Salão Internacional do Automóvel de São Paulo é evento marcante, bienal, e integrando o circuito mundial de exposições para apresentar novidades, posições de marcas, carros-conceitos, sinalizar caminhos para o futuro — ou para a falta de, dependendo de situações específicas ou do momento de cada país ou continente.
No momento ocorre em São Paulo e irá até dia 20 — é 29ª edição. Iniciou-se anualmente em 1960 no Parque do Ibirapuera; passou a bianual, mudou-se ao Anhembi em 1970. Agora, novo CEP. Deixou espaço estatal, mal planejado, mal mantido, sem ar-condicionado, banheiros de mau desenho, construção e funcionamento, para área nova, a São Paulo Expo. Maior, perto de uma estação do Metrô, 4.500 vagas cobertas para estacionamento. Operacionalmente maioria dos estandes sem degraus, mas com rampas suaves, facilitando deslocamento de pessoas com dificuldade e cadeiras de rodas, banheiros utilizáveis com conforto. Deficiências há: subdimensionamento elétrico, com queda de iluminação e energia, com apagões em diversas áreas, e opções: ou ar-condicionado ou iluminação. À apresentação da Peugeot, faltou luz — e a demora atropelou o cronograma para as demais marcas. Na área da Volkswagen, fez perder o conteúdo das geladeiras, e à volta, num pico de potência, queimou equipamentos.
Ante o risco da falta de ar-condicionado, prefira ir em horários de menor densidade de público. Vá com paciência: chegada ao prédio é subdimensionada ao fluxo de veículos.
Caminho
Salão sinaliza futuro: carros serão híbridos combustão-elétricos, como exibido por quase todas as marcas, e ênfase para ações comerciais. Num exemplo, surpresa com a demanda cinco vezes superior à projeção, Toyota renegociou volumes de importações e trará o novo Prius. Miguel Fonseca, vice-presidente Comercial no Brasil, quer ter na Lexus, marca de luxo e qualidade superior da Toyota, o maior índice de híbridos, hoje em 32%. Fez apresentação chique, à altura do carro, e exibiu o plasticamente atraente Conceito LC 500 (foto de abertura), cupê mesclando entusiasmo e elegância. Vendas nos EUA em 2017 a projetados US$ 100 mil. Marca no Brasil se estruturou para garantir reposição integral à frota e aumentou a garantia da parte híbrida, incluindo baterias, para recordistas oito anos.
Festa francesa
Área do São Paulo Expo é de empresa francesa, e as fabricantes de idêntica origem marcaram presença. Renault, maior novidadeira da mostra, apontou novo caminho para o Brasil: utilitários esportivos. Produzirá o pequeno Kwid; já produz o médio Captur; importará o Koleos, de maior porte; manterá em produção o Duster e o Sandero Stepway, elevado do solo e visualmente enquadrado no gabarito visual dos SUV. E mudará motores: 1,0, 3 cilindros; 1,6, quadricilíndrico.
Peugeot mostrou configurações para reagir em vendas, em especial 208 e 2008, além do novo 3008 de estética evoluída de crossover a SUV. Citroën, na falta de novidades, fez criativo e confortável estande, mostrou conceitos de factível produção e sistema de vendas diretas de carros pela internet. Serão as versões Smart, com equipamentos, garantia de assistência, preço incentivado.
Alemães
Mercedes ampliará negócios com produtos importados, a partir do Classe S Cabriolet — a linha mais cara; no extremo versão conversível na Classe C; e SLC 300, SL 400 e C250 Coupé Sport. Dentre os produtos de atitude GLC, GLE Coupé, Classe G e GLS; versões AMG e o topo Mercedes-Maybach, pico do luxo e refinamento.
BMW mantém investimentos em conectividade; fomenta os híbridos elétricos i3 e i8. Produto para destacar-se é o M2, cupê com o bem elaborado motor de 6 cilindros em linha, 3 litros de cilindrada e 370 cv. Vendas em 2018. Disponibiliza séries 3 e X3 blindados.
Audi em leque amplo de produtos, composições, cilindradas, topo volta a ser o esportivo R8. Automóvel foi lançado há dois anos na Europa, e demora se deve à espera para limpar o pátio de estoque antigo. Apresentado pela atriz Iris Valverde, motor V-10 faz 610 cv e 57,1 m·kgf. Vai de 0 a 100 km/h em 3,3 s. Por R$ 1.171.000
Porsche – novidade maior, marca ser gerida por escritório da fábrica — como a Coluna antecipou há dois anos — e como tal ter crescido 37% de vendas entre janeiro e outubro, contrariando mercado em queda. Em produto novo Cayenne — o SUV — S E Hybrid. Motor pequeno, V-6 3,0 turbo, 333 cv e motor elétrico de 95 cv. R$ 432 mil. Totalmente novo o sedã Panamera, também híbrido.
Matthias Brüch, presidente, festejou.
Volkswagen aplicou confortos eletrônicos em Gol, Fox e Golf, iniciou importar a Golf Variant, Tiguan 1,4. Na linha comercial. Bloqueio eletrônico de diferencial e ABS Off-Road para Saveiro Cross. Mostrou o Amarok com motor V-6 3,0 diesel, a ser vendido em julho. Linha passou por atualização interna e externa.
Japoneses
Honda centrou atenções no WR-V, criado por trabalho estético de mudança de frente e traseira do Fit, mexida no conteúdo, abriu espaço para ser novo produto, com preço entre Fit e HR-V. Projeto nacional.
Queda de vendas e necessidade de dispensa de pessoal, violando o código da empresa, não impediram a HPE de fabricar o novo picape Triton L200, lançado com a boa campanha “Casca grossa”. E de aplicar ao ASX a mudança estética apresentada na Europa, uma grade automobilística. Motor 2,0 e 160 cv, flex, caixa manual ou automática CVT, tração em duas ou quatro rodas. Preços entre R$ 98 mil e R$ 128 mil.
Nissan apresentou novo picape. Tra-lo-á do México até produção na Argentina próximo ano. É a base para produto tripartite, Nissan, Renault e Mercedes. Anunciou ajustar máquinas e mão de obra para fabricação local do Kicks.
Subaru fez atualização estética em toda a linha e, segundo Antônio Maciel Neto, presidente executivo, estoque antigo acaba até dezembro.
Suzuki vem fazendo revolução interna, métodos e materiais para reduzir peso, favorecer consumo e emissões. Neste arranjo o Vitara sempre o maior produto da linha, foi reduzido em dimensões e preço, ficando abaixo do S-Cross, agora no topo. Motorizações 1,6 aspirado, 126 cv e 1,4 turbo. Produto de entrada, o Jimny exibiu protótipo de versão Canvas, espécie de targa com teto de lona. Montagem em Catalão travou operação industrial em Itumbiara, GO.
Outros olhos puxados
Coreanos
Hyundai implementou o ix35, substituindo o reservatório de gasolina para a partida a frio; e iniciou produzir o New Tucson, ao lado do Old Tucson. Marca assusta o mercado brasileiro. Fez pesquisa, adaptou o produto e se tornou o mais vendido. Pouco depois apresenta o SUV Creta, fará sedã e avisa tem pronto um picape, o STC – Sport Truck Concept.
Kia tenta sobreviver com o saldo do corte de faturamento. Tinha grandes esperanças no médio Rio, mas o projeto de fornecimento pela fábrica no México foi adiado. Tentará sobreviver com Sportage, Cerato, Cadenza e Soul.
Chineses
Da ampla lista de chineses chegantes, apenas duas marcas foram ao Salão. Chery mostrou nova linha, prometendo colocar o crossover Tiggo 2 em produção no primeiro trimestre do ano. E anunciou plano de convivência com o sindicato de metalúrgicos de Jacareí, SP: importará o bem conformado sedã Arizzo 5, mantendo fábrica parada por falta de entendimento.
Lifan insistirá no crossover X60, chinês mais vendido no Brasil, melhorado em design e decoração interna, e agora portando caixa automática CVT; e no pequeno picape Foison, ambos montados no Uruguai.
Ingleses
Range Rover, além dos modelos Discovery e SVAutobiography , expôs o Evoque conversível. Dividiu estande com Jaguar, mostrando o F-Type SVR.
Ítalo-mundiais
Fiat+Chrysler em mundos separados. Fiat com ênfase em novos motores, o 1,0 tricilíndrico Firefly já aplicado ao Uno e chegando ao Mobi, e engenho de 2,4 litros e 170 cv para o sucesso de vendas Toro. Apresentou unidade do revivido Fiat 124, marcado pelo capô com duas protuberâncias. Deve importar uma partida para alegrar revendedores preocupados com o vigoroso corte de produtos realizado neste ano.
Chrysler exibiu o multiuso Pacifica; Dodge iniciará importar do México picape RAM 1500. Porte pouco superior à Toyota Hilux líder do segmento, motor diesel V-6, 243 cv, e instigou exibindo o Challenger Hellcat, com surpreendentes 717 cv de potência, sem expectativa de importação.
Jeep exibiu a grande público o Compass, SUV com pretensões a ser o mais vendido da marca, e o Renegade em nova versão Limited.
Maserati espera participar do mercado dos SUV ultraplus com o Levante. Motor V-6, 350 cv e 430 cv, duas versões, Luxury e Sport, concorrerá com Porsche Cayenne.
Americanos
GM em novidade expôs versão hatch do Cruze.
Ford, revisão estética do Ecosport, e o anúncio de importação do Mustang.
Nacional
Única marca com este rótulo, a Troller equipou seu jipe e criou versões fugazes. Câmbio automático, demandadompelos clientes, foi adiado dois anos.
Candidata a viabilizar-se como indústria e marca, a D2DMotors levou bugue e utilitário com capota. Perdeu oportunidade de divulgá-los à imprensa chegando após horário para os profissionais e sem levar material informativo.
Empresa receberá incentivos do governo do Espírito Santo para construir fábrica no município de Jaguaré, a 160 km ao norte de Vitória.
Mecânica, diz-se chinesa, L-4, 1,5 litro, 110 cv. Bugue Sky, tratado como carro esportivo, e o pequeno picape com capota Jugo, custarão em torno de R$ 65.000. Dentre as parcas informações, produção teria iniciado em São Bernardo do Campo, SP, num galpão da Arteb, empresa de autopeças da família.
Outros olhos
Das marcas topo em preço, Lamborghini expôs unidade em área de produtos caros, mas Ferrari, Bentley, Aston Martin e Rolls-Royce não apareceram. Em linha oposta em valores, a renca de chineses em vai-e-vem no mercado, também disse ausente, exceto Lifan e Chery. Cara da Kia no Brasil, José Luiz Gandini buscou apoio da imprensa para postular. Carros importados pagam, além do teto máximo de imposto de importação, 35%, outros trinta pontos porcentuais sobre o IPI. Na prática os retira do mercado. Kia importou 80 mil unidades em 2011 e venderá 10 mil neste ano, destroçando a rede de distribuição e empregos. Quer remoção pelo governo da terceira barreira contra a importação — primeira o dólar, segunda a imposto de importação, terceira o adicional de 30 pontos. E começar pela redistribuição da cota não cumprida de importações.
País protege a incompetência com regras e Custo Brasil colocando dificuldades para presença dos concorrentes importados. Manifesto aparentemente iniciou dar frutos. Gandini teve longa conversa com Margarete de sobrenome idêntico, encarregada do setor no Ministério do Desenvolvimento.
Outra referência para o mercado brasileiro, após o Salão haverá exigência de SUVs em dois tons. Quase todos se mostraram assim. Dado maior, todas as novidades em motor, atualização de tecnologias, aplicação de turbo, se devem a posição do Governo. Base está nas regras de consumo aferidas e definidas pelo Programa Brasileio de Etiquetagem Veicular do Inmetro.
Dado final, o presidente Temer desconfirmou presença e o Governador Geraldo Alkcmin, do estado anfitrião, não foi.
Mercedes cria o X-Class, picape premium
Cento e trinta anos após a criação do Benz Patent-Motorwagen por Karl Benz, a Mercedes-Benz repete seu pioneirismo ao apresentar o conceito básico de seu futuro picape, o X-Class. Teve preocupação ao formulá-lo esteticamente para mesclar conceitos. Somou a noção de picape visto como veículo forte, resistente, apto a andar em todos os caminhos, com a imagem dos Mercedes-Benz, universalmente saudados por design, habitabilidade, condução agradável, precisa, e segurança. Da mescla criou o conceito de picape Premium. Na prática a capacidade de transportar uma tonelada de carga — como exigido para o uso de motor a diesel —, e levar os passageiros em conforto de carro familiar; deslocar-se pelas vias urbanas. Produção se inicia com cabine dupla.
Em termos de demonstrações da miscela de conceitos, por si só o X-Class é exemplo: ele deriva da soma de conhecimentos de três marcas: Nissan, autora deste tipo de veículos há 80 anos; Renault, que os produziu ao início dos anos ’50; e Mercedes, de experiência argentina com modelos baseados em automóveis. Daimler, dona da marca Mercedes, e Nissan, têm acordo de cooperação técnica e industrial. Renault é associada à japonesa.
A estrutura básica é chassi em escada Nissan, sobre ela aplicada a mecânica liderada por motor V-6 diesel tração integral permanente, os ajustes desenvolvidos pela Mercedes, e carroceria própria. Integrando recém-criada divisão Mercedes-Benz Vans, busca, inicialmente, amplo mercado: África do Sul, América do Sul, Austrália, Europa. Produção em Espanha e Argentina.
O X-Class preenche nicho de produtos antes não alcançado pela Mercedes-Benz, e é outro passo de coragem da administração do Dr. Dieter Zetsche, presidente do Conselho de Administração da Daimler e diretor da Mercedes-Benz automóveis.
RN