasileira em efetuar tais mudanças que — IMPORTANTE — não alteram de maneira nenhuma a boa essência deste carro.
A análise de Alberto Trivellato termina com a observação de detalhes de acabamento: capô, porta-malas e portas abertas, o olhar atento do consultor busca por soluções passíveis de crítica ou comentários especiais mas estes não são necessários. O padrão construtivo, mesmo sendo este um Audi dos mais acessíveis, segue o tom adotado nos mais caros modelos da marca. “Bobagens”como as dobradiças “pescoço de ganso” da tampa do porta-malas serem embutidas agradam os mais exigentes, assim como a tampa do estepe (temporário) ser de um material rígido e não a clássica chapa de fibra de madeira. Triângulo de segurança posicionado na face da tampa do porta-malas e o bem abrigado macaco dão conta de um cuidado construtivo que se estendeu a detalhes. Na frente o motor quatro-em-linha de 1,4 litro TFSI ocupa pouco espaço na área a ele destinada, denunciando que esta mesma carroceria recebe motorizações maiores.
Falando nele, no motor, é sem dúvida um ponto alto do A3. Animado sem ser exagerado, cumpre a tarefa de oferecer uma simbiose adequada entre desempenho e economia de combustível. Por razões alheias à minha vontade este período com o A3 não teve a tradicional viagem e assim o percurso urbano ocupou 83,4% dos trajetos, o que prejudicou a média final de consumo que pode parecer elevada: 6,4 km/l sendo que em 20% do período foi álcool alimentando o Audi.
Porém, mais que números, importante comentar que em regime de uso normal em cidade, marcas próximas dos 9/10 km/l usando gasolina e 7/8 km/l com álcool não exigem grande atenção com o acelerador. Apenas em determinadas situações percebi um certo retardo na resposta ao pedal da direita, o tal turbo lag. Na maioria das ocasiões é a vivacidade a se destacar, tanto pelo vigor do motor quanto pelo ajuste correto da caixa de câmbio.
Uma palavra elogiosa merece a estrutura do A3, rígida, e que nem mesmo nas malvadas valetas impostas seja por mim seja por Alberto fez as partes internas reclamarem ou que é um indício claro de que este Audi envelhecerá bem, sem que os painéis plásticos do acabamento interno comecem a atormentar os donos do modelo.
Aliás, falando em interior, gostaria de ver alguma ousadia a mais no que diz respeito à forração e acabamentos: no “monte o seu” da Audi este A3 pode vir com forração dos bancos em tecido ou “couro” sintético preto ou… preto! Lembrar que o talvez não tão pretensioso Jetta traz opções mais claras é curioso, pois no meu modo de entender, donos de Audi querem mais requinte/opções que os de Volkswagen, ou não?
Vídeo:
Seja como for, o Audi A3 Sedan feito em São José dos Pinhais, vizinho a Curitiba, me agradou. Seria um carro que me faria feliz pela competência técnica, pela sua natureza ao mesmo tempo essencial e requintada (espartano na realização do interior, elaborado no conteúdo tecnológico). Belo, harmonioso, nem grande nem pequeno, confortável e prático. Pensar nos concorrentes que conciliem estas qualidades é um exercício curioso. Talvez cheguem perto de alguns itens, talvez superem outros, mas, no conjunto, o Audi A3 é um rival praticamente imbatível no meu modo de entender.
RA
Leia os relatórios anteriores: 1ª semana – 2ª semana – 3ª semana
Audi A3 Sedan Ambiente 1,4 TFSI Flex tiptronic
Dias: 30
Quilometragem total: 1.341,6 km
Distância na cidade: 1.119,0 km (83,4%)
Distância na estrada: 222,6 (16,6%)
Consumo médio global: 6,4 km/l (79,8% gasolina/20,2% álcool)
Melhor média (gasolina): 14,9 km/l
Melhor média (álcool): 11,7 km/l
Pior média (gasolina): 5,9 km/l
Pior média (álcool): 4,1 km/l
Média horária: 19,3 km/h
Tempo ao volante: 69h20 minutos
Litros consumidos: 209,37
Custo: R$ 684,48
Custo do quilômetro rodado: R$ 0,51
FICHA TÉCNICA AUDI A3 SEDAN AMBIENTE 1,4 TSI TIPTRONIC FLEX | |
MOTOR | |
Tipo | Ignição por centelha, 4 tempos, flex |
Instalação | Dianteiro, transversal |
Material do bloco/cabeçote | Alumínio/alumínio |
N° de cilindros/configuração | 4 / em linha |
Diâmetro x curso | 74,5 x 80 mm |
Cilindrada | 1.395 cm³ |
Aspiração | Forçada por turbocompressor com interresfriador, pressão 0,8 bar |
Taxa de compressão | 10,5:1 |
Potência máxima | 150 cv de 4.500 a 5.500 rpm |
Torque máximo | 25,5 m·kgf de 1.500 a 4.000 rpm |
N° de válvulas por cilindro | 4 |
N° de comando de válvulas /localização | 2 / cabeçote, com variador de fase de admissão e escapamento, corrente |
Formação de mistura | Injeção direta Bosch MED |
ALIMENTAÇÃO | |
Combustível | Gasolina e/ou álcool |
SISTEMA ELÉTRICO | |
Tensão | 12 V |
Gerador | Alternador 140 A |
Capacidade da bateria | 59 A·h |
TRANSMISSÃO | |
Rodas motrizes | Dianteiras |
Câmbio | Automático epicíclico Tiptronic |
N° de marchas | 6 à frente e uma à ré |
Relações das marchas | 1ª. 4,670:1; 2ª. 2,530:1; 3ª. 1,556:1; 4ª.1,130:1; 5ª. 0,859; 6ª 0,686; ré 3,185 |
Relação de diferencial | 3,683:1 |
FREIOS | |
De serviço | Hidráulico, duplo circuito em diagonal, servoassistido, ABS com EBD |
Dianteiro | Disco ventilado Ø 288 mm |
Traseiro | Ø 272 mm |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, McPherson com subchassi, braço triangular, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora |
Traseira | Eixo de torção, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora incorporada ao eixo |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira, assistência elétrica indexada à velocidade |
Diâmetro mínimo de curva | 10,9 m |
Relação de direção | 15,3:1 |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Alumínio 7,5J x 17 |
Pneus | 225/45R17W |
PESOS | |
Em ordem de marcha | 1.240 kg |
Carga máxima | n.d. |
CARROCERIA | |
Tipo | Monobloco em aço, sedã 4 portas, 5 lugares |
DIMENSÕES EXTERNAS | |
Comprimento | 4.456 mm |
Largura sem espelhos | 1.796 mm |
Altura | 1.416 mm |
Distância entre eixos | 2.637 mm |
Bitola dianteira/traseira | 1.555/ 1.526 mm |
AERODINÂMICA | |
Coeficiente de arrasto (Cx) | 0,30 |
Área frontal (A) | 2,12 m² |
Área frontal corrigida (Cx x A) | 0,636 m² |
CAPACIDADES | |
Porta-malas conforme VDA | 425 litros |
Tanque de combustível | 50 litros |
DESEMPENHO | |
Velocidade máxima | 215 km/h (G e A) |
Aceleração 0-100 km | 8,8 s (G e A) |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL INMETRO/PBEV | |
Cidade | 11,7 km/l (G) e 7,8 km/l (A) |
Estrada | 14,2 km/l (G) e 9,9 km/l (A) |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em 6ª | 47,4 km/h |
Rotação do motor a 120 km/h em 6ª | 2.500 rpm |
Rotação do motor à vel. máxima 6ª | 4.500 rpm |